Ex-sócio da Petrobras em Pasadena é o ‘Warren Buffett’ da Europa
Empresário belga Albert Frère tem fortuna avaliada em cerca de 5 bilhões de dólares e é um dos maiores investidores do mundo no setor de óleo e gás
Se a compra da refinaria de Pasadena resultou num prejuízo de, no mínimo, 1,18 bilhão de dólares para a Petrobras, a outra ponta do negócio não teve motivos para reclamar. A jogada do grupo belga Astra Transcor, que lucrou 1 590% sobre o investimento de 42 milhões de dólares feito na empresa, ajudou a ampliar ainda mais o (já extenso) patrimônio de seu controlador, o bilionário Albert Frère. A holding que comanda os investimentos de Frère, Compagnie Nationalle à Portefeuille (CNP), tinha um valor de mercado de cerca de 7 bilhões de dólares em 2011, quando saiu da bolsa de valores. A fortuna pessoal do empresário é avaliada em 4,9 bilhões de dólares pela Forbes, o que o transforma no homem mais rico da Bélgica e um dos mais ricos da Europa.
Aos 88 anos, Frère é uma espécie de ‘Warren Buffett’ europeu. Assumiu os negócios da família aos 17 anos, após perder o pai durante a II Guerra Mundial. Sem nem ao menos terminar os estudos, transformou o pequeno empreendimento de sucatas numa grande empresa de investimentos em aço, na década de 1960. Nos anos 1970, quando o governo belga resolveu nacionalizar o setor, Frère era dono de metade da produção de aço do país. Ao vender tudo ao estado, ficou milionário. É chamado de Warren Buffett pelo estilo de investimentos. Frère não entra na gestão das empresas e escolhe apenas setores que apresentem boas oportunidades no longo prazo. Não à toa, é acionista das maiores empresas de energia do mundo, como a GDF, a Total e a Iberdrola. Segundo a Forbes, o patrimônio do magnata belga cresceu 3 bilhões de dólares na última década.
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O ano de 2006, em que a Petrobras arrematou 50% da refinaria de Pasadena da empresa de Frère por 360 milhões de dólares, foi especialmente agitado nos negócios. Ele foi protagonista na fusão entre a GDF e a Suez, ambas gigantes do setor de energia, e tornou-se o maior acionista individual do grupo Lafarge, que fabrica cimento. Frère também adquiriu participação na empresa Eiffage, de construção civil. Além disso, cogitou a compra da marca de champanhe francesa Taittinger. O setor de bebidas, aliás, também está entre seus preferidos. Tem participação na Pernod Ricard e é dono, junto com Bernard Arnault, da LVMH, da vinícola que fabrica o vinho Cheval Blanc, na região de Bordeaux.
As semelhanças com Buffett param quando se trata de comunicação. Enquanto o bilionário de Omaha usa até mesmo o Twitter para interagir com os demais, Frére vive num vilarejo no sul da Bélgica, não dá entrevistas, não aparece em programas de TV e tampouco circula em eventos muito badalados. Quando viaja, vai a Paris passar temporadas em seu apartamento na Avenue Foch e visitar seus cavalos no Jockey, em Longchamps. Suas declarações sobre os negócios se resumiam a poucas palavras durante as divulgações de resultados da CNP, quando a empresa estava listada em bolsa. Curiosamente, assim que o imbróglio com a Petrobras foi solucionado, Frère teria decidido recomprar, junto com o banco BNP Paribas, do qual também é acionista, todas as ações da CNP e fechar seu capital. Ele estava, afinal de contas, muito capitalizado.
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Sobre o litígio com a Petrobras, o empresário jamais se pronunciou publicamente. Contudo, a imprensa belga, citando fontes ligadas a ele, afirmou que o grupo estava desapontado porque a estatal não havia se esforçado para cumprir os termos do acordo de acionistas. Entre eles está o fornecimento de petróleo bruto para ser refinado em Pasadena a um preço que permitiria à companhia um retorno líquido de 6,9%. Contudo, a estatal jamais teria conseguido chegar ao preço que seria atrativo aos olhos dos belgas. Além disso, o grupo alegara que a Petrobras não havia feito os investimentos necessários para posicionar a refinaria dentro das normas anti-poluição dos Estados Unidos. Em balanço publicado no início de 2006, ano da compra, a CNP afirmou ao mercado que a estatal brasileira seria responsável por todos os investimentos em Pasadena – o que, segundo a companhia, jamais ocorreu. A Petrobras tampouco divulga os valores investidos na refinaria americana.
Apesar da idade avançada, o empresário parece não vislumbrar a aposentadoria. Foi nomeado Barão pela monarquia belga em 1994 e poderia usufruir sua velhice nos melhores refúgios da Europa. Em vez disso, segue uma rotina estrita de trabalho na própria casa e não delegou todas as funções da empresa aos filhos Gérald e Segolène. Mas, segundo consta, nenhum dos herdeiros tem a veia para os negócios como o pai. Os ganhos astronômicos com uma refinaria velha e obsoleta no Texas são prova disso.