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Setor de tecnologia agita o mercado de balcão nos EUA

Negócios com ações de empresas famosas, como as do Facebook, prosperam no mercado americano – longe do regulado ambiente das bolsas de valores (veja quadro)

Por Derick Almeida
12 jun 2011, 10h27

A expressão “mercado de balcão” não é novidade para os grandes investidores dos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, contudo, o termo deixou de se restringir a publicações especializadas para frequentar as páginas dos principais jornais, revistas e portais de internet. Tudo porque este ambiente de negócios – que engloba operações de compra e venda de ações de empresas que não possuem capital aberto em bolsa – mudou de patamar. Com movimentação prevista de 7 bilhões de dólares para o fechamento do ano, quase 200% a mais que em 2009 (veja quadro), o “balcão” está em franca expansão nos EUA. As principais responsáveis são as transações com papéis de companhias estelares do universo da tecnologia, como Facebook, Twitter e Zynga. As estimativas de valor a que chegaram essas companhias – como o próprio Facebook, a rede social de Mark Zuckerberg, hoje cotado em cerca de 100 bilhões de dólares – começaram a levantar desconfianças de que uma ‘bolha’ estaria em formação neste mercado. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA, no entanto, refutam essa tese.

No Brasil, o mercado secundário ainda não se tornou uma alternativa disseminada e rentável. Isso porque os empresários brasileiros, diferentemente dos americanos, não têm o hábito de dividir a participação no capital de suas empresas com seus funcionários. “As empresas americanas, a fim de reterem os talentos egressos das universidades, oferecem planos de ações. Assim, o funcionário que fica, no mínimo, entre três e quatro anos na companhia pode, por exemplo, receber um porcentual em ações após sua saída. É uma espécie de prêmio para o funcionário, já que, quando estão no início de seus negócios, elas não podem arcar com salários elevados”, explica Paulo Humberg, especialista em operações de riscos nos mercados privados e presidente da BrandsClub.

Graças a ações de ex-funcionários de empresas do Vale do Silício, na Califórnia, como Facebook, Twitter, Zynga, Groupon, Foursquare, entre outras; o mercado secundário americano gira bilhões de dólares na atualidade. Se, poucos anos atrás, essas empresas não passavam de organizações jovens e amadoras, neste momento elas valem muito. O que espanta é o ritmo deste crescimento. Em oito meses, o valor projetado pelo mercado para a rede social mais popular do mundo saltou de 34 bilhões de dólares para 100 bilhões de dólares. Em um ano, o valor estimado do Groupon – site de compras coletivas – passou de 1,3 bilhão de dólares para 15 bilhões de dólares.

Oportunidades – Como tudo nos Estados Unidos tende a gerar oportunidade de negócio, empresários locais movimentaram-se rapidamente para criar operadoras para intermediar a compra e a venda de ações neste mercado secundário. Uma destas empresas é a SecondMarket. Fundada no final de 2004 pelo investidor americano Barry Silbert, a empresa, que opera tanto na internet quanto fora dela, já contabilizou 600 milhões de dólares em transações desde 2009; sendo que 115 milhões de dólares foram movimentados somente no primeiro trimestre de 2011. O negócio, que começou com papéis de empresas de diversos setores, logo se voltou a ações de tecnologia.

“Na virada de 2007 para 2008, um ex-funcionário do Facebook nos contatou e perguntou se poderíamos vender as ações que detinha da empresa a outros investidores. Nunca tínhamos feito isso”, revela Aishwarya Iyer, porta-voz da SecondMarket. O executivo revela que técnicos da empresa, após estudarem profundamente este mercado, concluíram que as companhias de tecnologia podem levar até dez anos para abril capital. Logo, tais papéis deverão ser negociados, ainda por longo período, de forma privada – o que, para a SecondMarket, representa ótimas perspectivas de negócio.

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Riscos – Antes de correr ao computador – o mercado de balcão é quase todo movimentado pela internet – com o sonho de comprar nem que seja uma ação do Facebook, vale lembrar que os riscos destas operações são altíssimos. A explicação é que neste mercado – como as companhias têm capital fechado e não precisam divulgar balanços periódicos sobre suas finanças – há muita ‘assimetria de informação’. Em outras palavras, dados confiáveis sobre elas não circulam de forma rápida e transparente. Um investidor precavido nunca toma a decisão de adquirir ou vender um ativo só porque a empresa emissora é famosa ou porque os jornais dizem que ela fatura muito. É preciso ter conhecimento profundo de seus principais dados financeiros para traçar projeções e fazer apostas. Só então, toma-se a decisão.

Mais uma vez, os americanos enxergaram neste ‘abismo’ de informação uma oportunidade de ganhar dinheiro. A gestora de recursos e consultoria Greencrest Capital, de Nova York, por exemplo, especializou-se em suprir seus clientes de informações sobre corporações que não têm ações nas bolsas de valores. “A principal característica do trabalho que faço está relacionada à pesquisa do histórico e balanço financeiro das empresas que têm ações no mercado privado. Desta maneira, abastecemos o mercado secundário com informações confiáveis; tentamos construir uma relação de confiança entre empresas e investidores”, explica Max Wolff, economista da Greencrest.

Grupo seleto de investidores – Essas preciosas informações, logicamente, custam caro. Este é um mercado, contudo, que está mesmo longe de ser acessível ao cidadão comum. A comissão de valores mobiliários americana (SEC, na sigla em inglês) estabelece que, para atuar neste segmento, o investidor tem de comprovar, no mínimo, um salário anual de 200.000 dólares durante três anos ou 1 milhão de dólares em propriedades, excluindo sua própria residência. A SEC, a despeito desta exigência, não regula de perto as transações neste mercado, como faz nas bolsas.

Bolha distante – O fato de o mercado de balcão ser ainda bastante restrito é o principal argumento apontado por especialistas para refutar a tese de que haveria nela uma ‘bolha’ em formação. “Quem compra ações neste mercado são pessoas muito profissionais. Se algo der errado, ele saberá o porquê. Eu não assemelharia, em hipótese alguma, esta valorização das empresas no mercado secundário ao aumento do preço das hipotecas antes da recessão mundial”, esclarece Humberg.

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A movimentação prevista para 2011 no ‘balcão’ nos EUA, de 7 bilhões de dólares, segundo a consultoria americana Nyppex Holdings LLC, está muito aquém da movimentação das bolsas americanas, que é contada aos trilhões de dólares. Além disso, o recente fenômeno do aquecimento deste mercado carece de um elemento fundamental da ‘bolha clássica’: o “efeito manada”. Como os investidores a operar neste ambiente são poucos e qualificados, acredita-se que o ‘balcão’ dificilmente atingirá o nível de irracionalidade que, vez ou outra, se abate sobre os mercados de massa.

Por outro lado, é inegável que as cifras vultosas vistas no mercado secundário têm ajudado a dar fôlego às estimativas de valor de algumas empresas dos EUA, principalmente, as envolvidas com mídias sociais. Outro fator a impulsionar as projeções é a entrada de grandes bancos e fundos de private equity no negócio. O Goldman Sachs, um dos maiores bancos de investimentos americano, por exemplo, negociou diretamente com o Facebook a entrada de 450 milhões de dólares em seu capital, provenientes de investidores espalhados pelo mundo – inclusive, brasileiros.

Razões para não se apostar numa bolha neste setor existem, o que não quer dizer que o clima de alerta desaparecerá. Leigos no assunto, toda vez que se depararem com cifras astronômicas, começarão a se questionar se não há alguma coisa errada. E os exemplos continuarão a ser variados. Recentemente, o site de relacionamento corporativo LinkedIn foi a primeira das grandes empresas da internet a abrir capital na bolsa. Tão logo foi a público, suas ações, cotadas inicialmente em 45 dólares, fecharam o primeiro dia de pregão em 94,25 dólares (valorização de mais de 100%). A arrecadação chegou a 9 bilhões de dólares, algo que nem a direção da companhia imaginava atingir. A desenvolvedora de jogos Zynga é a próxima da lista e a expectativa é por muitos e muitos cifrões também.

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