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Uma fábrica de carros peculiar, para clientes peculiares

O sucesso dos exclusivos carros da Bristol em plena crise financeira mundial

Por The New York Times
2 out 2010, 09h58

Os compradores, assim como os carros, costumam ser excêntricos, com um fraco para o peculiar e o exclusivo – juntamente com um pouco de dinheiro, também. Os modelos top de linha, como o Fighter T, custam 564 mil dólares.

Para certo tipo de empresa, recessões podem ser algo fora de lugar. No escritório de Toby Silverton, de 52 anos, o proprietário da fabricante britânica de automóveis de luxo Bristol, há uma foto de uma cliente sorridente, de pé ao lado de seu carro Bristol 603 de 30 anos de idade. Silverton conta como ela comprou o carro de segunda mão quatro anos atrás sem saber que o dono anterior era Bono, o vocalista da banda de rock U2.

Na ocasião do 64° aniversário da marca, os carros da Bristol foram expostos no Aeroporto Filton na cidade de Bristol, na Inglaterra
Na ocasião do 64° aniversário da marca, os carros da Bristol foram expostos no Aeroporto Filton na cidade de Bristol, na Inglaterra (VEJA)

Quando ela descobriu o passado de celebridade do carro, chamou Silverton para perguntar por que não havia lhe contado, pois pagaria mais caro com gosto. (Silverton se negou a dizer o preço, mas a companhia disse que um carro similar custa cerca de 55 mil dólares ao câmbio atual.)

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“Disse a ela que não somos esse tipo de empresa”, disse Silverton.

Veja galeria com imagens de vários modelos

Ao contrário de muitos de seus rivais de carros de luxo, a Bristol não foi muito afetada pela crise financeira. Muitos fabricantes de automóveis lutaram contra a queda das vendas nos últimos dois anos, mas a Bristol relatou uma crescimento – ainda que seus modelos top de linha custem meio milhão de dólares. “Todos com quem falo na indústria dizem que caíram 20% a 30%. Nossas vendas subiram 25% desde o início de 2008”, disse Silverton.

É claro que 25% é um conceito relativo. A Bristol espera vender talvez 150 de seus carros fabricados a mão este ano. A empresa, um dos últimos fabricantes independentes do mundo, tem uma força de trabalho de cerca de cem pessoas. Há apenas um ponto de venda, no bairro londrino de Kensington.

Silverton, de familia rica e que antes dirigiu sua própria empresa de venda de peças de aeronaves, disse que a Bristol é rentável, mas não quis entrar em detalhes.

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Os compradores, assim como os carros, costumam ser excêntricos, com um fraco para o peculiar e o exclusivo – juntamente com um pouco de dinheiro, também. Os modelos top de linha, como o Fighter T, custam 564 mil dólares.

Compare isso com os 345 mil dólares do carro mais caro da Bentley, outra marca de luxo britânica, cuja dona é a Volkswagen. A Bentley disse que suas vendas caíram 48%, para 4 005 carros, no ano passado.

Apesar de seus preços, os carros da Bristol não são ostentatórios, o que parece ser parte de seu charme. Muitos modelos parecem simples, desalinhados e mesmo à moda antiga, mas os clientes são atraídos pelo design discreto, o artesanato e a atenção aos detalhes – como as tampas de combustível dos dois lados do carro.

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Para muitos proprietários, os Bristol são como um terno sob medida – os clientes podem escolher a cor do tapete e o desenho dos assentos. O estilista britânico Paul Smith dirige um Bristol de 55 anos modelo 405 Saloon para ir ao trabalho diariamente. Richard Branson tem um Bristol, assim como o rei Hussein, da Jordânia.

Turplin Dixon, um engenheiro ferroviário em Londres, comprou um Bristol 603 de quinze anos de idade depois de vender um outro Bristol que herdou do tio. “Quando eu tinha 13 anos achava que eram carros muitos feios”, disse Dixon, de 58 anos. “Mas agora gosto deles por serem exclusivos, especiais e únicos.”

Paul Newton, analista da IHS Global Insight em Londres, disse: “A Bristol é uma espécie de anomalia da indústria automobilística, devido à natureza extremamente peculiar de seus carros.” Isso pode ser porque, segundo ele, a empresa prosperou durante a crise econômica. “Muitas pessoas que compram um Bristol são ricos há muito tempo, e realmente não foram afetados”, disse Newton.

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Silverton diz que a procura constante de carros Bristol durante a recessão o pegou de supresa. A carteira de pedidos foi estendida de três para dezoito meses. Ele atribui a exuberância da empresa a uma série de fatores, incluindo os gastos operacionais baixos. O único show-room em Londres segue tendo os mesmos escritórios com painéis de madeira, bandeiras britânicas banhadas pelo Sol e mobiliário dos anos 60, como quando abriu, há 50 anos. Não há computadores. Os registros dos clientes são mantidos em um armário no porão.

Há pouca rotatividade entre os funcionários. Syd Lovesy, que dirige a fábrica da Bristol, fará 91 anos em novembro. “As pessoas duram para sempre aqui”, brincou Silverton. “Eles são construídos da mesma forma que os carros que fabricam.”

Um erro dos grandes fabricantes, disse Silverton, foi aumentar o pessoal para atender a demanda crescente de quando a economia estava crescendo, apenas para serem apanhados com muita gordura quando a crise chegou. “Só faremos tantos carros quanto possamos vender em um ano ruim”, disse.

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A Bristol, em homenagem à cidade britânica onde os carros ainda são fabricados, tem suas origens na British and Colonial Aeroplane Company, fundada em 1910. No final da Segunda Guerra Mundial, quando seu principal avião de guerra, o Beaufighter, foi usado pela Royal Air Force, a empresa tinha 40 mil funcionários. O fim da guerra obrigou a empresa a se diversificar e a Bristol foi fundada em 1946.

Silverton comprou 50% da Bristol em 1997 e a outra metade um ano depois. A empresa ainda é orgulhosa de ter suas raízes na engenharia de aviação, como é evidente na linha do modelo com o nome de Beaufighter, assim como o Blenheim, um bombardeiro da Segunda Guerra.

Ao longo dos anos, disse Silverton, a Bristol rejeitou ofertas de aquisição. Outras marcas de luxo britânicas, como Bentley, Aston Martin, Rolls-Royce e Jaguar foram engolidas por multinacionais estrangeiras. Mas as ofertas continuam a pingar, disse ele. Sua equipe tem uma piada de que há mais interessados em comprar a empresa do que seus carros.

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