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Um gigante acuado: as dificuldades da Odebrecht para se manter de pé

Sucessão de problemas dificulta os planos de salvação de um conglomerado com uma dívida bilionária e dificuldade para conseguir obras

Por Josette Goulart Atualizado em 4 dez 2020, 08h48 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00

Más notícias costumam andar juntas, principalmente na Odebrecht, o colosso da construção civil e petroquímica, protagonista do maior esquema de corrupção já visto no país. Além de enfrentar dificuldades para encontrar um nome no mercado que aceite ser o quarto presidente do conglomerado desde 2015, a empresa sofreu nos últimos dias uma derrota no Tribunal de Justiça de São Paulo, onde tenta impedir que o fundo abutre americano Lone Star assuma o controle da Atvos, sua companhia sucroalcooleira. Na quarta-­feira 2, o grupo sofreu um novo golpe, esse vindo do exterior. A fábrica de polietileno que a Braskem, a joia da coroa do conglomerado, mantém no México precisou paralisar as operações depois que o governo do país cancelou o fornecimento de gás natural à companhia. “É um contrato com a Odebrecht, famosa por extorsões e corrupção. Não haverá gás natural para a empresa porque o contrato venceu, e não será renovado”, declarou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador. A Braskem chegou a valer 48 bilhões de reais há dois anos, mas perdeu 30 bilhões de reais de valor de mercado. Isso tem adiado a estratégia de salvação do grupo: vendê-­la com um valor suficiente que pague os credores e sobre dinheiro para resgatar a empresa que deu origem ao grupo, a Construtora Norberto Odebrecht, rebatizada Odebrecht Engenharia e Construção (OEC).

O grande desafio da OEC é sobreviver por conta própria. A companhia fechou há cinco meses um acordo com seus credores, mas mesmo assim ainda tem uma dívida de 7,2 bilhões de reais. No segundo trimestre a receita gerada pela OEC não só tem sido insuficiente para cobrir as contas como deve fazê-la perder o posto de maior empreiteira do Brasil. No seu auge, a OEC chegou a faturar quase 60 bilhões de reais — mais da metade disso em obras no exterior. No ano passado, foram pouco mais de 5 bilhões de reais e, em 2020, fontes próximas da companhia estimam que a receita deve ficar em torno de 3 bilhões de reais. A mineira Andrade Gutierrez, outro gigante atropelado pela Lava-Jato, deve faturar 4,5 bilhões de reais neste ano.

Antes de o grupo ser arrastado para uma das maiores recuperações judiciais do país, o advogado da companhia, Eduardo Munhoz, já havia alertado que seria loucura abrir mão da Braskem e depender somente da construtora. Mas, naquele momento, os gestores queriam evitar uma recuperação judicial a qualquer custo e entregaram as ações da petroquímica como garantia para renegociar empréstimos bilionários concedidos por Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander. Os bancos conseguiram o direito de recuperar integralmente os empréstimos assim que a venda da Braskem for efetuada, o que terá de acontecer em até três anos. O que sobrar irá para os outros credores. O plano de recuperação judicial estipula a troca das dívidas por títulos atrelados ao resultado, ou seja, se a empresa criar caixa, pagará os credores. Como diz o advogado de um credor sem direito à Braskem: “Não há promessa de pagamento de nada. É mais uma questão de devo não nego, pago se puder”.

A venda da Braskem é questionada abertamente por Marcelo Odebrecht, presidente no auge da Operação Lava-­Jato e que foi preso em 2015, com a empresa acusada de gerir um esquema gigantesco de propina que movimentou 800 milhões de dólares em vários países. A oposição à venda é apenas uma das desavenças entre ele e seu pai, Emílio, seu antecessor no cargo. O filho chega a acusar o patriarca de desviar dinheiro do grupo e de estar promovendo uma falência programada. Parte das dificuldades é atribuída, por Marcelo e alguns ex-executivos da companhia, ao acordo feito com o Departamento de Justiça americano, o DOJ. Fechado às pressas, foi concluído antes da negociação de acordos em outros países. Logo que o DOJ revelou os esquemas de corrupção em diversas nações, governos retiraram concessões e cancelaram obras da empresa, que agora tem dificuldades de fechar novos projetos.

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Diante do quadro, a Odebrecht tem se esforçado para firmar novos contratos — que geraram 1,8 bilhão de reais neste ano. Também promoveu uma grande renovação da equipe, com mais da metade dos 35 000 empregados contratada depois da Lava-Jato. Mas segue mergulhada em uma grave crise de reputação. Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento baniram financiamentos pelos próximos anos. A Petrobras já retirou o grupo da lista de fornecedores suspensos, mas ainda faz uma espécie de auditoria nas operações. Advogados, executivos, conselheiros, acionistas e credores ouvidos por VEJA concordam em um ponto: a Odebrecht jamais voltará a ser o que era. Até agora, as tentativas de se aproximar do governo fracassaram. Em 2019, a empresa reabriu um escritório em Brasília e contratou Alexandre Barreto Tostes, filho do coronel da reserva Custódio Barreto Tostes, próximo à ala militar do governo. Até agora, as portas continuam fechadas.

Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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