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Serviços, em recuperação gradual, podem impulsionar economia no fim do ano

Ainda abaixo dos índices pré-pandemia, setor se beneficiou do avanço da vacinação e deve liderar receita e volume de contratações nos últimos meses do ano

Por Felipe Mendes Atualizado em 2 set 2021, 21h19 - Publicado em 2 set 2021, 15h05

Apesar de um desempenho abaixo das expectativas para o segundo trimestre do ano, o setor de serviços deve ser a alavanca para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na reta final de 2021. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o setor cresceu 0,7% de abril a junho, representando 1,3 trilhão de reais em valores correntes, pouco mais de 50% do PIB brasileiro – economistas projetavam um avanço maior, de 0,9%. A performance reflete um período de recrudescimento da pandemia de Covid-19 no país, sobretudo em abril, quando muitos estados tiveram de impor medidas de isolamento social, o que prejudicou atividades que demandam mais contato humano, como o comércio varejista, o setor de hotéis, bares e restaurantes. Mas, com o fim das restrições e o avanço da vacinação no país, as pessoas voltaram a circular e esses setores, mesmo sofrendo os efeitos da inflação, que prejudica o poder de compra das famílias, devem apresentar números muito superiores no restante do ano.

Os serviços foram os mais afetados pela crise sanitária em 2020, com queda de 4,5% em 12 meses. Por isso, imaginava-se que o setor fosse, rapidamente, deslanchar e recompor as perdas este ano. Não aconteceu como se esperava. “Entre o final de 2020 e março deste ano, a gente teve uma queda na circulação de consumidores no setor de comércio e de serviços de 24%. Isso atrapalhou um pouco”, diz o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes. Fora isso, a taxa de desemprego, que ainda assola mais de 14 milhões de brasileiros, contribui para a retomada mais lenta. “Mas, o que mais atrapalhou mesmo foi essa inflação resistente e bastante alta, que hoje roda, no acumulado de 12 meses, na casa dos 9%. Isso seguramente ajudou a puxar o freio de mão da atividade econômica.”

De acordo com as estatísticas do IBGE, houve resultados positivos, na comparação trimestral, em “Informação e comunicação” (5,6%), “Outras atividades de serviços” (2,1%), “Comércio” (0,5%), “Atividades imobiliárias” (0,4%), “Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados” (0,3%) e “Transporte, armazenagem e correio” (0,1%). O segmento de “Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social” apresentou estabilidade. 

A despeito de uma possível retração ocasionada pela disseminação de novas variantes de Covid-19, sobretudo a Delta, cepa que é mais transmissível, o setor de serviços deve deslanchar nos próximos resultados, o que levará o PIB, segundo previsões dos economistas, a um patamar acima de 4% este ano. Com a pandemia sob aparente controle, devido à alta taxa de vacinação no país, governantes removeram barreiras e estão, inclusive, voltando a incentivar o turismo. São Paulo, grande polo de eventos corporativos, já anunciou a permissão para grandes conferências, além do Grande Prêmio de Fórmula 1, em novembro, com 100% de capacidade para o público, e o festival de música Lollapalooza, agendado para março de 2022.

“O setor de serviços deve se destacar no segundo semestre, principalmente por conta do esperado avanço da vacinação. O retorno das atividades presenciais favorece tanto os serviços privados prestados às famílias como os serviços públicos. A recuperação dos serviços privados, em especial, é um fator crucial para uma elevação mais significativa do emprego”, diz Adriana Dupita, economista-chefe da Bloomberg.

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Segundo Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o segmento de bares e restaurantes passou, a partir de julho, a registrar números semelhantes a 2019. “Nosso segundo semestre será bem melhor e isso vai se refletir em puxar o PIB para cima. Em termos reais, já estamos registrando números superiores a 2019”, diz ele. Há, no entanto, o temor, que não é apenas do setor, de que a inflação e a crise hídrica retardem um crescimento mais robusto. “Nós estamos sendo pressionados de todos os lados. A questão da energia elétrica pesa muito para nós, a inflação de alimentos tem sido brutal e até o combustível, que antes refletia de maneira indireta, agora passa a refletir de maneira direta por causa dos custos com o delivery. Então, tudo isso forma uma pressão de custos muito dura.”

Mais desafios

Outro fator, ainda pouco mencionado por analistas, também pode atrapalhar o setor. Em 2020, o Banco Central cortou a taxa básica de juros, a Selic, do país ao menor nível da série histórica. Mas, recentemente, a autoridade fiscal tem recomposto a Selic a níveis mais altos, como forma de arrefecer a inflação e a desvalorização cambial, mas isso tende a afetar a capacidade do uso de crédito por parte dos brasileiros. Com alto nível de desemprego e inflação, o uso do cartão de crédito se tornou uma forma de financiar as compras de bens essenciais, como alimentos. Como viagens de turismo demandam mais financiamentos, a alta rotatividade dos juros pode afugentar aqueles que pretendem viajar no fim do ano.

“Se o consumidor se depara com uma taxa de juros mais salgada, que é o que já está acontecendo, e o mercado de trabalho não evolui de forma positiva ao longo do ano, ele fica sem saída. Isso tira o impulso de curto prazo e a possibilidade de alavancar o crescimento da economia via crédito”, diz Bentes. “Lembrando que, ao longo da pandemia, as dívidas para os consumidores ficaram muito longas, e isso comprometerá o orçamento das famílias por mais tempo. Hoje, segundo o BC, 30% da renda das famílias está comprometida com dívidas. É muita coisa”. Ou seja, o caminho para a recuperação do PIB está dado, mas há muitos entraves no caminho, o que pode colocar o crescimento do setor, sobretudo no quarto trimestre e ao longo de 2022, sob risco.

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