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Selic terá que voltar para 12% para conter inflação, diz ex-diretor do BC

Para Fabio Kanczuk, diretor de macroeconomia do ASA, PIB deve crescer até 3,5% em 2024, mas levará a inflação a ficar perto dos 5% até o fim do ano que vem

Por Juliana Elias Atualizado em 9 set 2024, 22h12 - Publicado em 9 set 2024, 09h07

Fabio Kanczuk, ex-diretor do Banco Central e atual diretor de macroeconomia do ASA, está na ponta dos mais otimistas no que diz respeito ao crescimento da economia do país neste ano. Em sua visão, o forte resultado do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre, divulgado na terça-feira, 3, confirma a tendência de que o país possa crescer entre 3% e 3,5% neste ano. O avanço acima do esperado levou a uma leva de revisões e começaram a aparecer os primeiros bancos e consultorias falando na possibilidade de um crescimento na faixa dos 3%.

O crescimento forte, entretanto, vem a um custo, na visão de Kanczuk. Ele calcula que, como consequência do consumo aquecido, a inflação deve passar o restante de 2024 e todo 2025 acima da meta, em um faixa entre 4,5% a 5%, e que a Selic, a taxa básica de juros, deverá ir a 12%, para poder frear esse aumento e levar a variação de volta para perto dos 3%. É este o centro da meta de inflação que o BC deve cumprir, com uma margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. A Selic está atualmente em 10,5%.

“Estamos vindo de um período estranho na economia, no Brasil e no mundo, em que o PIB não cedeu, mesmo com os juros altos, e a inflação caiu, mesmo com o PIB alto”, diz o economista, que também foi secretário do Ministério da Fazenda no governo Michel Temer. “Mas isso está mudando. No Brasil, a inflação já parou de cair e começa a subir, e os únicos resultados possíveis são a economia crescer menos ou a inflação não cair.”

Foi Kanczuk, quando era diretor de Política Econômica do Banco Central, em 2020, quem desenvolveu os modelos usados até hoje pela autarquia para medir o chamado hiato do produto, que estima em quanto a economia está crescendo acima ou abaixo de seu potencial. Quando esse hiato é positivo, ou seja, quando a economia cresce mais do que a sua produtividade e a sua quantidade de trabalhadores e fábricas são capazes de oferecer, a inflação tende a subir. É um dos elementos usados pelo BC para estimar qual deve ser o nível ideal da Selic para que a escalada de preços não saia do controle.

De acordo com Kanczuk, as contas dessa fórmula mostram que, depois de um período em que o Brasil operou com relativa folga abaixo desse potencial, entre 2022 e 2023, a economia começou, neste ano, a esgarçar esses limites. “Isso começou a acontecer no segundo e no terceiro trimestre deste ano”, diz. É o que explicaria a inflação ter caído nos anos anteriores mesmo com um crescimento forte do PIB e ter começado agora a acelerar novamente.

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É o PIB potencial, em sua visão, que está ficando menor novamente, depois de um bônus no pós-pandemia, em que o aumento no número de pessoas trabalhando ajudou a expandir a capacidade da economia de crescer. Agora, porém, a taxa de desemprego, depois de despencar, já está nos menores níveis em uma década, o que significa que não será mais tão fácil manter o mesmo ritmo de expansão daqui para frente. “Em contas aproximadas, o PIB potencial era da ordem de 1,5% antes da pandemia, foi para mais perto dos 2,5% depois e, agora, está voltando para 1,5%”, diz Kanczuk.

Como o potencial teria encolhido, mas a economia segue com o pé no acelerador e ainda crescendo a um ritmo próximo de 3%, as pressões nos preços e outros desbalanços devem necessariamente começar a aparecer daqui para frente. “O hiato do produto, que estava negativo, agora ficou positivo, então acabou essa moleza de PIB potencial maior”, diz Kanczuk.

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