Rússia anuncia aumento de importação de carne do Brasil
Decisão ocorre após embargo à importação de alimentos dos Estados Unidos e União Europeia, que impõem sanções aos russos pela crise na Ucrânia
(Atualizado às 11h30)
O ministro da Agricultura da Rússia, Nikolai Fyodorov, afirmou nesta quinta-feira que o país compensará a proibição de importação de alimentos e produtos agrícolas da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos com maior fornecimento de carne (bovina, suína e de frangos) do Brasil.
A principal entidade agrícola do governo russo informou que está em consulta com governos latino-americanos para suprir as importações de alimentos para o país. O Serviço Federal de Veterinária e Monitoramento Fitossanitário disse em nota que conversas com diplomatas do Equador, Brasil, Chile e Argentina serão mantidas durante esta quinta-feira. O governo russo sinalizou que as barreiras para produtores brasileiros com interesse em exportar para a Rússia foram aliviadas.
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A Rússia proibiu nesta quinta-feira a importação de frutas, legumes, carnes, peixes, leite e seus derivados dos EUA, UE, Austrália, Canadá e Noruega. O primeiro-ministro da Rússia, Dimitry Medvedev, disse que a proibição entra em vigor “imediatamente” e durará um ano.
A decisão acontece após um decreto do presidente Vladimir Putin proibir ou limitar importações de alimentos de países que impuseram sanções à Rússia por causa da derrubada um avião da Malaysia Airlines por um míssil disparado por separatistas ucranianos, apoiados pelos russos. A tragédia causou a morte de 298 pessoas. “Não há nada bom em sanções e não foi uma decisão fácil de tomar, mas tivemos de fazer isso”, disse Medvedev.
Após sustentar um constrangedor silêncio e não condenar diretamente o apoio russo aos separatistas que desestabilizam o leste ucraniano, o Brasil pode ainda lucrar com o resultado das sanções ocidentais e a retaliação russa. Depois do anúncio do embargo, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, afirmou que a indústria de carne de frango do Brasil tem condições de atender “tranquilamente” uma demanda adicional da Rússia. Ele afirmou, durante evento do setor, que o Brasil teria condições de exportar adicionalmente 150.000 toneladas de carne de frango ao ano para a Rússia, cobrindo cota fornecida pelos EUA. No ano passado, as vendas do país à Rússia atingiram cerca de 60.000 toneladas.
O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Seneri Paludo, afirmou nesta quinta-feira que o embargo da Rússia pode abrir portas para uma “revolução” nas exportações brasileiras de carne e grãos (milho e soja). “Sem dúvida, do ponto de vista de commodities agrícolas, é positivo. A Rússia tem um potencial de grande consumidor de commodities agrícolas, não só de carne” disse. Para ele, o governo brasileiro habilitou 90 plantas frigoríficas para exportar ao mercado russo e a tendência é de que o volume de carne suína e bovina vendida para a Rússia cresça. “O embargo da Rússia aos Estados Unidos abre uma janela para exportação. O país é um grande consumidor de carne e grãos”, afirmou.
Segundo ele, o governo brasileiro habilitou 90 plantas frigoríficas para exportar ao mercado russo e a tendência é de que o volume de carne suína e bovina vendida para a Rússia cresça. “O embargo da Rússia aos Estados Unidos abre uma janela para exportação. O país é um grande consumidor de carne e grãos”, afirmou Paludo.
O mercado russo é um dos principais para a carne brasileira. Segundo dados do Ministério da Agricultura, no ano passado, de 2,72 bilhões de dólares (5 bilhões de reais) em produtos agrícolas brasileiros vendidos para a Rússia, 44,1% correspondiam à carne bovina. As vendas de carne suína totalizaram 412 milhões de dólares, ou 15,1% do total.
A Comissão Europeia, por sua vez, informou que se reserva o direito de tomar medidas em resposta à proibição da Rússia a alimentos e produtos agrícolas da UE. A Rússia é o segundo maior mercado da Europa para comida e bebida e tem sido um importante consumidor de carne de porco, frutas e legumes. As exportações de alimentos e matérias-primas para a Rússia somaram 12,2 bilhões de euros (36,6 bilhões de reais) em 2013, após vários anos de crescimento de dois dígitos.
(Com agência Reuters)