Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO, 31 Mai (Reuters) – A indústria brasileira continua dando sinais de fraqueza. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, a produção industrial caiu 0,2 por cento em abril frente a março. Trata-se da segunda queda seguida e a terceira variação negativa mensal no ano.
Na comparação com abril de 2011, a produção diminuiu 2,9 por cento, oitava contração seguida. O IBGE revisou ainda o resultado de março passado sobre um ano antes, passando de uma queda de 2,1 para 1,9 por cento.
“Há produtos importados competindo com locais, setores com estoques elevados, redução da demanda interna, aumento da inadimplência, dificuldade para exportar e crise global. Tudo isso explica o momento da indústria”, disse o economista do IBGE André Macedo.
De acordo com pesquisa da Reuters junto a 20 analistas, a expectativa era de que a produção industrial se mantivesse estável em abril ante o mês anterior e registrasse queda de 2,2 por cento ante o mesmo período de 2011.
O IBGE informou que houve queda da produção industrial em 13 dos 27 segmentos pesquisados na comparação mensal em abril, com destaque para o de Alimentos (-3,7 por cento) e Farmacêutico (-8,5 por cento), com o primeiro revertendo a taxa positiva registrada em março (0,4 por cento), e o segundo acumulando perda de 11,4 por cento em dois meses consecutivos.
Ambos pertencem ao segmento de bens não duráveis que apresentaram queda de 1,4 por cento em abril frente a março. Foi o pior resultado desde junho de 2011. “A produção de açúcar foi prejudicada por fatores climáticos e os remédios tem um comportamento mais errático”, destacou Macedo.
Na ponta oposta, o IBGE destacou que houve avanço no segmento de Edição, impressão e reprodução de gravações (6,7 por cento), que devolveu parte da queda de 7,7 por cento assinalada em março último, e de Veículos automotores (2,4 por cento, englobando veículos de passeio, caminhões, peças, entre outros), que acabou acumulando expansão de 27,4 por cento em três meses de taxas positivas consecutivas, eliminando assim parte da perda de 30,3 por cento verificada em janeiro último.
O setor industrial é uma das principais preocupações do governo porque não tem dado sinais de recuperação e, assim, atrapalhando um desempenho melhor da economia toda. Por isso, o governo vem adotando medidas para tentar impulsionar a atividade. As mais recentes envolvem ações para incentivar os setores automotivo e de bens de capital, além do consumo em geral.
Além disso, o Banco Central vem reduzindo a taxa básica de juros, adotando a flexibilização da política monetária como arma para estimular o crescimento. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic de 9 para 8,5 por cento ao ano, novo recorde de baixa.
O próprio governo já admite que a economia brasileira não começou bem este ano. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou durante o Reuters Latin America Investment Summit que a economia brasileira deve ter crescido entre 0,3 e 0,5 por cento no primeiro trimestre.
O IBGE mostrou ainda nesta quinta-feira que especificamente o segmento de automóveis em abril ajudou a empurrar a indústria para baixo mais uma vez, dado seu encadeamento com outros setores como autopeças, produtos químicos e borracha.
Em abril, houve queda na produção de automóveis de 2,7 por cento em relação a abril de 2011. No quadrimestre, a queda acumulada é de 14,9 por cento ante o mesmo período do ano passado
A redução Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca adotada no fim do ano passado, por exemplo, já apresenta sinais positivos sobre a indústria brasileira. No primeiro quadrimestre, a produção da linha branca cresceu 9 por cento, depois de cair 0,3 por cento nos últimos 4 meses de 2011.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta sexta-feira o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre e as expectativas são de que mostrará uma economia ainda patinando.
(Reportagem adicional de Diogo Ferreira Gomes)