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Poupança renderá 70% da Selic quando ficar a 8,5% ou menor

Por Da Redação
3 Maio 2012, 21h36

Por Luciana Otoni e Tiago Pariz

BRASÍLIA, 3 Mai (Reuters) – Com o objetivo de pavimentar o caminho para mais reduções na taxa básica de juros do país, hoje a 9 por cento ao ano, o governo anunciou nesta quinta-feira mudança na remuneração da poupança, que será enviada ao Congresso por meio de medida provisória.

De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, toda vez que a Selic ficar igual ou abaixo de 8,5 por cento, a remuneração da poupança passará a ser de 70 por cento da Selic mais Taxa Referencial (TR). Quando a Selic for maior do que 8,5 por cento, as regras atuais ficam mantidas –remuneração de 0,50 por cento ao mês mais a TR.

“(Sem as mudanças na poupança) o Banco Central ficaria com a política monetária comprometida, não conseguiria baixar os juros”, afirmou Mantega a jornalistas ao apresentar as mudanças.

Segundo o ministro, as novas regras valerão para os depósitos que serão realizados a partir de sexta-feira. As demais regras da aplicação, disse, serão mantidas: isenção de Imposto de Renda e direcionamento dos recursos da poupança para crédito habitacional e agrícola.

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Mais cedo, com base no esboço da MP, a Reuters publicou que a nova remuneração se daria toda vez que a taxa básica de juros ficasse abaixo de 8,5 por cento . No final, porém, o governo optou por estabelecer a nova regra de remuneração também para quando a Selic ficar igual a esse patamar.

POLÍTICA MONETÁRIA

A opção do governo em criar um redutor para a remuneração da poupança atrelado à Selic abre caminho para o BC manter a política de afrouxamento monetário. Na semana passada, o BC indicou que deverá continuar reduzindo a taxa básica de juros, mas com “parcimônia.”

Dentro da equipe econômica há avaliações de que o recuo da Selic para abaixo de 8,75 por cento ao ano -menor nível já alcançado pela taxa- poderia estimular uma forte migração de outros investimentos para a poupança, cuja remuneração atual ficaria mais atrativa.

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Se houver essa migração para a caderneta, o governo poderia ter problemas até para se financiar, porque parte dos seus títulos públicos é remunerada pela Selic e poderiam perder atratividade diante dos investidores.

Em nota divulgada nesta noite, o presidente do Banco Central considerou as novas regras da poupança “um passo fundamental” para a remoção de “resquícios herdados do período de inflação alta”. A medida, disse Alexandre Tombini, “consolida as bases para o crescimento econômico sustentável”.

Economistas concordam que a medida abre caminho para novos cortes do juro básico, mas se dividem quanto à velocidade com que isso possa ocorrer.

“Essas medidas acabam por sinalizar que a Selic vai continuar caindo”, disse o estrategista-chefe do Banco WestLB, Luciano Rostagno. “Entendo que o governo não assumiria um custo político da medida, até em ano de eleição, se não houvesse benefício maior em termos de uma maior queda de juros.”

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Mas para André Perfeito, economista da Gradual Investimentos, embora as mudanças deem liberdade para o BC atuar caso considere adequado reduzir a Selic, “isso não significa que ele vai abaixar agora de forma tão forte”.

RISCO POLÍTICO

Ao apresentar as novas regras da poupança, o ministro Mantega disse que o governo está preparado para enfrentar um eventual desgaste político ao alterar uma aplicação tradicional.

“Não é a política que nos pauta. Nos pautamos pelo interesse da população brasileira, sabemos que a população quer crescimento, quer mais emprego e juros mais baixos. E o governo age em direção a isso, mesmo que possa ter um eventual desgaste político. Não acredito em desgaste”, salientou.

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O assunto é bastante polêmico porque mexe com o investimento mais popular do país, historicamente voltado para faixa de menor renda, e o governo deve enfrentar uma batalha no Congresso para aprovar a medida.

Pelas regras, uma MP tem prazo de tramitação de 120 dias e passa a trancar os trabalhos no Congresso Nacional a partir do 46o dia. Caso ela seja rejeitada ou perca a validade, a presidente Dilma não pode editar uma nova medida com o mesmo conteúdo.

Antes do anúncio da mudança na poupança, Dilma e Mantega se reuniram com líderes aliados no Congresso. Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a MP “é uma medida corajosa” e “vai dar um bom debate no Congresso”.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), viu na mudança “um primeiro passo” para que o país possa ter juros compatíveis com os demais países, como quer a presidente.

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Já líderes oposicionistas criticaram a medida por considerarem que ela penaliza o pequeno poupador. “A primeira vítima dessa empreitada contra as altas taxas de juros é exatamente o pequeno poupador”, disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

Em 2009, ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o assunto foi colocado em pauta pela primeira vez, já que a Selic chegou a 8,75 por cento ao ano. O governo chegou a anunciar remunerações diferentes para faixas de aplicação, mas não foi para frente.

A reação política foi enorme, com partidos de oposição fazendo duras críticas, chegando a fazer propagandas de que o governo mexeria na poupança como aconteceu no governo do ex-presidente Fernando Collor, no início dos anos 1990, quando a aplicação foi confiscada.

Como parte do esforço para evitar destino semelhante desta vez, Dilma e Mantega também se reuniram nesta tarde com sindicalistas e com empresários, e o ministro da Fazenda chamou um número pequeno de jornalistas para explicar as medidas, em sinal de que o governo quer evitar uma repercussão negativa ou “desinformada”, como classificou uma fonte do governo, que falou à Reuters sob condição de anonimato.

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