Emilio Crespo.
Lisboa, 20 dez (EFE).- Portugal viveu em 2011 a pior crise de sua democracia, com uma série de problemas econômicos que forçou uma mudança de governo e levou ao resgate financeiro e ao programa de austeridade mais rigoroso da história do país.
Em um ano infestado de sobressaltos políticos e financeiros, a nação ibérica teve que pagar juros dez vezes mais altos para refinanciar sua dívida soberana, classificada como bônus lixo em julho e submetida a uma permanente pressão nos mercados.
Para muitos dos 10,5 milhões de portugueses, o ano que termina ficará na memória como um dos mais difíceis desde a Revolução de 25 de abril de 1974, marcado além disso pela incerteza de que 2012 pode ser pior, como antecipam as previsões econômicas.
Portugal entrou em 2011 com o socialista José Sócrates como primeiro-ministro e termina o ano nas mãos de seu principal rival, o conservador Pedro Passos Coelho, que assumiu o posto em junho, após eleições antecipadas em dois anos e meio por culpa da crise financeira.
O ambiente eleitoral dominou o país desde janeiro pelas eleições presidenciais, nas quais o também conservador Aníbal Cavaco Silva foi reeleito para um segundo mandato de cinco anos.
Suas diferenças com o primeiro-ministro levaram a previsões de que Sócrates não concluiria o mandato. A crise econômica e as enquetes de opinião, muito favoráveis à oposição conservadora, tornaram esta ideia realidade no dia 23 de março.
A decisão do partido de Cavaco, o Social Democrata (PSD, de centro-direita) de rejeitar o quarto plano de austeridade do Executivo, após ter deixado passar os três anteriores no Parlamento, levou Sócrates a renunciar e pedir ajuda financeira internacional semanas depois.
Após os resgates da Grécia e da Irlanda, o de Portugal fez tremer com força a Europa, e os 78 bilhões de euros que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) concederam a Lisboa em maio, semanas antes das eleições, nunca conseguiram aplacar a ascensão dos juros da dívida portuguesa.
No mercado secundário apenas as compras do Banco Central Europeu (BCE) frearam a penalização dos bônus, que em novembro de 2010 eram pagos a juros de 7% a dez anos e em 2011 chegaram a ultrapassar a barreira de 14%.
O Tesouro português, que apesar da ajuda internacional precisou leiloar a cada duas semanas bilhões de euros, tem que aceitar quase 5% de juros para colocar obrigações a apenas três meses de prazo, quando em dezembro de 2009 apenas não eram pagos 0,4%.
A desconfiança dos mercados também foi favorecida pelas más perspectivas de crescimento de Portugal, cujo Produto Interno Bruto (PIB) caiu no terceiro trimestre deste ano 1,7% com relação ao ano anterior.
O impacto das medidas de ajuste, reformas e privatizações aprovadas por Passos Coelho, que incluem também cortes de salários, previdência, investimentos e despesas do Estado, eleva até mais a previsão da recessão para 2012, quando se espera uma queda de 3% do PIB.
Além de sua fraqueza econômica e financeira, a economia portuguesa esteve em xeque por culpa das grandes agências de classificação de risco, entre as quais apenas Fitch ainda mantém o país acima do nível de bônus lixo.
Com seus rebaixamentos de nota, tanto essa classificadora quanto Moody’s e Standard & Poor’s foram um adicional para a bolsa, os bônus, os bancos e as grandes empresas portuguesas.
A frente financeira foi assim o principal problema nos primeiros seis meses de gestão de Passos Coelho, cuja prioridade oficial é cumprir com os compromissos do resgate e reduzir o déficit português a 4,6% em 2012, contra 9,8% em que fechou 2010.
Mas após a greve geral do mês passado, a esquerda e os sindicatos ameaçam aquecer o clima social contra uma política de ajustes que já subiu todos os impostos e vai a aumentar em meia hora gratuita a jornada de trabalho dos portugueses. EFE