Por que setembro foi um mês ruim para as bolsas e o que esperar de outubro
Queda na Nasdaq e eleições prejudicaram os mercados; no Brasil, confusões políticas geram temor sobre pedalada fiscal
A bolsa brasileira vinha se recuperando bem depois da queda drástica que ocorreu no dia 23 de março, devido à crise da Covid-19, mas em agosto a curva mudou de direção e começou a cair. O mês de setembro, que se encerrou na quarta-feira, foi uma continuação da tendência de queda, mas ainda mais brusca que a do mês anterior. O Ibovespa fechou em 94.603,38 pontos, uma retração de 4,80% em relação ao último dia de agosto – no mês anterior, a queda havia sido de 3,44%. Para o mês de outubro, a esperança de retomada do mercado brasileiro está no andamento das reformas e de um entendimento dentro do governo sobre o programa Renda Cidadã.
Em relação à recuperação das atividades industriais, a tendência é de alta. Nessa quinta-feira, 1, o PMI industrial do Brasil, medido pela IHS Markit, indicou crescimento acentuado em vendas, produção e nível de emprego no país. O índice foi de 64,9 em setembro, 0,2 pontos acima do nível de agosto. Nos Estados Unidos, setembro teve a mais forte melhoria das condições operacionais em 10 meses e o segundo maior aumento do emprego no setor desde novembro de 2019. O índice PMI industrial ficou em 53,2 em setembro, 0,1 acima que o índice de agosto. Já o pedido de auxílios desemprego caiu 36 mil na semana que se encerrou em 26 de setembro, indicando continuidade da recuperação econômica, importante indicador para os investidores.
Alguns acontecimentos que fizeram a bolsa cair em setembro também continuam no radar do mercado. A aproximação das eleições americanas, marcadas para o dia 3 de novembro, trouxe mais volatilidade aos mercados internacionais. A disputa acirrada entre o presidente americano republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden começaram a abalar mais os mercados, principalmente com o endurecimento de Trump contra a China para agradar o seu eleitorado. Além disso, novas ondas de infecção pelo novo coronavírus, principalmente na Europa, trouxeram receio sobre a necessidade de se realizar novos lockdowns, principais responsáveis pelos abalos às economias. Na Europa, as bolsas também foram impactadas pela consolidação de um Brexit sem acordo, o que, nesse primeiro momento, é ruim tanto para a economia do bloco europeu quanto da Grã-Bretanha.
Outro fator fundamental para a queda de setembro foi a mudança de direção da Nasdaq, a bolsa americana das empresas de tecnologia, no que foi definido por analistas como um “estouro da bolha” e uma “correção de valor”. Após bater recorde atrás de recorde, em uma curva ascendente que vinha desde março praticamente sem interrupções, o índice atingiu o pico de 12.056,44 pontos no dia 2 de setembro e passou a cair. Na quarta-feira, 30, a Nasdaq fechou em quase mil pontos a menos, a 11.167,51 pontos. O S&P500, índice que reúne as 500 maiores empresas americanas listadas nas bolsas de Nova York, acompanhou o mesmo caminho da Nasdaq, afinal também é composto em parcelas importantes por Bigtechs. Por lá também influenciou a dificuldade entre democratas e republicanos de se chegar a um acordo no Congresso para a aprovação de um novo pacote robusto de benefícios às pessoas físicas e às empresas.
Como a bolsa brasileira sofre muita influência das bolsas americanas, ela também caiu, mesmo com a Selic em 2%, nível historicamente baixo. Por aqui, porém, pesa também os desentendimentos em Brasília. . O ajuste fiscal é um problema de longa data no Brasil, mas em 2020 ficou mais grave devido ao aumento das despesas para conter a crise sanitária, como o auxílio emergencial, e à diminuição da arrecadação de impostos advinda da desaceleração da economia. Por isso, a condução do Renda Cidadã tem um papel tão fundamental. Ontem, em meio às falas desencontradas entre os integrantes do governo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acalmou os mercados ao afirmar que o programa não usará dinheiro dos precatórios para financiar o programa, o que vinha sendo definido por críticos como “pedalada” e “calote” nas contas públicas. A mesma expectativa se mantém sobre o novo pacote emergencial no Congresso americano: um programa de 2,2 trilhões de dólares avança na Câmara dos Deputados americana, mas chegar a sua aprovação em um momento tão próximo das eleições não será fácil.
Durante setembro, o dólar comercial se valorizou em relação ao real e fechou em 5,6181 reais na quarta-feira, 30, crescimento de 2,49% no mês. A alta em relação à moeda brasileira acompanhou o que ocorreu em relação às demais moedas internacionais, mas em maior intensidade: o índice DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas internacionais, principalmente o euro, subiu 2,10% em setembro.