Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Por que discurso de Lula sobre social à frente do fiscal não se sustenta

Gastos públicos desenfreados comprometem a credibilidade do país e geram efeitos colaterais que atingem principalmente os mais pobres

Por Luisa Purchio Atualizado em 17 nov 2022, 18h58 - Publicado em 17 nov 2022, 18h08

Nesta quinta-feira, 17, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na Conferência do Clima da ONU (COP 27) e, mais uma vez, fez declarações a respeito da sua visão sobre a condução econômica do país que assustou o mercado. Em sua fala, Lula voltou a contrapor o teto de gastos com o desenvolvimento em áreas sociais do país, ao mesmo tempo em que defendeu criar uma meta de crescimento e o retorno de programas de incentivo à cultura, à educação e a agricultura familiar.

“Quando você coloca uma coisa chamada teto de gastos, tudo o que acontece é tirar dinheiro da saúde, tirar dinheiro da educação, tirar dinheiro da ciência e tecnologia, tirar dinheiro da cultura, ou seja, tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social, e você não mexe um centavo do sistema financeiro, você não mexe um centavo daquele juros que os banqueiros tem que receber”, disse ele. “Ah, mas se eu falar isso vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Paciência! Porque o dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo o santo dia”, disse.

Em entrevista a VEJA, no entanto, os economistas são unânimes ao afirmar que é impossível para um país emergente como o Brasil aumentar os seus investimentos sociais sem se preocupar com a dívida pública, tendo em vista que gastos públicos desenfreados afugentam os investimentos e fazem os juros do país crescerem, além de dificultar o combate à inflação. “Todas as trajetórias tanto brasileira quanto de outros países mostraram no passado que o descontrole fiscal criou problemas seríssimos para o desenvolvimento econômico desses países. Com o fiscal descontrolado, o governo é obrigado a sacar continuamente, aumentando a dívida pública. Quanto maior a dívida, maiores os juros para pagar para convencer as pessoas a emprestarem dinheiro para ele e isso leva a taxa de juros a aumentarem muito, o que acaba com qualquer possibilidade de desenvolvimento e novos negócios”, diz Tharcisio Bierrenbach, consultor em cenários econômicos e finanças e ex-diretor do MBA da Faap.

Bierrenbach lembra, porém, que é necessário fazer investimentos sociais, mas que eles devem ser controlados tanto do ponto de vista dos gastos quanto da efetividade da sua aplicação, como foi o caso dos investimentos em educação feitos pela Coreia do Sul há mais de 60 anos atrás. Hoje o país é referência na área da educação e colhe os frutos desse investimento no PIB do país. “Evidentemente precisamos controlar os gastos para cortar os que não são produtivos, como aumento de despesas do governo que produzem uma máquina administrativa com um tamanho que não tem nada a ver com solução social. Pagar mais para deputados, juízes, promotores e militares não vai aumentar o desenvolvimento do país e nem diminuir a pobreza. É um discurso bonito, mas que na prática encurta o caminho do desenvolvimento”, diz ele.

Continua após a publicidade

Credibilidade

Para Simão Davi Silber, professor de Economia da USP, “se o país não se preocupar com o teto de gastos, ele cairá na cabeça e arrebentará a área social”, devido aos efeitos colaterais que o aumento desenfreado da dívida pública pode provocar. “Sem a preocupação fiscal o câmbio dispara, tem que subir juros e a inflação sobe, o que é a pior receita para os pobres”, diz ele. Silber lembra que o país deverá ter um crescimento pífio no ano que vem, menor que 1%, e que o país está vindo de duas grandes recessões, a primeira que ocorreu em 2015 e 2016, fruto do governo Dilma Rousseff, e a segunda em 2020, que atingiu todos os países no mundo e é consequência da Covid-19.

Todo esse quadro se soma ainda às perspectivas de chegada de recessões nos EUA e na Europa, que diminuíram significativamente a liquidez de recursos no mundo e tornará a economia em 2023 ainda mais desafiadora. “Se países de primeiro mundo e com o grau de investimento triple A estão tendo dificuldades de liquidez diante dos altos juros praticados no mundo, imagine o Brasil. O ano que vem será muito diferente de 2003, quando Lula assumiu a presidência com o mercado de commodities a mil e um superavit primário de 3 a 4% do PIB”, diz ele.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.