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Por que a proposta do Renda Cidadã não caiu bem no mercado financeiro

Medo de calote aumentou aversão ao risco dos investidores e Ibovespa iniciou a semana no menor nível em quase três meses

Por Luisa Purchio Atualizado em 29 set 2020, 11h11 - Publicado em 29 set 2020, 10h31

As oscilações na bolsa brasileira vinham, em geral, acompanhando o mercado internacional, mas as notícias de Brasília agitaram os mercados no começo desta semana. Na manhã desta terça-feira, 29, o Ibovespa futuro opera em leve alta em um movimento normal de correção após a drástica queda de ontem. Na segunda-feira, o principal indicador da bolsa brasileira se descolou das altas no mercado externo e fechou em queda de 2,41%, a 94.666,37 pontos, menor patamar em quase três meses. O dólar comercial, por sua vez, disparou no período da tarde e fechou em alta de 1,42%, a 5,6358 reais – a desvalorização da moeda brasileira só não foi maior porque o Banco Central leiloou 877 milhões de dólares para atenuar a queda.

A aversão ao risco dos investidores se deve a forma de financiamento apresentada ao Renda Cidadã – novo nome do Renda Brasil, ou seja, um upgrade ao Bolsa Família e substituto do Auxílio Emergencial –, que aumenta o risco fiscal do país. O que derrubou o mercado não foi a política pública, mas sim de onde virão os recursos para pagar o programa que deverá custar 30 bilhões de reais a mais que o Bolsa Família. Tanto que o presidente Jair Bolsonaro usou suas redes sociais para dizer que o governo está aberto a sugestões para manutenção do teto de gastos.

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O dinheiro, segundo o senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator do Pacto Federativo e do Orçamento para 2021, deve vir de uma parte do orçamento que está reservada para pagamentos de precatórios, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e do próprio Bolsa Família. O mercado, no entanto, vê risco de calote, uma vez que os precatórios são valores devidos a pessoas e empresas após decisão da Justiça.

“Qualquer coisa que soe como calote é muito preocupante e há a preocupação de que esse tipo de medida possa até fazer um downgrade da nota de risco do Brasil”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Nécton. “Na minha opinião ainda não tem como saber se é um calote ou não, de qualquer forma é um debate que começou muito mal”, diz ele.

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Além disso, o início do período eleitoral para os pelitos municipais, torna ainda mais turbulento o cenário para definições de medidas como essa. A curva longa de juros também subiu. O índice DI para janeiro de 2025, por exemplo, que vem subindo desde agosto, estava em 6,67% na manhã dessa terça-feira. A taxa se refere ao valor que o mercado cobra para emprestar recursos e está diretamente ligada ao risco do país.

Outra notícia que agita os mercados nesta terça é o Índice Geral de Preços – Mercado (IGPM), divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Em setembro, o índice subiu 4,34% em relação a agosto, acumulando alta de 14,40% no ano e 17,94% em 12 meses. As commodities influenciaram na alta dos preços, como a soja, e no IPC a recreação e as passagens aéreas avançaram significativamente. Já no INCC, os principais produtos com alta são materiais e equipamentos. Os números impactam negativamente no mercado financeiro, porque indicam que a taxa Selic pode subir para controlar a inflação.

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