Por que a greve dos caminhoneiros ainda não acabou
Caminhoneiros dizem que a maioria das reivindicações foi atendida, mas 'intervencionistas' impedem o fim da paralisação
O governo federal diz que já chegou ao limite das negociações com os caminhoneiros e que atendeu às principais reivindicações da categoria. Uma delas é a promessa de queda de 0,46 centavos no preço do diesel por sessenta dias. Líderes dos caminhoneiros dizem que a questão agora não tem mais relação com a categoria. Eles culpam os ‘intervencionistas’ pela continuidade da greve da categoria, que entrou no nono dia de paralisação nesta terça-feira.
Segundo eles, esses movimentos se infiltraram entre os caminhoneiros para difundir ideias em favor do intervencionismo militar e derrubada do governo Michel Temer. “Existem aqueles que não encerraram a greve porque querem intervenção e derrubar o governo. E existem aqueles que se sentem comprometidos com a população e passaram a defender também a queda do preço da gasolina”, afirma Ivar Schmidt, líder do (Comando Nacional dos Transportes (CNT).
Na avaliação de Schmidt, os caminhoneiros não podem se comprometer com a pauta de toda a população. “Quando um professor faz greve, ele para pelas causas dos professores. Não dá para uma única categoria querer resolver os problemas da população toda.”
Schmidt afirma que os intervencionistas conseguiram o apoio dos caminhoneiros, pois são eles que abasteceram os grevistas com água e comida. “É fácil manipular o caminhoneiro, eles estão desconfiados com as promessas do governo, pois nada do que foi prometido na greve de 2015 foi cumprido.”
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, afirmou no fim da tarde desta segunda-feira 28 que motoristas autônomos que querem voltar a trabalhar estão sendo ameaçados de “forma violenta por forças ocultas” que impedem o fim da greve. “São pessoas que querem derrubar o governo”, afirmou Fonseca, sem citar nomes ou grupos políticos aos quais essas pessoas estariam ligadas. “Estão usando o caminhoneiro como bode expiatório.”
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse ontem que existe ‘infiltração’ política dentro do movimento grevista dos caminhoneiros. “Vamos fazer de tudo para que os infiltrados sejam retirados e, dessa forma, os caminhoneiros possam voltar ao trabalho, afirmou.
Já Francisco Wilde Bittencourt Ferreira, presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Volta Redonda e Região Sul Fluminense (Sinditac-VR), diz que propostas feitas pelo governo federal para encerrar a greve ainda não foram suficientes para acabar com os bloqueios nas estradas. “O sindicato aguarda a definição da tabela com o referencial dos valores de frete”, diz ele.
Além disso, segundo ele “existe um temor [dos caminhoneiros], porque o Rio de Janeiro está sob intervenção, então o Senado não pode votar medidas provisórias”. De acordo com o dirigente sindical, cerca de 9.000 caminhoneiros atuam na região sul fluminense. “A maioria está parada. Mas as rodovias estão liberadas, inclusive o acostamento”, diz.
A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) afirmou que os pedidos da categoria já foram atendidos e que, “aos poucos a greve se desmobiliza”. A CNTA não soube estimar, no entanto, quantos caminhoneiros já voltaram ao trabalho.