Oferta do BC não tem demanda prevista e segura queda do dólar
Instituição só vendeu US$ 200 mi dos US$ 550 mi ofertados no mercado à vista; do outro lado, investidores aguardam divulgação de privatizações e ata do Fed
O Banco Central (BC) ofertou nesta quarta-feira, 21, como previsto, 550 milhões de dólares no mercado à vista. No entanto, a demanda não foi a esperada — foram vendidos apenas 200 milhões de dólares. O restante será ofertado ainda hoje no mercado futuro (em que são feitos contratos para períodos posteriores em que a moeda tem um valor pré definido).
O resultado, considerado surpreendente pelo mercado, segurou a queda do dólar comercial, em um dia com anúncio de privatizações e divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos).
Às 12h55, o dólar caia 0,5% cotado aos 4,03 reais. No mesmo horário, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, estava em alta de 1,24%, aos 100.449 pontos.
Simultaneamente à oferta, o BC comprou, no mesmo valor da venda, contratos de swaps reversos no mercado futuro. Nesses contratos, a instituição paga ao investidor a variação da Selic no período e recebe a variação do câmbio — no swap tradicional é o contrário. O processo será repetido diariamente até o dia 29 de agosto.
A ideia do banco é transferir suas posições do mercado futuro para o à vista, que vem tendo uma demanda maior de investimentos. O motivo para o crescimento, é a busca dos investidores por posições mais seguras, em um cenário de desaceleração do crescimento global, crise na Argentina e queda nas taxas de juros pelo mundo.
Para Cleber Alessie, operador de câmbio da corretora H.Commcor, a falta de demanda na oferta de dólares segurou uma queda maior da moeda em relação ao real. “O mercado não raspou o Banco Central. Foi surpreendente, especialmente nesse primeiro dia. Em um primeiro momento, deixou o mercado surpreso, o dólar pesou um pouco mais na hora que saiu o resultado, mas depois normalizou”, afirma.
Analistas ouvidos por VEJA, afirmam que a médio e longo prazo, a oferta não deve ter tanta influência, porque o BC compra e vende o mesmo valor de dólares. Mas o fato desse estoque de moeda vir da reserva externa é importante. “Vender reservas é algo que era um tabu. É uma indireta ao mercado de que podem ser tomadas novas ações nesse sentido” acrescenta ele.
Além da oferta do BC, o mercado também está de olho na divulgação da lista das 17 empresas que devem ser privatizadas pelo governo. VEJA teve acesso à relação, que contém grandes estatais como a Eletrobras, Correios e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
No cenário externo, os investidores também aguardam a divulgação da ata da mais recente reunião do Fed. Na ocasião, o colegiado cortou juros nos Estados Unidos pela primeira vez em dez anos, em 0,25 ponto porcentual. Apesar disso, a medida não agradou o mercado, que esperava uma redução ainda maior.
Nos olhos do mercado, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, logo após a divulgação da taxa não deixou claro se o país começará um novo ciclo de corte de juros. É o que os investidores esperam ler na ata de hoje.