A estratégia da campanha de Barack Obama para a reeleição ficou bastante clara a nove meses das votações: priorizar o tema da reforma fiscal com foco na ampliação dos impostos para os mais ricos.
Contudo, o presidente dos Estados Unidos ainda tem pela frente a árdua tarefa de convencer os americanos de que sua ideia de ampliar os impostos dos mais ricos é suficiente para encaminhar a economia do país.
Em seu discurso de terça-feira, Obama propôs que os milionários contribuam com no mínimo 30% de sua renda ao Estado, num nítido gesto de desafio a seus adversários republicanos para que se pronunciem contra essa proposta, o que pode passar a imagem de que eles estariam preocupados unicamente com os mais ricos.
Para o cientista político Michael Traugott, da Universidade de Michigan, esta estratégia deve dar o tom da campanha do presidente, candidato a reeleição no dia 6 de novembro.
“Essa noção de justiça fiscal poderá seduzir os eleitores”, disse.
A estratégia de Obama ganhou força com a polêmica sobre um dos principais candidatos republicanos à presidência, o multimilionário Mitt Romney, acusado de ter feito fortuna através de um fundo de investimentos que comprava empresas em dificuldades, despedia os assalariados e revendia esses ativos com um maior valor.
Após longas deliberações, Romney decidiu finalmente na terça-feira publicar sua declaração de impostos, mostrando uma taxa impositiva de apenas 15% sobre seus ingressos, enquanto que a taxa máxima para os assalariados chega a 35%.
Em 2008, Obama soube interpretar bem o desejo de mudança da população após as divisões surgidas na era Bush. Em 2012, essa sensibilidade será novamente necessária para conquistar eleitores indecisos, dizem analistas.
Costas Panagopoulos, especialista em campanhas eleitorais da Universidade Fordham, acredita que Obama precisará ir mais fundo nesses temas para conquistar o eleitorado.
“Creio que o presidente pode convencer a população, mas ele precisa se aproximar mais dos eleitores do que o que se viu em seu discurso”, disse.
A conjuntura permanece adversa para o presidente, com uma taxa de desemprego de 8,6%, historicamente muito elevada para os Estados Unidos.
Como prova disso, apenas 13% dos eleitores interrogados pelo instituto Gallup em uma pesquisa divulgada na segunda-feira afirmam estar satisfeitos com o estado atual da economia. E segundo a sondagem da CBS/New York Times da semana passada, uma minoria de 40% dos consultados disse estar satisfeita com a política econômica do presidente.
Finalmente, a cota de popularidade de Obama não supera os 44% segundo uma pesquisa de segunda-feira, muito abaixo do mínimo necessário para que um presidente seja reeleito, que normalmente é de 50%, de acordo com dados históricos corrigidos pelos cientista políticos.
A popularidade de Obama no Congresso, cuja câmara é dominada pelos republicanos, é ainda mais baixa: segundo uma sondagem da CBS/New York Times, ela alcançava apenas 13% na semana passada.
Obama poderá averiguar o impacto que teve seu discurso sobre o estado da União durante uma série de visitas por cinco estados, que começa nesta quarta-feira em Iowa.