O que o mercado espera sobre a decisão de metas de inflação pelo CMN
Ata do Banco Central impulsiona perspectiva de flexibilização monetária, reduzindo expectativa de alteração na meta de inflação
A possível redução dos juros pelo Banco Central, mencionada na ata do Copom, está dissipando no mercado a possibilidade de alteração na meta de inflação, estabelecida em 3% para 2024 e 2025. Nesta quinta-feira, 29, o Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne para discutir a meta de 2026 e uma possível revisão nas que já estão estabelecidas. O colegiado é formado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
A gestora Warren Rena acredita que a ata reforçou a expectativa de um início do processo de flexibilização dos juros. A projeção da corretora é que a Selic encerre o ano em 12% e chegue a 9,50% em meados de 2024. “A redução das expectativas de inflação é um fator importante nesse cenário, e a decisão do CMN sobre a meta de inflação será fundamental para diminuir as incertezas e alinhar as expectativas com a meta”, diz Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena e ex-diretor do BC.
Enquanto alterações na meta perdem força, as discussões em torno de mudanças no cumprimento da meta ganham relevância. Há uma corrente favorável à adoção de uma meta contínua, que defendem que a mudança poderia acelerar a ancoragem das expectativas e permitir uma queda consistente da taxa Selic.
O banco Itaú espera que a meta de inflação seja mantida com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, mas com a mudança para uma meta contínua e a delegação ao Banco Central da definição do horizonte de convergência. Segundo o banco, essa mudança traria avanços ao alinhar o Brasil às melhores práticas internacionais. “A mudança para uma meta contínua pode trazer avanços, como institucionalizar a prática do BC de mirar um horizonte contínuo, evitar medidas ineficientes e alinhar o Brasil a melhores práticas internacionais”, diz Mario Mesquita, economista-chefe do banco Itaú em relatório.
No entanto, para implementar a meta contínua, será necessário redefinir o processo de verificação e possivelmente eliminar a necessidade de definir anualmente a meta pelo CMN. O banco ressalta que é importante manter um prazo de convergência adequado para evitar riscos de expectativas desancoradas e inflação acima da meta por um período prolongado. “Caso seja confirmada a meta contínua, espera-se que o BC continue buscando a convergência da inflação para 3% em cerca de 18 meses. Não seria apropriado alongar o prazo de convergência devido ao risco de expectativas desancoradas e inflação acima da meta por um período prolongado”, avalia Mesquita.
Para os especialistas, o sistema de metas no Brasil tem sido rígido por mais de duas décadas e necessita de atualizações. “Há muito tempo, venho defendendo a questão da mudança do ano-calendário. Imagine chegarmos em dezembro e haver um reajuste de combustíveis. Isso significaria que, mesmo estando dentro da meta durante o ano todo, no último mês, ela não seria cumprida”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. No entanto, o economista acredita que se houver alguma mudança nessa reunião, pode ser um aumento no limite de tolerância de 1,5 ponto percentual para 2 pontos percentuais. “Se houver alguma alteração, acredito que será nessa direção”.
A expectativa é que os indicados do governo no Banco Central sejam mais favoráveis a uma abordagem menos rígida. É importante lembrar que em breve o governo terá novos indicados no Banco Central, o que pode influenciar a postura em relação à meta de inflação. O Ministério da Fazenda expressou apoio à ideia de uma meta contínua, argumentando que isso permitiria uma atuação mais flexível diante de choques externos.