Rafael Cañas.
Bruxelas, 19 nov (EFE).- Em meio a uma grave crise econômica que causou na Espanha o maior nível de desemprego da União Europeia (UE) e sucessivos recordes das taxas de juros nos mercados de dívida, o governo que será eleito neste domingo terá que cumprir seus compromissos de redução do déficit e reformas estruturais com Bruxelas.
Assediado por vários lados (mínimo crescimento econômico e um elevado nível de dívida privada que freiam o consumo e o investimento necessários para gerar emprego), o novo Executivo espanhol terá suas possibilidades de ação restringidas para cumprir os objetivos aos quais se comprometeu, segundo várias fontes e analistas consultados.
‘A margem de atuação é muito limitada’, afirmou à Agência Efe uma destacada fonte de Bruxelas, que pediu expressamente o anonimato.
O próximo governo ‘poderá mudar alguns dos ingredientes da cesta’ de medidas, mas não muitos, e em todo caso não poderá modificar o objetivo final, destacou.
Esta visão é compartilhada por Karel Lannoo, diretor-executivo do Centro de Estudos Políticos Europeus (CEPS), um dos principais laboratórios de ideias de Bruxelas, para quem ‘não é possível fazer muita coisa a curto prazo’.
No entanto, o analista acredita que, além de uma acertada gestão econômica, a Espanha necessita de ‘visibilidade política em Bruxelas e no mundo’, algo que com José Luis Rodríguez Zapatero ‘não foi visto’, já que, em sua opinião, o atual presidente do governo esteve ‘um pouco inexistente’ na tomada de decisões da UE.
O objetivo dessa visibilidade é ‘explicar melhor a realidade espanhola’, e Lannoo citou o exemplo de como os bancos espanhóis foram os mais prejudicados nas decisões sobre recapitalização tomadas na cúpula comunitária de 26 de outubro, já que as fórmulas de calcular o risco foram feitas com critérios impostos por Alemanha e França, cujas entidades estão muito mais expostas à dívida grega.
Uma terceira fonte diplomática acha que o próximo presidente do governo terá que atuar ‘rapidamente’ com uma série de medidas que demonstrem, tanto aos mercados financeiros como às instituições comunitárias e à população, sua capacidade de tomar decisões ‘rápidas e claras’.
O certo é que o vencedor das eleições deste domingo herdará um país com uma taxa de desemprego de 22,6%, que crescerá 0,8% neste ano e que segundo a Comissão Europeia só alcançará um crescimento de 0,7% em 2011 e 2012.
Além disso, a Espanha deve cumprir seu compromisso para que o déficit público de 2012 seja de 4,4% do Produto Interno Produto (PIB), contra os 6% previstos para este ano, um dado que a Comissão Europeia acredita que será na realidade de 6,6% e que seria preciso corrigir.
Nestas circunstâncias, o Orçamento de 2012 é crucial para conseguir credibilidade, tanto em Bruxelas como nos mercados.
‘Os orçamentos são o elemento mais importantes da política econômica de um governo’, aponta a fonte comunitária, que lembra que fazem falta medidas que sejam cumpridas, já que ‘não vão ser os anúncios pela televisão que vão mudar a pressão dos mercados’.
Esta pressão vai seguir sendo ‘intensa’, inclusive durante um período depois das eleições, como coincidem todas as fontes.
O funcionário comunitário lembra que o novo governo não é o único que terá que seguir ajustando suas contas, ‘mas também as regiões espanholas’.
Outro ponto fundamental serão as reformas estruturais a longo prazo realizadas para que a economia espanhola recupere a competitividade que perdeu nos últimos anos.
A UE insiste que é preciso uma reforma trabalhista profunda, enquanto Lannoo acredita que, apesar do atual governo de Zapatero ter feito ‘algumas coisas boas’, é preciso ‘um trabalho de anos’ para recuperar a competitividade, fator que considera ‘o mais importante a longo prazo’.
Lannoo, que conhece bem a economia espanhola, já que é membro independente do conselho de administração da entidade que dirige a Bolsa de Madri, também descarta altas de impostos amplas, pois paralisariam ainda mais a economia, como já se viu na Grécia e Portugal.
Além disso, não acredita que o novo governo vá fazer cortes amplos nos salários e nos empregos dos funcionários públicos, já que correria o risco de sofrer os protestos sociais e a paralisação do Estado que ocorreram na Grécia. EFE