Lula cobra que Haddad dialogue mais com o Congresso ‘em vez de ler livro’
Além da cobrança ao titular da Fazenda, presidente chamou outros ministros para participarem mais da articulação política
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de seus ministros maior participação na articulação política com o Congresso Nacional.
Durante o evento de lançamento do programa Acredita, com medidas de crédito para pequenos negócios, o presidente pediu que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), seja “mais ágil” e converse mais com o Congresso. Haddad também levou “puxão de orelha” de Lula, que falou para o ministro deixar de ler livro e passe mais tempo dialogando com parlamentares.
“O Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais. O Haddad, em vez de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington (Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social), o Rui Costa (ministro da Casa Civil), passar maior parte do tempo conversando com bancada A, com bancada B”, afirmou o presidente nesta segunda-feira, 22. “É difícil, mas a gente não pode reclamar, a política é exatamente assim. Ou você faz assim ou não entra na política”, completou Lula.
A cobrança de Lula vem em um momento complicado da relação do Executivo com o Congresso Nacional. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou a chamar o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “incompetente”. Na chamada pública aos ministros, Lula, entretanto, não mencionou Padilha.
A expectativa é de que o presidente se encontre nesta semana com Lira e também com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para desarmar as pautas-bomba que estão tramitando no Congresso e que podem ter impacto de 70 bilhões de reais nos cofres públicos. Se passarem, essas matérias podem aumentar (ou inviabilizar) o esforço do governo para cumprir a meta de resultado primário deste ano, que é de déficit zero.
Na última semana, depois do anúncio da revisão de metas fiscais de 2025 até 2028, Haddad cobrou publicamente o Congresso de compromissos com o lado fiscal, pedindo um pacto com o Parlamento para a aprovação de medidas arrecadatórias. O ministro também pediu aos parlamentares para que houvesse cuidado em aprovar projetos que aumentassem gastos. O ministro inclusive antecipou sua volta de Washington (EUA), onde participava de encontros do G20, para articular as pautas econômicas no Congresso Nacional.
Além de tentar desarmar as pautas-bomba, Haddad tem outro desafio que exigirá esforço extra de negociação do governo: a regulamentação da reforma tributária. O governo deve enviar os textos ainda nesta semana. Questionado por jornalistas sobre a fala de Lula no evento cobrando mais articulação, Haddad riu. “Eu só faço isso na vida”, afirmou.
No ano passado, a articulação próxima de Haddad com os presidentes da Câmara e do Senado garantiu ao governo a aprovação de importantes medidas da agenda econômica, como a PEC da reforma tributária e o arcabouço fiscal. Na agenda política, o governo teve mais derrotas que vitórias, como a derrubada do veto do marco temporal.