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Governo tem poucos dias para exercer compra de vacina da Pfizer

Prazo dado pela Pfizer ao governo para a compra do imunizante desenvolvido pela farmacêutica se aproxima do fim; temperatura de armazenagem não é impeditivo

Por Felipe Mendes Atualizado em 19 mar 2021, 15h37 - Publicado em 5 dez 2020, 15h00

O Reino Unido e a Rússia largaram na frente. Na corrida pela vida, os britânicos e os russos foram os primeiros a aprovar o uso de um imunizante para combater a disseminação do novo coronavírus. A aplicação se iniciou pela Rússia, onde cerca de 5.000 pessoas receberam a dose da vacina Sputnik V neste sábado, 5. A partir da próxima semana, é a vez do Reino Unido começar a vacinação em massa de idosos e pessoas com comorbidades. Os britânicos garantiram milhões de doses do imunizante desenvolvido em parceria pelos laboratórios americano Pfizer e alemão BioNTech. No Brasil, onde mais de 175 mil pessoas perderam a vida para o vírus, essa realidade ainda parece distante. Embora o estado de São Paulo tenha recebido na última quinta-feira 3, uma remessa de 600 litros a granel da vacina Coronavac, da fabricante chinesa Sinovac, a imunização a nível nacional só deve se iniciar em meados de março de 2021. Em tratativas com o governo brasileiro desde maio, a Pfizer tenta firmar acordo para a distribuição de sua vacina no país. A empresa espera uma contrapartida em relação a uma proposta enviada ao governo para a entrega de milhões de doses em 2021. Essa proposta irá expirar em poucos dias.

Segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apenas “uma, duas ou três” opções de laboratórios podem desenvolver vacinas contra Covid-19 com quantidade e cronograma eficazes para atender as necessidades do Brasil. Ele afirmou, ainda, que o país deve receber 15 milhões de doses de um imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford em parceria com a Fiocruz no início de 2021. O montante faz parte da entrega de 100 milhões de doses ao longo do primeiro semestre em um acordo avaliado em 1,9 bilhão de reais – quantia liberada pelo Congresso nos últimos dias. O ministro, no dia 1º, foi sincero (até demais) ao dizer que a vacina ideal, na visão da pasta, teria aplicação em dose única e seria armazenada de 2ºC a 8ºC, atendendo a uma necessidade do Sistema Único de Saúde, o SUS. Ainda que o general tenha ponderado, afirmando que se tratava apenas de um “perfil desejado”, muitos entraram em parafuso. O motivo para o pânico é simples: das vacinas desenvolvidas, somente a da farmacêutica Janssen, da Johnson & Johnson, é de aplicação única. O imunizante para Covid-19 desenvolvido por Pfizer e BioNTech, além de requerer duas “agulhadas”, precisa ser mantido a uma temperatura de -70ºC.

Não é bem assim. Em entrevista a VEJA, representantes da Pfizer explicam que a vacina pode atender à temperatura de armazenagem desejada por parte do Ministério da Saúde. “A Pfizer desenvolveu um mecanismo inovador. Trata-se de uma caixa que é capaz de manter as vacinas a -75°C durante 15 dias com reposição de gelo seco”, diz o mexicano Alejandro Lizarraga, diretor da área de vacinas da Pfizer Brasil. “Fora dessa caixa, essa vacina pode ficar até cinco dias antes da vacinação em um refrigerador comum, armazenada entre 2ºC e 8ºC”, complementa. Como trunfo, os executivos da empresa ressaltam os diversos acordos firmados com países da América Latina, que têm condições climáticas semelhantes ao Brasil. “É importante salientar que essa proposta que nós fizemos para o governo brasileiro vai atender a características geográficas e climáticas do país. Fechamos acordos com Chile, Peru, Panamá, México e Costa Rica, países que têm condições parecidas com as do Brasil. Portanto, consideramos que a nossa solução é viável”, reitera Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil. Por outro lado, não há possibilidade de a vacina ser aplicada em dose única. Para garantir a eficácia do imunizante, é necessário que se aplique em duas doses intercaladas por 21 dias.

À medida em que outros países manifestam interesse de compra da vacina desenvolvida pela Pfizer, há menos doses disponíveis. Segundo a companhia, 50 milhões de imunizantes serão desenvolvidos em 2020, e 1,3 bilhão em 2021. Se não responder à farmacêutica nos próximos dias, o Brasil ficará em segundo plano nessa corrida. “A cada dia, o número de doses disponíveis para locação diminui consideravelmente, justamente por conta do interesse global na vacina desenvolvida por Pfizer e BioNTech”, diz Lizarraga. “Após expirar essa proposta de fornecimento, a quantidade de doses disponíveis mudará consideravelmente, sendo possível não garantir mais o fornecimento para o país durante os seis primeiros meses de 2021”. Em entrevista coletiva, Pazuello descartou a pressa e deu a entender que pode obter o imunizante de outra forma. O Ministério da Saúde aderiu, em setembro, ao Acesso Global de Vacinas Covid-19 (Covax Facility), um consórcio de países criado pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, para garantir acesso equitativo a uma vacina para combater a enfermidade. “O Brasil aderiu a esse consórcio já com uma opção de compra e recebimento de 42 milhões de doses, que poderá ser de uma das 10 fabricantes que fazem parte do consórcio, inclusive, da própria AstraZeneca ou da Pfizer”.

Na última quarta-feira 2, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou os critérios para uma modalidade especial de autorização emergencial de vacinas contra a covid-19 em caráter experimental. Esse modo simplificado terá menos exigências do que os registros de outros medicamentos e tratamentos. A Pfizer pretende submeter seu imunizante para o uso emergencial no país. “Por enquanto, nós estamos trabalhando com a submissão contínua. Estamos analisando os critérios para a autorização de uso emergencial. E temos interesse em entrar por esse caminho também”, diz Márjori. Seja a vacina da Pfizer a escolhida ou não, o país espera que opções de imunizantes estejam disponíveis em breve.

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