Fed indica mudanças no plano de estímulo da economia americana
Órgão considera modificar a estratégia de compra de títulos públicos; mesmo com queda do dólar, a cotação do real depende de equilíbrio fiscal no Brasil
Diante da gradual e incerta recuperação da economia dos Estados Unidos, os economistas do Federal Reserve e dos bancos centrais estaduais discutiram a possibilidade de modificar a estratégia de compra de títulos públicos americanos no futuro, o que mudaria a injeção de liquidez nos mercados e a desvalorização do dólar nos mercados globais. Em ata publicada nesta quarta-feira, 25, da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) realizada nos dias 4 e 5 de novembro, “muitos participantes [da reunião] julgaram que o Comitê pode querer melhorar sua orientação para compras de ativos em breve”. Além disso, o documento afirma que “a maioria dos participantes julgou que a orientação para compras de ativos deve implicar que os aumentos nas participações de títulos do Comitê diminuiriam e cessariam algum tempo antes de o Comitê começar a aumentar a faixa-alvo para a taxa de fundos federais”.
Mesmo assim, a trajetória do dólar frente ao real dependente menos da postura que o Fed adotar, uma vez que o aumento da dívida pública brasileira pesa no equilíbrio fiscal do país e, consequentemente, na cotação da moeda americana. Desde que a pandemia da Covid-19 se disseminou nos Estados Unidos, em março, o Fed baixou as taxas de juros básicas da economia de 1,25% para a faixa de 0 a 0,25%, como forma de incentivar a economia. Além disso, foi injetada uma enxurrada de dólares por meio de compras de Títulos Públicos para aumentar a liquidez, com o instrumento chamado “quantitity leasing”. Atualmente, são despejados 120 bilhões de dólares por mês na economia americana por meio dessa política.
A ata do Fed deixou claro que pode ocorrer no futuro próximo a decisão de moderar esse programa, mas o comitê ficará atento à divulgação dos indicadores econômicos e o que eles dizem sobre a recuperação da economia americana. Apesar de, no terceiro trimestre, ela ter se recuperado bem — como mostrou a prévia do PIB divulgada hoje e o índice de atividade industrial em novembro em níveis recordes –, a estabilização econômica e, principalmente, a recuperação de empregos só será mais segura quando houver a vacinação da população. Mesmo após a imunização, como o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, tem declarado, o caminho será longo para a plena retomada.
No final do dia desta quarta-feira, 25, o índice DXY estava em queda de 0,24%, indicando que o dólar perde força em relação a uma cesta de moedas, principalmente ao euro. Já no Brasil, por volta das 17h50 o dólar comercial estava em queda de 1,01%, cotado a 5,3212 reais. Na oscilação diária a moeda brasileira se valorizou bastante, porém, no acumulado do ano, ela caiu muito em relação ao dólar, principalmente devido ao aumento dos gastos públicos com a pandemia e o crescente déficit fiscal do país.
Apesar da tendência de queda do dólar em relação aos emergentes após a eleição do democrata Joe Biden, Adriano Cantreva, sócio do Portofino Investimentos, é mais cauteloso ao fazer previsões sobre o futuro da moeda americana. “O argumento de que o dólar vai cair é relativo, o que conta é o que o outro país fará em relação aos seus juros”, diz ele. No Brasil, por exemplo, a tendência é de subida da Selic caso não haja andamento das reformas, já que as curvas das taxas de títulos de longo prazo estão altas. Se isso acontecer e os juros americanos se mantiverem baixos, a tendência é de valorização do real. “Se a inflação começar a subir, o governo vai tomar uma providência, mas ainda é muito cedo para fazer uma coisa ou outra”, diz Cantreva.