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Ex-guerrilheiros filipinos trocam armas por ferramentas de caça e pesca

Por Da Redação
25 dez 2011, 09h04

Eric San Juan.

Taguiti (Filipinas), 25 dez (EFE).- Os muitos anos de luta nas selvas do sul das Filipinas deixaram uma profunda marca nos guerrilheiros que trocaram o fuzil pelas ferramentas de lavoura e de pesca.

Apesar da mudança consentida para essa outra forma de vida, os combatentes sentem ainda as dificuldades para se adaptar à nova rotina.

Já se passaram mais de 15 anos desde que o Governo filipino e os rebeldes da Frente Moro de Libertação Nacional (FMLN) selaram o acordo de paz que representou a desmobilização de 20 mil guerrilheiros, a maioria veteranos acostumados a uma vida espartana sempre ao lado de suas armas.

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‘Muitos soldados que durante anos não fizeram outra coisa a não ser combater e viviam do que as comunidades pagavam tiveram de reaprender a ganhar a vida’, revela à Agência Efe James Abdul, voluntário da associação de defensores da paz e do desenvolvimento na ilha de Mindanao.

Abdul conta que quando a guerrilha assinou a paz retendo o status de organização política e parte de seu arsenal, 5 mil soldados se uniram ao Exército filipino e outros 2,5 mil ingressaram na Polícia, adesões previstas na cláusula do pacto oferecido aos combatentes.

Mais 4 mil optaram por colaborar com as ONGs dedicadas à melhoria das condições de vida nas pobres comunidades nas quais ainda hoje subsistem a duras penas as famílias dos outros 10 mil combatentes restantes.

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O sustento diário provém do que dá a cada vez mais fraca pesca e as rudimentares tarefas agrícolas, duas atividades para as quais nunca foram instruídos.

‘Vivemos principalmente da coleta e da venda de algas. Também pescamos e cultivamos produtos na terra, mas o problema é que não temos tecnologia e o Governo não nos ajuda como prometeu’, lamenta Sarace Mohammed, chefe de assuntos militares do FMLN, no acampamento de Taguiti, a 800 quilômetros ao sul de Manila.

Mohammed, de 60 anos, que entrou para a guerrilha no início da década de 70, diz que embora não pense em retomar a luta armada, ele e os cerca de 250 homens de seu povoado treinam frequentemente com as armas que guardaram.

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‘Temos todas as armas escondidas na montanha. Treinamos para nos manter em forma e preservar o conhecimento, pois nós militares temos de fazê-lo, embora não pensemos em pegar em armas, somos assim. Continuo me sentindo um combatente’, admite Mohammed.

O responsável militar pelo acampamento mostra com orgulho um cartaz com o desbotado logotipo do FMLN que ficava afixado no velho quartel.

Para Abdul, a continuidade desses costumes militares não é preocupante porque ‘as comunidades já conhecem a vida em paz e não vão permitir que haja um retrocesso, por mais que alguns líderes militares cogitem a ideia de vez em quando’.

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‘Muitos são vereadores, experimentaram novas formas de Governo e a melhoria para todos que representa a paz’, acrescenta.

Situada em uma idílica enseada, protegida pelas montanhas e a espessa selva circundante, o então acampamento é agora um aprazível povoado de mil habitantes apenas alterado pelo cacarejo dos galos e os chamados para a oração a partir da pequena mesquita.

A maioria dos casebres não dispõe de luz elétrica e o centro médico mais próximo fica a 25 quilômetros em sinuosos caminhos sem asfalto que qualquer chuva transforma em um lamaçal.

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Abdul explica que o subdesenvolvimento destas comunidades é maior nos dias de hoje por causa da desconfiança que há entre o FMLN e os Governos locais, embora acredite que alguns projetos bem-sucedidos abram a porta à esperança.

Este voluntário cita como exemplo a cooperativa agrícola formada em Taguiti por um grupo de 29 mulheres com o apoio da ONG local Act for Peace e da ajuda espanhola para a venda de algas e da polpa seca de coco.

‘No início íamos até a cidade, a 40 quilômetros, usando transporte público, mas depois de meses de trabalho conseguimos comprar um pequeno caminhão. Uma vez ao ano dividimos o lucro e damos uma pequena ajuda para nossas famílias’, declara Rasmia Lawan, uma das fundadoras da cooperativa.

Abdul ressalta que os programas são necessários para ‘reconstruir a confiança de comunidades às quais os Governos locais não são capazes de oferecer serviços básicos’.

O trabalho de voluntários como ele permitiu o desenvolvimento de 278 comunidades na ilha de Mindanao, mas centenas ainda vivem sem nenhum tipo de assistência em condições precárias.

O Governo e o FMLN assinaram a paz em 1996 em troca de uma maior autonomia para as províncias de influência muçulmana, mas com a cisão, a Frente Moro de Libertação Islâmica, continuou ativa com 12 mil combatentes e mantém desde março negociações com o Executivo. EFE

esj/dm/ma

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