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“Estresse bancário só acaba com virada monetária”, diz ex-diretor do BC

Para Tony Volpon, crise das financeiras é gerada pela alta de juros e demanda nova postura de bancos centrais

Por Felipe Erlich Atualizado em 17 mar 2023, 13h10 - Publicado em 17 mar 2023, 11h01

Episódios recentes de crises agudas em bancos ocorrem em meio a um cenário de taxas de juros elevadas no mundo. O grau de protagonismo do aperto monetário nesse cenário é objeto de debate entre economistas, mas se trata de um elemento indispensável para compreender a derrocada dos americanos Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank – que quebraram na última semana – e do suíço Credit Suisse – esse ainda de pé, mas mancando. Para o ex-diretor do Banco Central (BC) Tony Volpon, os juros altos são grandes condicionantes da crise, com sua redução sendo condição necessária para que os bancos voltem a ter tranquilidade. “O que une esses episódios são os efeitos da alta de juros sobre essas instituições, que foram induzidas a tomar risco de juros pela política monetária de poucos anos atrás e agora têm de encarar uma realidade muito diferente”, diz.

Se tratando de um problema ocasionado por um contracionismo econômico descabido na visão de Volpon, o movimento lógico por parte dos bancos centrais seria a interrupção ou até reversão da alta de juros. Entretanto, não há grandes sinalizações nesse sentido por parte dos reguladores, algo que o ex-integrande do BC classifica como estado de negação. “Historicamente, sempre passamos por esse primeiro momento em que as autoridades não querem reconhecer que é um problema sistêmico causado pela política monetária. Ficam tentando convencer o mercado que não é sistêmico. A primeira coisa para a crise acabar é as autoridades reconhecerem. Elas têm que ‘panicar’ e nós não estamos lá ainda”, diz.

Volpon não poupa instituições como o Federal Reserve (Fed) e o Banco Central Europeu (ECB) da responsabilidade: “O estresse continua até que haja uma virada de chave na política monetária”.

Também fazendo uma análise histórica, o economista reconhece de positivo que o momento é mais favorável que o da crise financeira de 2008, ao menos em alguns aspectos. Desde essa última grande crise, que ainda assombra parte do mercado, o sistema bancário foi aperfeiçoado, aponta, mas não se tornou invulnerável. “As franjas mais fracas sofrem. É isso que está acontecendo. Começa pelas franjas e, se a política econômica – nesse caso a monetária – não reagir, a coisa vai se alastrando”, conclui.

Com a próxima reunião do Fed marcada para a próxima semana, em que o banco decidirá sobre o futuro dos juros, Volpon não está otimista quanto à deliberação da autoridade monetária. Sua defesa de um corte nos juros contrasta com a expectativa, inclusive do mercado, por um pequeno aumento. Na quarta-feira, também há decisão de juros no Brasil. Aqui, o ciclo de alta se iniciou em março de 2021 e fez a taxa chegar a 13,75% ao ano, patamar em que se encontra hoje.

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