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Entenda o que provocou a segunda maior falência bancária dos EUA

Quebra do Silicon Valley Bank (SVB), banco californiano das startups, gera preocupações sobre um possível efeito cascata no mercado financeiro

Por Luana Zanobia Atualizado em 13 mar 2023, 19h58 - Publicado em 13 mar 2023, 12h37

A quebra do Silicon Valley Bank (SVB), banco californiano das startups, resultou em perdas de mais de 100 bilhões de dólares em valor para instituições nos Estados Unidos na última semana, se tornando a segunda maior falência bancária desde a crise financeira de 2008 que eclodiu com o Lehman Brothers. O caso gera preocupações sobre um possível efeito cascata no mercado financeiro, a exemplo do que aconteceu no passado, e temores de que outros bancos possam ter problemas devido as altas taxas de juros para combater a inflação. 

Para minimizar as consequências do colapso do SVB no sistema financeiro, o governo americano formou uma força-tarefa. As autoridades monetárias, incluindo o banco central dos EUA (Fed), o Tesouro e a FDIC, afirmaram que todos os clientes do banco terão acesso a todo o dinheiro, independentemente do valor dos depósitos, para evitar uma corrida de saques em bancos de pequeno porte. A FDIC é uma organização equivalente ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no Brasil, que é mantida pelos bancos para garantir aos correntistas o reembolso de uma quantia limitada em caso de falência de uma instituição. Nos Estados Unidos, esse limite é de 250 mil dólares, mas muitas contas do SVB excedem esse valor. 

Além disso, um programa de empréstimo de emergência será criado para fornecer recursos aos bancos, com 25 bilhões  de dólares disponíveis em troca de títulos do Tesouro dos EUA, dívidas e títulos lastreados em hipotecas. O objetivo é evitar que os bancos sejam forçados a vender títulos do governo abaixo do preço de mercado para cobrir saques de clientes. As autoridades afirmaram que nenhuma perda associada à dissolução do SVB recairá sobre o contribuinte e que os ativos serão precificados pelo seu valor original. Essa medida pode ser uma solução para as instituições financeiras que sofreram perdas devido à queda dos valores dos títulos que detêm, já que foram comprados quando os juros estavam baixos e agora caíram com o aumento das taxas do Fed. “Esperamos que essas medidas forneçam liquidez substancial aos bancos que enfrentam saídas de depósitos e melhorem a confiança entre os depositantes. À luz do recente estresse no sistema bancário, não esperamos mais que o FOMC entregue um aumento de taxa em sua próxima reunião com considerável incerteza sobre o caminho além de março”, escreve o Goldman Sachs em relatório.

Fundado há 40 anos no Vale do Silício, o SVB é um banco especializado em atender startups que encontravam dificuldades em obter crédito de grandes bancos. Com 209 bilhões de dólares em ativos e 175,4 bilhões de dólares em depósitos no final de 2022, o SVB era o 16º maior banco dos Estados Unidos. Com a queda das taxas de juros em 2020 e 2021, o banco teve um aumento significativo em seus depósitos, que foram aplicados em títulos públicos pré-fixados de longo prazo, considerados seguros, mas com baixo retorno. O problema agravou-se quando a inflação aumentou e o FED adotou uma política monetária austera, elevando a taxa de juros de zero para quase 5%. Isso foi um dos principais fatores que contribuíram para a crise de liquidez e a queda do Silicon Valley Bank.

Para atender às solicitações de saque de seus clientes, o banco vendeu 21 bilhões de dólares em títulos pré-fixados, sofrendo um prejuízo de 1,8 bilhão de dólares. Para recuperar essa perda, o SVB anunciou uma oferta de ações, mas suas ações caíram 60%, levando os clientes a sacar 42 bilhões de dólares, um quarto dos ativos da instituição. O SVB é a primeira instituição com depósitos garantidos pela corporação federal a quebrar desde 2020, segundo a FDIC, o que aumenta a preocupação no mercado. “Embora o SVB seja uma instituição regional, é importante lembrar que cerca de 30% dos depósitos bancários nos EUA são realizados em bancos menores, o que pode levar a um ‘efeito dominó’ em bancos maiores e deve ser evitado pelas autoridades”, avalia Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos. Dois dias após o caso da SVB, o Signature Bank, que contava com várias empresas do setor criptomoedas, também decretou falência.

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Desde a crise financeira de 2008, os bancos são submetidos a testes de estresse regulares e têm que fornecer garantias aos reguladores de sua capacidade de resposta a situações de estresse.  “Esse evento de liquidação de um banco afeta todo o sistema financeiro, colocando em xeque a qualidade dos critérios dos reguladores; como aconteceu em 2008, após a falência do Lehman Brothers. Acreditamos que a tendência é o SVB acabar sendo adquirido por uma outra instituição, o que evitaria maior temor do mercado e reduziria volatilidade nas bolsas no curto prazo” diz Ricardo Veles, CIO da Futurum Capital, fundo de ventura capital de alta tecnologia.

 

Efeitos

Empresas brasileiras que mantinham dinheiro no SVB também podem ser afetadas pelo colapso do banco. O Brasil é um importante mercado para o SVB, que tem uma filial no país desde 2007 e atende startups e empresas de tecnologia. É possível que as empresas brasileiras que têm contas no banco enfrentem dificuldades para recuperar seus depósitos e para acessar linhas de crédito. Além disso, o colapso do SVB pode ter impacto no mercado de venture capital, que depende do financiamento de startups. Investidores e empreendedores podem ficar mais cautelosos na hora de investir ou buscar investimento, o que pode prejudicar o desenvolvimento de novos negócios.

O colapso do SVB ainda não é indicativo de uma crise financeira mais séria nos Estados Unidos ou em outros países. As medidas adotadas pelas autoridades americanas parecem ter sido efetivas em acalmar os mercados e em proteger os depósitos dos clientes do banco. Além disso, o SVB é um banco relativamente pequeno em comparação com os grandes bancos americanos, o que limita o impacto do seu colapso no sistema financeiro como um todo. Porém, o momento é de atenção e cautela. 

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