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Enchentes no RS: os possíveis efeitos na inflação e no PIB

Estado é o maior produtor de arroz do país e tem forte produção de soja, milho, carnes e laticínios

Por Da Redação Atualizado em 8 Maio 2024, 13h54 - Publicado em 7 Maio 2024, 16h48

Tragédia que já soma 90 mortos e 204 mil desabrigados, as enchentes no Rio Grande do Sul (RS) devem deixar efeitos visíveis na economia brasileira. O estado possui o quinto maior PIB do país e responde por 6% do produto interno bruto nacional. Além disso, corresponde a cerca de 8,6% do peso atual da cesta do IPCA. 

Forte no setor agropecuário, o RS é o maior produtor nacional de arroz, respondendo por 70% da produção do grão no país. Ele também se destaca na produção de outros grãos (como soja e milho), laticínios e carnes. Com estradas bloqueadas pelas enchentes, esses produtos permanecem sem ser escoados para o resto do país — o que pode interferir nos preços.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, informou que, por causa da crise no estado, as negociações de sacas de arroz travaram nos últimos dias. “A liquidez no mercado de arroz em casca foi praticamente nula na última semana. Ainda assim, os preços do cereal se mantiveram firmes, sustentados pela demanda de outros estados, embora sem sucesso nas efetivações”, disse o instituto em nota.

Na manhã desta terça-feira, o presidente Lula disse que cogita importar arroz e feijão para controlar os prejuízos nas safras. “Agora com a chuva eu acho que nós atrasamos de vez a colheita (do arroz) do Rio Grande do Sul. Se for o caso para equilibrar a produção, a gente vai ter que importar arroz, a gente vai ter que importar feijão para que a gente coloque na mesa do povo brasileiro um preço compatível com aquilo que ele ganha”, disse.

Cálculos da consultoria Datagro estimam que o desastre climático no RS deve gerar perdas de 10% a 11% na produção de arroz do estado e um prejuízo de 68 milhões de reais aos agricultores da região. Antes das chuvas, a projeção era de que o estado colhesse 7,5 milhões toneladas do grão neste ano. Agora, é provável que a safra atinja no máximo 6,8 milhões de toneladas. Dos 150 mil hectares que ainda não passaram pela colheita do arroz, 30% estão em regiões afetadas pelo temporal.

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Ao todo, o RS tem 397 dos seus 497 municípios com algum relato de problema relacionado às chuvas e totaliza 1,4 milhão de pessoas afetadas, segundo os dados mais recentes da Defesa Civil.

O estado também é grande produtor de soja e milho. Segundo a Datagro, os produtores gaúchos devem perder de 3% a 6% da safra de soja e embolsar um prejuízo entre 125 milhões e 155 milhões de reais. O RS representa 14,8% da produção nacional da commodity prevista para 2024. A Datagro afirma que a súbita queda na produção pode gerar “algum impacto” sobre as cotações internacionais e domésticas.

Já o milho deve ter perdas de 2% a 4%, com prejuízo de 7 milhões a 12 milhões de reais aos produtores. “Também aqui com leve impacto altista imediato sobre os preços locais. Mas sem peso para mexer significativamente no cenário de preços conservador do mercado internacional”, afirma o relatório da Datagro.

A consultoria LCA ainda destaca que as pressões de preços da soja e do milho podem influenciar diretamente os preços de proteínas, já que os grãos servem de ração para o gado, aves e suínos. A consultoria também elevou a expectativa anual dos preços do trigo e subgrupo Leites e Derivados. O subgrupo das frutas subiu modestamente, já que a colheita de uva já aconteceu.

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Esses elementos fizeram a estimativa da LCA para o grupo Alimentação no Domicílio do IPCA subir de +3,9% para +4,5%.

O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, disse nesta terça-feira que o banco tem acompanhado de perto os possíveis efeitos das enchentes sobre o PIB. “De fato, é tudo muito cedo para a gente conseguir ter uma avaliação mais clara. O Rio Grande do Sul representa 6,5% do PIB brasileiro. Passando por uma situação como essa, é claro que pode e terá impactos no PIB nacional” disse em conversa com jornalistas após divulgação dos dados do banco do 1tri. Ele apontou que o Índice Diário de Atividade Econômica do Itaú (Idat) mostra que todos os setores da economia estão registrando quedas acima de 15% no seu faturamento nos últimos dias.

No último Relatório de Estabilidade Financeira do Banco Central, divulgado em abril, o BC nota que as instituições financeiras brasileiras estão mais preocupadas sobre os possíveis efeitos das mudanças climáticas no sistema financeiro nacional. “Embora o impacto relatado de eventos climáticos em 2023 tenha sido muito baixo nas instituições, os riscos físicos devem ganhar relevância em horizontes mais longos. Os principais destaques são os efeitos decorrentes de secas, escassez de recursos naturais e desertificação.”

Entre os principais problemas ao sistema financeiro, as 83 instituições consultadas pelo BC citam danos aos processos produtivos, aumento de custos e da inadimplência.

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Os respondentes avaliaram que o impacto e a probabilidade de ocorrência de desastres climáticos no longo prazo aumentaram. A seca é o evento climático de maior impacto esperado nas instituições financeiras no longo prazo. Quanto a riscos climáticos crônicos, elas consideram escassez de recursos naturais e desertificação como os mais relevantes.

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