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Empresas de varejo e alimentação invadem mercado de contas digitais

Novas carteiras servem para fazer compras e pagar boletos sem a necessidade de uma agência. Movimentação preocupa bancos tradicionais

Por Victor Irajá Atualizado em 1 jul 2019, 16h59 - Publicado em 28 jun 2019, 07h00

Na última vez que pesquisou o assunto, em 2013, o IBGE constatou que mais de 60 milhões de brasileiros não tinham relação alguma com os bancos — utilizavam só dinheiro vivo para comprar, quitar dívidas etc. Da próxima vez que saírem em campo para fazer um novo levantamento, os pesquisadores do instituto dificilmente encontrarão números similares. Há duas semanas, o Facebook anunciou a criação da carteira digital Calibra, uma iniciativa robusta, com apoio de pesos-pesados como Mastercard, PayPal, Visa, eBay, Spotify, Uber e Mercado Pago. O produto funcionará como uma conta digital, que permitirá transações via Whats­App e Messenger com o uso de uma moeda própria, que ganhou o nome de libra. Apesar da resistência de bancos centrais europeus e dos Estados Unidos, trata-se de uma iniciativa sofisticada, com ambições globais — só no Brasil são 130 milhões os usuários da rede social —, mas é a oferta de carteiras digitais mais modestas que está explodindo por aqui. Elas servem para fazer compras e pagar boletos sem a necessidade de uma agência bancária. Cada vez mais companhias se empenham para ter uma conta de pagamento para chamar de sua. Resultado: o país já possui 151 delas em operação no mercado. A novidade vem sendo oferecida por empresas de setores que nada têm a ver com instituições financeiras — caso da varejista Riachuelo, da produtora de cosméticos Natura, da locadora de patinetes elétricas Yellow e da fábrica de chocolates Cacau Show.

No começo do mês, a Via Varejo, dona das Casas Bahia e do Pontofrio, anunciou o lançamento da própria conta digital, a banQi. Com a empreitada, planeja inserir as classes C, D e E em instituições financeiras, além de tentar estabelecer uma relação direta com os 4 milhões de pessoas que, hoje, usam cartões que suas lojas oferecem em parceria com bancos tradicionais. Na verdade, a Via Varejo apenas segue uma tendência de mercado entre os concorrentes. A B2W, que comanda marcas do quilate de Americanas, Shoptime e Submarino, pôs na praça a própria carteira digital em maio do ano passado. O aplicativo já foi baixado por mais de 2 milhões de clientes e oferece serviços como depósitos, transferências e pagamento de boletos. A B2W vai ainda mais longe: a novata no ramo não está autorizada a emprestar dinheiro a pessoas físicas, no entanto pode cuidar da intermediação entre as instituições financeiras que fazem isso e seus clientes, cobrando uma taxa pela operação.

Cabe explicitar a diferença entre os bancos, digitais ou não, e essas contas de pagamento. Um banco precisa preencher certos requisitos, como participar do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — que protege o cliente, até um determinado valor, em caso de falência da instituição — e cumprir a exigência de que exista um número de conta vinculado ao CPF do consumidor, de modo que todos os serviços listados, como transferências por DOC ou TED, sejam assegurados. As contas de pagamento, normatizadas pelo Banco Central em 2013, somente intermedeiam a relação entre o consumidor e o dinheiro. Não podem fazer câmbio nem usar o dinheiro dos clientes para operar crédito. Os valores alocados pela clientela devem ser integralmente depositados no BC ou ter lastro em títulos públicos. A facilidade para lançar contas digitais é tanta que já existem companhias à procura de celebridades e times de futebol para atrelar ao seu serviço. “As carteiras digitais tendem a se segmentar cada vez mais, oferecer serviços específicos para nichos, mas aqueles que entrarem no mercado para ser apenas carteiras digitais vão se perder pelo caminho porque já existem empresas consolidadas”, explica o professor Bruno Diniz, do curso de fintechs da Fundação Getulio Vargas.

Os bancos tradicionais, é claro, acompanham a tendência com preocupação. Todos eles já oferecem contas digitais, porém mesmo assim estão perdendo espaço. Entre 2014 e 2018, o total de clientes de instituições financeiras concentrado nos cinco maiores bancos do país caiu de 72,3% para 64,5%. Diante desse cenário, seu desafio, mais do que nunca, é inovar.

Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641

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