Discussão econômica foca em fim dos estímulos do Fed
Os Brics pediram 'cautela' ao G20 e alertaram para as consequências da mudança da política monetária do Fed
O grupo dos Brics (formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) alertou nesta quinta-feira que o fim do programa de compra de títulos do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) pode ter um impacto profundo sobre a economia global. O mesmo alerta já foi feito pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
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Falando antes do início da cúpula do G20 – durante a qual as questões econômicas e o possível ataque à Síria devem liderar as discussões -, os países deixaram claras suas preocupações sobre a esperada redução da política de estímulo monetário do Fed.
Os Brics pediram que a demanda global seja impulsionada pelas vinte maiores economias globais, para garantir que qualquer mudança na política monetária dos EUA seja bem indicada para minimizar quaisquer “contágios” problemáticos que possam vir como resultado.
“A eventual normalização das políticas monetárias precisa ser efetivamente e cuidadosamente calibrada, e claramente comunicada”, informaram os Brics, após reunião de seus líderes em São Petersburgo, na Rússia.
O chairman do Fed, Ben Bernanke, provocou vendas generalizadas em moedas de mercados emergentes, ações e títulos e uma fuga para o dólar quando levantou em maio a possibilidade de reduzir o programa de compra mensal de títulos no valor de 85 bilhões de dólares pelo Fed.
Fundo de reservas – Os Brics também concordaram em contribuir com 100 bilhões de dólares para um fundo conjunto de reserva cambial. A China contribuirá com 41 bilhões de dólares; Brasil, Índia e Rússia com 18 bilhões de dólares cada um; e a África do Sul, com 5 bilhões de dólares.
Comércio – Brasil e Argentina debateram a recusa à renovação do acordo chamado Stand Still – iniciativa do G-20 para tentar barrar a adoção de medidas protecionistas – ao longo dos últimos meses. Segundo um dos diplomatas que participaram do debate, os dois países entendem que a melhor instância para qualquer decisão a respeito desse assunto é a Organização Mundial do Comércio (OMC) e não o G-20.
Diplomata da área de comércio exterior que participou das conversas entre os dois países disse que Brasil e Argentina “entendem que o G-20 não é o ambiente mais adequado” para debater o comércio exterior mundial. Por isso, explica, os dois países anunciaram na quarta-feira que são contrários à prorrogação do acordo em que grandes economias se comprometiam a não elevar alíquotas de importação e adotar outras medidas protecionistas.
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“Os países querem deixar claro que a instância mais adequada para esse tema é a OMC. Não é o G-20”, disse o diplomata. Nos últimos anos, a Argentina ficou conhecida internacionalmente pelas medidas protecionistas que dificultam enormemente a entrada de produtos estrangeiros ao país. Até livros e outras publicações foram alvo de medidas do governo Cristina Kirchner. No Brasil, alguns segmentos de importados foram duramente afetados durante a crise para incentivar a indústria nacional, como os automóveis.
Com o voto contrário dos dois países sul-americanos, não deve ser renovado o acordo costurado inicialmente em 2008 como uma maneira de impedir o estreitamento do comércio internacional diante de uma economia global em crise. A proposta rejeitada por brasileiros e argentinos queria estender o acordo até 2016.
(com Estadão Conteúdo e Reuters)