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Carlos Wizard: dos braços de Doria ao berço do bolsonarismo

Defensor da cloroquina como tratamento para a Covid-19, empresário refuta candidatura em Campinas e assume secretaria importante no Ministério da Saúde

Por Felipe Mendes Atualizado em 3 jun 2020, 10h16 - Publicado em 3 jun 2020, 09h31

Os rumos da vida do empresário, filantropo e missionário Carlos Wizard Martins, de 63 anos, viraram do avesso em menos de duas semanas. No início de abril, ele manteve conversas com representantes dos partidos PSD e PSDB para uma possível candidatura à prefeitura de Campinas (SP), cidade onde sua família reside. Wizard chegou a receber um telefonema do governador do estado paulista João Doria para reforçar o convite. Filiou-se ao PSDB a pedido do amigo, mas, poucos dias depois, surpreendeu ao recusar a oferta. Pelo menos, é o que diz. Entre os tucanos, a conversa é outra. Wizard teria pleiteado semanas a fio uma posição junto ao deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP), mas seu nome teria sido barrado por alguns membros do diretório do partido na cidade.

“O Carlos Wizard manteve conversas com o prefeito de Campinas, Jonas Donizete, e o deputado Carlos Sampaio. Ele manifestava interesse em se candidatar, mas o diretório municipal de Campinas acabou tomando outros rumos”, diz Marco Vinholi, presidente estadual do PSDB. Fato é que uma semana após a recusa para concorrer ao cargo executivo na terceira maior cidade de São Paulo, Wizard recebeu uma ligação do general Eduardo Pazuello, hoje ministro da Saúde interino, convidando-o para ser conselheiro na pasta.

Com a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, em 15 de maio, o então secretário-executivo da pasta, Pazuello, ascendeu. Ainda que de forma interina, assumiu o ministério mais importante no combate ao novo coronavírus – e não deve largar a posição tão cedo. Mas não foi só o general que galgou uma maior importância na pasta. O empresário Wizard, de conselheiro, irá assumir o cargo de secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde – posição vaga desde o último dia 21 de maio. O pedido veio do amigo Pazuello, porém a nomeação ainda não foi publicada no Diário Oficial da União.

Filantropo, Wizard conheceu o general em Roraima, onde permaneceu por dois anos em um trabalho de acolhimento a refugiados venezuelanos, que pediram abrigo a países vizinhos diante do descalabro protagonizado por Nicolás Maduro. Pazuello coordenava a Operação Acolhida, força-tarefa humanitária criada em 2018, no governo de Michel Temer. “Eu recebi essa nomeação à Brasília como uma extensão do meu trabalho de filantropia. Disse ao general Pazuello que aceitava em condição pro bono. Não preciso de remuneração. Já tenho a minha vida resolvida com as minhas empresas”, diz Wizard. O empresário projeta ficar no cargo ao lado do ministro interino, pelo menos, até o fim deste ano. “A nossa missão original é de 90 dias, prorrogáveis por outros 90 dias. Estou me programando para ficar no ministério até o fim do ano.”

Wizard deixou a tranquilidade de sua casa em Campinas e embarcou numa difícil missão em um governo que perde apoio semana a semana. Apesar de sempre ter declarado que não se envolveria com política, o empresário mostra-se à vontade em seu novo habitat. Publicações recentes em seus perfis em redes sociais mostram que, em pouco tempo, Wizard já posou para fotos com o presidente Jair Bolsonaro; a primeira-dama Michelle; o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Missionário da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, ele tenta catequizar a alta cúpula do governo com uma mensagem de esperança e de patriotismo. Afirma, no entanto, que não tem pretensões políticas. “Em nenhum momento desde que cheguei a Brasília, fui procurado, contatado ou encorajado a aderir ou a me filiar a algum partido”, diz Wizard. Seu compromisso, reitera, é com o Brasil.

Assim como Bolsonaro, Wizard defende o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes infectados por Covid-19. Ele acredita que o fármaco, que não tem eficácia científica comprovada para a doença, pode ser usado para casos leves da enfermidade, desde que o paciente não tenha um histórico, por exemplo, de problemas cardíacos. “A cloroquina já existe no mundo há mais de 70 anos. Até hoje, nunca se falou nada. Só agora, com essa questão de Covid-19, o pessoal começou a criar pensamentos antagônicos. Às vezes eu penso que essa postura é mais por conta de uma questão ideológica do que para salvar vidas”, afirma. O empresário cita o filho Charles como um case de sucesso. “O meu filho passou dois anos na África, fazendo um serviço comunitário lá. Como havia muitos casos de malária no continente, ele tinha de tomar a tal da cloroquina. Em dois anos, tomava seu ‘comprimidinho’ toda semana. E hoje ele é saudável e tem uma mente iluminada”, diz. Para ele, a recomendação adotada pelo ex-ministro da pasta, Luiz Henrique Mandetta, de que as pessoas deveriam evitar as clínicas médicas em casos de sintomas leves a fim de não sobrecarregar o sistema de saúde, foi responsável por milhares de mortes pela doença no país. “Todo o discurso do senhor Mandetta é de que as pessoas não deveriam ir ao hospital, mas isso lamentavelmente tirou a vida de milhares de pessoas, inclusive a do meu sobrinho”, diz. “Hoje, a orientação é de tratamento precoce, para que a pessoa não evolua para uma internação em UTI.”

Wizard não tem experiência em saúde, assim como o ministro interino Pazuello. Aos críticos, ele diz que mais vale a boa intenção e a capacidade de gerir a pasta. “Tem pessoas que reclamam que o Pazuello não é médico para estar à frente do Ministério da Saúde, mas o presidente da OMS (Organização Mundial da Saúde) também não é médico e ninguém fala nada”, diz ele, em tom descontraído. Um de seus desafios será economizar 20% do orçamento da pasta para compra de insumos, testes para a detecção do coronavírus e equipamentos de proteção individual para profissionais da saúde. A rotina mudou. Na última semana, ele se reuniu em São Paulo com representantes da indústria na sede da Fiesp. Nos próximos dias, sua missão será no Rio de Janeiro, para discutir um projeto de expansão para a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Existe um projeto de expansão do laboratório para Santa Cruz, no Rio de Janeiro, onde se pretende criar um laboratório nível 4”, diz Wizard. “É um projeto belíssimo, gigantesco, capaz de produzir vacinas e insumos para atender não somente o mercado brasileiro, mas também outros países na América Latina”. O empresário bilionário, gestor de negócios voltados à alimentação e esportes, não tem medo de manchar sua reputação e quer ajudar o país.

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