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Bolsonaro e Trump criticam China, mas dependem de exportações para ela

Romper relações com o gigante asiático não interessa comercialmente ao Brasil – e nem aos Estados Unidos

Por Luisa Purchio Atualizado em 24 out 2020, 08h22 - Publicado em 24 out 2020, 05h00

Na última semana, a menos de 15 dias da eleição presidencial americana, o Brasil se viu em meio a um tiroteio entre os Estados Unidos e a China, estrategicamente pensado para agradar ao eleitor conservador do republicano Donald Trump. Na segunda-feira 19, o Brasil assinou a primeira fase de um acordo com os Estados Unidos, com facilitação de comércio, boas práticas regulatórias e anticorrupção, o que parece bom para as relações entre os dois países. “Os temas que fazem parte desse primeiro acordo ajudam a facilitar o comércio entre os dois países”, diz Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil, que acompanhou as negociações desde o início. Ao mesmo tempo, no entanto, o conselheiro do presidente americano para assuntos de segurança nacional, Roberto O’Brien, e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disseram que a segurança de 5G da Huawei é uma ameaça à segurança do Brasil, dando um tom político para a aproximação entre os dois países.

Na quinta-feira 22, em uma cerimônia de formação de novos diplomatas do Instituto Rio Branco, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, diante dos holofotes teceu mais uma vez uma série de comentários ideológicos contra o marxismo, a ideologia de esquerda e o globalismo, enaltecendo o fato de que o Brasil e os Estados Unidos foram os únicos a discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU sobre liberdade.

Apesar de, à frente das câmeras, prevalecer o discurso ideológico que combina com a campanha eleitoral que elegeu o presidente Jair Bolsonaro e tenta reeleger o presidente americano, Donald Trump, os números apontam para outra direção: durante a pandemia do novo coronavírus, não foi a relação com os Estados Unidos que prevaleceu. Os negócios do Brasil com a China só cresceram. “Este ano, apesar dos impactos da pandemia, o comércio entre os dois países, em vez de diminuir, está aumentando. A China é responsável por mais de 60% do superávit comercial do Brasil”, disse à VEJA Qu Yuhui, ministro conselheiro da embaixada da China no Brasil.

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A verdade é que, economicamente, não interessa ao Brasil romper com a China. O discurso político se evapora quando o Brasil se vê diante de um quadro de recessão em 2020. Relatório mais recente do FMI prevê que o PIB brasileiro cairá 5,8% este ano e o americano terá retração de 4,3%. A China, por sua vez, é o único grande país com previsão de crescimento, de 1,9%, algo que interessa diretamente ao Brasil, exportador de commodities. Para se ter ideia, de janeiro a setembro, o Brasil já vendeu para a China 53,392 bilhões de reais, 14% acima que o mesmo período do ano anterior e mais de três vezes o valor exportado para os Estados Unidos. Para o país norte americano, no mesmo período, as exportações caíram 32%, para 15,159 bilhões de reais. Já, para os Estados Unidos, a China é a maior importadora de produtos. Em agosto de 2020, foram 40,8 bilhões de dólares em produtos comprados dos EUA, 16,1% de todas as transações.

Tendo em vista a importância de ambos os países para a economia brasileira, o Brasil deverá analisar com cautela quais as vantagens e desvantagens da parceria com a China, tanto em relação à compra de equipamentos de 5G produzidos no país asiático quanto em relação à vacina. Os EUA alegam que empresas de infraestrutura de rede celular, como a Huawei, serviriam para espionar os brasileiros. “Precisa haver uma discussão com a sociedade para entender qual é o interesse brasileiro”, diz Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington de 1999 a 2004. “Se os dados brasileiros estiverem sendo usados indevidamente pelo governo chinês, o que eu duvido, o Brasil deve negociar com a empresa um acordo para coibir isso, com multas e rescisão, ou até mesmo desenvolver técnicas para evitar a evasão desses dados.”

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