Por Leika Kihara
TÓQUIO, 24 Jan (Reuters) – O Banco Central do Japão prevê que a economia vai se contrair no ano fiscal corrente, mas manteve a política monetária estável nesta terça-feira, esperando que as exportações para os países emergentes e a reconstrução depois do terremoto do ano passado ajudem a alimentar uma recuperação constante ainda neste ano.
O presidente do banco central, Masaaki Shirakawa, alertou, no entanto, que a crise da dívida soberana na Europa continua sendo a maior ameaça para as perspectivas de recuperação do país, já obscurecida pela recente valorização do iene frente ao euro e pela diminuição da demanda global por produtos japoneses.
“Neste momento, o problema da dívida da Europa é o maior risco para a economia global, incluindo a do Japão. Se a situação piorar, poderá levar a uma crise de crédito global”, afirmou Shirakawa em uma entrevista coletiva, após a amplamente esperada decisão do BC japonês de não realizar um afrouxamento monetário adicional.
Porém, o BC pode não reter sua munição por muito tempo.
“A Europa continua sendo o maior risco aos olhos do BC. Se a Grécia sofrer um default desordenado ou a Europa falhar em elaborar medidas de assistência para países chave, como a Itália, deflagrando novas quedas nos preços das ações e renovadas altas do iene, o BC deve afrouxar mais a política monetária”, disse a estrategista sênior de renda fixa na Mitsubishi UFG Morgan Stanley Securities Naomi Hasegawa.
“A possibilidade de que isso aconteça vai continuar elevada durante a primavera, com uma grande quantidade de títulos governamentais chegando ao vencimento na Europa.”
MAIS RISCOS
Como amplamente esperado, o BC japonês manteve sua taxa básica de juro em entre zero e 0,1 por cento, e evitou expandir mais seu programa de compra de ativos, de 55 trilhões de ienes (713 bilhões de dólares).
A crise da dívida na Europa, o iene persistentemente valorizado e o crescimento externo desacelerando causaram pesados danos a uma dependente de exportações para emergentes que mal se recuperou da devastação provocada pelo terremoto de março.
“É a minha opinião, bem como de todos no conselho, que o prazo da recuperação atrasou um pouco”, disse Shirakawa.
Numa revisão trimestral de projeções de longo prazo, o BC cortou sua previsão para o ano fiscal que termina em março, para uma contração de 0,4 por cento na economia, em linha com a pesquisa da Reuters com analistas do setor privado. A projeção anterior era de crescimento de 0,3 por cento.
O BC diminuiu também a sua previsão para o próximo ano fiscal, passando de crescimento de 2,2 por cento para 2,0 por cento, refletindo os efeitos da desaceleração global, apesar de esta projeção continuar acima da pesquisa da Reuters, de alta de 1,8 por cento.
O governo está um pouco mais otimista, prevendo uma contração de 0,1 por cento para o ano fiscal corrente e uma expansão de 2,2 por cento para o próximo ano.
“A fim de superar a alta do iene para níveis históricos e a prolongada deflação, vamos fortalecer a cooperação com o BC e administrar sólidas políticas econômicas e fiscais”, afirmou ao parlamento o primeiro-ministro japonês, Yoshihiko Noda.
(Reportagem adicional de Rie Ishiguro, Tetsushi Kajimoto, Stanley White e Kaori Kaneko)