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Artigo – Foco em pequenos negócios democratiza o conceito de bioeconomia

Com desmatamento zero e investimentos adicionais, a Amazônia Legal pode impulsionar ainda mais o PIB regional

Por Rubens Magno *
1 jul 2024, 15h43

Frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, a bioeconomia terá cada vez mais espaço na economia global. Reunidos em Manaus, líderes do G20 apontaram a área como estratégica para proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, gerar desenvolvimento e empregos. O Brasil se destaca nesse cenário por seu enorme potencial, especialmente na Amazônia, uma das regiões mais ricas para esses negócios no planeta, com pelo menos 40 mil espécies vegetais, só entre as já catalogadas. 

Um estudo do WRI Brasil, que considera apenas 13 produtos da Amazônia Legal, mostra que eles já geram pelo menos 12 bilhões de reais anuais para o PIB regional e que, com desmatamento zero e investimentos adicionais, esse potencial é ainda maior e pode chegar a 38,6 bilhões de reais por ano até 2050. Segundo o trabalho, mais de 830 mil novos empregos podem ser gerados na região só em atividades ligadas a essa área.

Desde o anúncio de que a COP 30 acontecerá em 2025, em Belém, o número de projetos com foco na biodiversidade da floresta é crescente. O governo do Pará tem um Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio), que prevê investimentos diversos para estimular a economia verde; a Prefeitura de Belém está instalando um Distrito de Inovação e Bioeconomia, também voltado para esses negócios; e o governo federal acaba de lançar uma Estratégia Nacional de Bioeconomia, que pretende promover o desenvolvimento sustentável e ampliar os mercados para quem trabalha em negócios que utilizam e preservam recursos naturais. 

Essas iniciativas são bem-vindas e necessárias, mas para que produzam resultados duradouros, para além do evento, precisam dialogar e, principalmente, incluir nas conversas os pequenos negócios, que são a maioria no Brasil: representam cerca de 95% de todas as empresas do país e responderam por 30% da formação do PIB de 2023. São também grandes geradores de empregos. Apenas nos primeiros quatro meses de 2024, as micro e pequenas empresas foram responsáveis pela criação de seis em cada 10 postos de trabalho formal abertos no país, de acordo com um estudo do Sebrae, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ou seja: para se desenvolver e ser relevante para a economia nacional, a bioeconomia não pode deixar as micro e pequenas empresas de fora. 

Para tanto, é imprescindível consolidar um ecossistema de conexões sólidas, que preserve a cultura local, o conhecimento ancestral e a biodiversidade, com educação de qualidade e recursos tecnológicos acessíveis. Em resumo, um ambiente propício ao surgimento e à evolução de empreendimentos inovadores, possibilitando que seus produtos ganhem valor e conquistem novos mercados.

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O primeiro passo é realizar um mapeamento para identificar instituições e pessoas envolvidas nesse ecossistema e fomentar a integração entre elas. A boa notícia é que o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae/PA) fez isso e deu um passo além: acaba de lançar a Rede de Inovação do Baixo Amazonas, na região de Santarém, uma das mais turísticas e biodiversas do estado. Com a adesão de empreendedores, pesquisadores e instituições públicas e privadas, esse é o início de um trabalho que deve gerar impactos em políticas públicas, na educação básica e superior e na renda das famílias, além de incentivar a construção de uma cadeia de demandas e ofertas que se conectam. 

Uma rede como essa tem um potencial de resultados muito maior do que a geração de negócios. É uma mudança de lógica, que democratiza um conceito que ainda pode ser desconhecido por quem trabalha com ele na prática. Muitos empreendedores, que utilizam os produtos da floresta e se preocupam em preservar o ambiente, cientes de que ele é sua fonte de renda, ainda não sabem que são parte da tal bioeconomia, da qual eles deveriam se sentir pertencentes e protagonistas. 

Bons exemplos de inovação e criatividade, aliados a princípios de sustentabilidade, não faltam. Muitas marcas fazem bem mais do que desenvolver bons produtos com os recursos da floresta. Algumas implementam estratégias para gerar renda para comunidades rurais locais, incluindo seus membros na cadeia de abastecimento de insumos. Outros empoderam mulheres e preservam saberes ancestrais. Quase todas têm alguma estratégia para preservar as florestas e os rios dos quais dependem. Atuamos para qualificá-las, mas a verdade é que temos muito a aprender com todas elas. A troca de experiências tem sido valiosa.

O Baixo Amazonas tem muito potencial para ser uma forte comunidade empreendedora, com negócios valorizados em todo o mundo. Durante a COP 30, esta deve ser uma das regiões mais visitadas, por possibilitar experiências de imersão na floresta. E, mesmo os turistas que ficarão apenas em Belém, vão querer experimentar produtos durante a estadia ou levar para suas casas como lembrança. Os pequenos negócios precisam estar preparados para uma transformação que atenda a essa demanda, mas também que dure para além dela.

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Até 2025, o Sebrae/PA quer se consolidar como um Polo de Bioeconomia que possui uma rede de atores ativa e alinhada, impulsionando a inovação e o crescimento sustentável. A ideia não é a de democratizar apenas o conceito, mas também o acesso e as oportunidades geradas, fazendo com que os investimentos na área funcionem também como estratégias de inclusão social e desenvolvimento regional. Mas mantendo as comunidades tradicionais e os pequenos negócios no centro do debate.

 

* Rubens Magno é diretor-superintendente do Sebrae no Pará

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