Após novo corte, mercado prevê Selic a 4,75% ao ano em dezembro
Bradesco e Bank of America já projetam taxa básica de juros neste patamar, pois enxergam espaço para maiores quedas; XP Investimentos discute fazer o mesmo

O mercado financeiro cogita que o país possa fechar o ano com a taxa básica de juros, a Selic, em 4,75% ao ano, em novo recorde histórico. Nesta quarta-feira, 18, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) cortou de 6% para 5,5% os juros, na segunda redução do ano. A medida renovou a mínima histórica da taxa. Para analistas, fatores como a fraca atividade da economia do país, a tramitação da reforma da Previdência no Congresso, a inflação controlada e um cenário externo incerto, já abrem espaço para uma redução mais intensa do que o previsto até então.
O Copom se reúne a cada 45 dias para decidir se mantém, abaixa ou aumenta a taxa básica de juros do país. No documento divulgado nesta quarta com o corte da taxa, o comitê sinaliza continuidade nos cortes, baseados no cenário da inflação e economia em geral, sendo possível “ajuste adicional no grau de estímulo”.
O próximo encontro ocorre em 29 e 30 de outubro — a decisão é sempre divulgada no final do segundo dia de reunião. Parte considerável do mercado precifica, há alguns meses, que haverá novo corte de 0,5 ponto porcentual na ocasião, o que seguiria as previsões recentes do Boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central com as estimativas de economistas do mercado financeiro, de que a Selic deve terminar 2019 em 5%.
No entanto, com a recuperação da economia mais lenta do que o esperado, agentes do mercado como a corretora XP Investimentos já cogitam novo corte em 11 de dezembro – data que até então era precificada como de manutenção da Selic, podendo a taxa, então, terminar o ano abaixo dos 5%. Segundo o economista da XP, Marcos Ross, o grupo discute sobre a necessidade de outro corte adicional ou não, em dezembro. “Existe a possibilidade real”, afirma ele.
A medida se justificaria pelo cenário macroeconômico do país. A inflação, um dos pilares para o afrouxamento da política monetária, está controlada. A expectativa de economistas consultados pelo BC é de 3,45% ao ano para a taxa, resultado abaixo do centro da meta deste ano, definida em 4,25% pelo Conselho Monetário Nacional, mas dentro da margem de erro, que é de 1,5 ponto porcentual para baixo ou para cima (2,75% a 5,75%).
A alta do dólar em agosto e setembro – o câmbio chegou a fechar em 4,18 reais na venda – poderia, na teoria, afetar o IPCA, índice oficial da inflação. No entanto, “mesmo o câmbio mais depreciado não geraria pressão na inflação, porque a atividade econômica está fraca e a capacidade ociosa alta”, afirma Mauricio Nakahodo, economista do Banco MUFG Brasil. A instituição prevê Selic a 5%, porque acredita em um crescimento na casa de 1% para o ano. Bancos que já projetam 2019 com os juros a 4,75%, costumam ser mais pessimistas com o PIB, como o Bradesco e o Bank of America Merrill Lynch que estimam expansão de 0,8% e 0,7% respectivamente. Nakahodo, porém, não descarta a revisão posterior do MUFG. “Não da para descartar um corte adicional”, diz ele.
Já na atividade econômica, outro fator levado em conta pelo Copom, a reforma da Previdência é vista como fundamental pelo colegiado. Tanto é, que o primeiro corte do ano só veio na reunião seguinte à aprovação do texto no 1° turno da Câmara dos Deputados, considerada um avanço importante para o governo. Além disso, existe a reforma tributária, que deve ser concretizada só no ano que vem, devido ao imbróglio em torno de qual proposta será votada no Congresso.
Cenário externo e petróleo
Mais cedo nesta quarta, o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) cortou os juros americanos em 0,25 pontos porcentuais e manteve cautela no seu discurso com relação a novas reduções. A decisão e, principalmente, a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, decepcionaram parte do mercado e o presidente do Donald Trump, que voltou a atacar a instituição pelo Twitter.
Para Nicola Tingas, economista chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI), existe espaço no Brasil para um corte de 4,75%. No entanto, segundo ele, apesar de haver abertura para cortes, é possível que o Copom siga a postura mais conservadora como a do FED, fazendo que a Selic não caia abaixo dos 5%. “O Copom também está atento a posição do Fed de maior cautela. Mostrando que os Bancos Centrais têm limites. Agora, eu acho que estamos enxergando uma postura de maior cautela com o que está ocorrendo”, diz ele. “Até porque o cenário internacional está ficando cada vez mais incerto”, acrescenta ele.
Nesta semana, o ataque de drones a campos de produção da petrolífera saudita Aramco, gerou dúvidas sobre como seria a sequência do ciclo de cortes de juros mundo afora. Isso porque, na semana passada, o Banco Central Europeu havia diminuído sua taxa anual de -0,4% para -0,5%, primeiro corte desde março de 2016.
O ataque às refinarias sauditas afetou cerca de metade da produção do país árabe, fazendo a commoditie disparar e o mercado financeiro se preocupar com a escassez do material. Porém, o país colocou panos quentes na terça-feira, ao informar que o panorama deve voltar ao normal em algumas semanas, mais rápido do que o esperado. “Estamos analisando se são choques mesmo e se não podem ter um respingos maiores”, diz Tingas. No comunicado do Copom, entretanto, o Banco Central não citou a crise internacional do petróleo.
Além disso, o cenário externo ainda tem uma disputa comercial entre as duas principais economias do mundo, China e Estados Unidos. O conflito é incerto. A guerra teve uma escalada em agosto, mas se apaziguou em setembro, o que gera duvidas de como será o seu desenrolar até o final do ano. Brexit e a crise na vizinha Argentina completam o cardápio de tensões.
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O jornalista Thomas Traumann analisa a redução da Selic; ouça
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