A ferida aberta na relação entre a BlackRock e o governo de Jair Bolsonaro
Fala de executivo revelada por VEJA caiu como uma bomba dentro do governo — e expôs diálogo estremecido há tempos
O episódio em torno do fundo de investimentos americano BlackRock, gestor de mais de 10 trilhões de dólares em todo o mundo, calou fundo no governo, em especial no Ministério da Economia. Segundo brasileiros que estiveram em uma reunião em Nova York com Dominik Rohe, head do fundo para a América Latina, ele declarou que a instituição não colocaria mais um centavo no país durante a gestão de Jair Bolsonaro. A conversa foi revelada pela coluna Radar Econômico, do site de VEJA.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, segundo assessores, ficou furioso e, apesar de dizer que não acreditava no teor da declaração, tentou justificar a origem do posicionamento do executivo americano com relação ao governo brasileiro. Guedes recordou a auxiliares que, no início do governo, a BlackRock pediu condições especiais para investir em papéis de empresas públicas, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Irritado com o pedido, Guedes afirmou a um executivo do fundo que não os receberia mais e sugeriu que eles fizessem seus aportes nas estatais “respeitando os ditames e preços do mercado”.
No Palácio do Planalto, fontes próximas ao presidente minimizam a fala, ora tentando descreditar Rohe, ora afirmando que o temor da BlackRock não envolveria o governo de Bolsonaro, mas a possibilidade de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, vença as eleições.
Depois da publicação da informação no Radar Econômico, segundo fontes do ministério da Economia, o próprio Dominik Rohe procurou Paulo Guedes para colocar panos quentes nas relações. O ministro não atendeu às ligações. Executivos da BlackRock baseados na filial brasileira, de acordo com os interlocutores, procuraram Guedes para acalmá-lo, dizendo que a BlackRock não trata sobre governos em conversas com investidores, e via potencial no país e que o fundo tem entre 50 bilhões de reais e 60 bilhões de reais aportados em empresas brasileiras, e enxergando a possibilidade de expansão dos investimentos.