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Thomas Traumann

Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Relações estremecidas

Fernando Haddad e Roberto Campos Neto vivem seu pior momento

Por Thomas Traumann
27 Maio 2024, 08h00

É cada semana pior o clima entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. A relação respeitosa e, por muitas vezes, cordial que Fernando Haddad e Roberto Campos Neto mantiveram até tempos atrás se deteriorou a ponto de ameaçar uma transição tranquila para a troca do comando do BC, em dezembro destr ano. A repercussão da divergência sobre o ritmo do corte de juros entre os cinco diretores do BC indicados por Paulo Guedes (batizados no mercado financeiro de G-5) e os quatro de Fernando Haddad (o G-4) é apenas parte mais visível do estremecimento. Nas sombras há a desconfiança dos dois lados de que o outro tenta boicotar o seu trabalho.

 Para o Palácio do Planalto, o fato de Campos Neto ter participado na sexta-feira, 17, de um jantar promovido pelo apresentador Luciano Huck para o governador de São Paulo e pré-candidato a presidente, Tarcísio de Freitas, confirmou as suspeitas de que o presidente BC quer forçar uma retração na economia para ajudar a oposição em 2026. Por várias vezes o presidente Lula da Silva considerou Haddad “ingênuo” por tentar convencê-lo de que Campos Neto está tomando posições técnicas e não políticas. 

Na sua intrépida participação na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados na quarta-feira, 22, Fernando Haddad reclamou do mau humor do mercado com o governo Lula.  “A impressão que dá é que tem um fantasminha fazendo a cabeça de pessoas e prejudicando nosso plano de desenvolvimento”, afirmou o ministro. No Ministério da Fazenda pouca gente tem dúvidas de que o “fantasminha” a quem Haddad se referiu é o presidente do BC. 

 De acordo com interlocutores, Campos Neto, por sua vez, considera que houve interferência da Fazenda na votação do último Comitê de Polícia Econômica (Copom), a reunião que por 5 votos a 4 decidiu diminuir o corte de juros para 0,25 ponto percentual depois de ter indicado em março que manteria mais uma redução de 0,5 pp.  A entrevista à Bloomberg do diretor de Assuntos Internacionais do BC, Paulo Picchetti, criticando Campos Neto por ter mudado a orientação do BC sem uma reunião interna prévia foi definida por um diretor como “teleguiada” pela Fazenda. Picchetti é amigo de Haddad há quase 40 anos.

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 A possibilidade provável de o chamado G-5 trabalhar para não cortar mais juros até o fim do ano é qualificada como “boicote” até mesmo entre os moderados do Ministério da Fazenda. Por esse raciocínio, ao dar tanto peso às projeções do mercado financeiro e, ao mesmo, ressaltar publicamente as suas preocupações com a piora dos dados econômicos, o BC transforma as expectativas pessimistas em uma profecia autorrealizável. 

 A versão corrente na Faria Lima, o centro financeiro do país, é que a partir de 2025 quando houver uma maioria de diretores do Banco Central indicados por Lula, os juros serão cortados para ajudar a economia para a campanha da reeleição. Essa impressão se reflete nos juros futuros: no Boletim Focus da segunda-feira, 20, a mediana das estimativas para o IPCA para 2025 subiu, em um mês, de 3,6% para 3,74%, com tendência de alta.

 Esse cenário coloca pressão gigantesca sobre o diretor de Polícia Monetária, Gabriel Galípolo, o provável indicado por Lula para ser o presidente do BC a partir de janeiro. Uma desancoragem das expectativas da inflação a partir de 2025 pode, em tese, gerar um clima tão ruim no mercado que acabe por inviabilizar a nomeação de Galípolo.

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