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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O caminho sem atalhos de Galípolo

Favorito para assumir o BC em 2025, diretor indicado por Lula será testado no segundo semestre

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 4 mar 2024, 12h20

Não é simples a agenda para os próximos meses do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo. Nove de dez entre os ministros do governo Lula dão como certo que ele será indicado presidente do BC na sucessão de Roberto Campos Neto na virada deste ano para 2025. A proporção é similar no mercado financeiro, com uma profunda diferença de entusiasmo. A maioria dos lulistas sonha que a promoção de Galípolo signifique uma guinada para um BC menos ortodoxo. A maioria da Faria Lima tem a mesma expectativa só que em pesadelo.

A distância entre o que Planalto e a Faria Lima esperam de Galípolo ficará clara em junho ou julho, quando a atual diretoria do Banco Central montar a estratégia para chegar à taxa terminal da Selic. A taxa de juros está hoje em 11,25% e existe um ponto percentual de corte precificado para a reuniões do Copom de março e maio.

A partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de junho, no entanto, há uma divisão dos analistas sobre se o ritmo de cortes vai prosseguir em 0,5 ponto percentual a cada reunião ou reduzir a 0,25 ponto percentual.

Em entrevista à Folha, Roberto Campos Neto foi mais cauteloso que a média ao falar sobre os próximos passos: “A expectativa de inflação está um pouco acima da meta, quando a gente olha os componentes de inflação, não tem certeza do processo de inflação amplo. Por várias razões entendemos que as taxas de juros precisam estar no campo restritivo. Isso é uma coisa que avaliaremos a cada momento no Copom.

Caso o ritmo de corte fique em 0,5 p.p., a Selic estará em 9,25% no Copom de setembro — quando a expectativa sobre uma antecipação do novo presidente do BC estará fervendo.

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A pesquisa do BC com bancos e corretoras estima que piso da Selic é 9%, embora muitas casas considerem que o índice possa cair mais dependendo do comportamento da inflação e do Fed. Algumas declarações recentes de diretores do BC reforçam uma preocupação com a inflação de serviços, ainda resultado da retomada pós-pandemia.

Na mesma entrevista à Folha, Campos Neto surpreendeu ao sequer cravar a possibilidade de uma taxa Selic de um dígito, fato hoje consensual no mercado. “Não conseguimos dizer qual é a taxa terminal hoje, porque o processo de desinflação ainda está em curso. Se a taxa vai terminar em um dígito ou não depende de muita coisa, inclusive da parte externa”, disse Campos Neto.

Apontando como a voz mais ortodoxa do BC, o diretor Diogo Guillen relatou na semana passada a existência de um debate interno sobre para a pressão da inflação de serviços e do aumento dos salários. Guillen observou que a pesquisa de emprego da Pnad (do IBGE) mostra aumento do rendimento habitual e efetivo e o salário formal na pesquisa do Caged (do Ministério do Trabalho) subiu com as negociações coletivas, tendo aumento real pela desinflação.

Numa apresentação para magistrados no Maranhão, outro diretor ortodoxo Otávio Damaso ressaltou o risco do comportamento da inflação de serviços intensivos, que roda entre 5% e 7% anualizados. Em texto para a agência de notícias Broadcast, Celia Frouffe notou a peculiaridade da apresentação de Damaso se referir à inflação de 2013, quando a alta nos preços nos serviços intensivos foram gatilhos para uma contaminação geral na inflação.

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É natural que os diretores do BC, especialmente os mais antigos, tentem modular as expectativas do mercado num futuro ainda nebuloso e que depende variáveis incontroláveis, como o ritmo de redução de juros nos Estados Unidos. É justamente por existir tanta fumaça que o papel de Galípolo como favorito para assumir o BC toma outro tamanho. Os votos de Galípolo serão de um diretor mais ou menos preocupado com resíduos de inflação? E como o Planalto irá reagir se ele der votos mais rígidos? Como ele vai se equilibrar entre as expectativas, tantos as reais quanto as imaginárias, de Lula e da Faria Lima?

Primeiro diretor do BC indicado por Lula, Galípolo assumiu em agosto do ano passado quando o Copom iniciou o ciclo de cortes. Desde então, seu voto sempre acompanhou o de Campos Neto, o que nem de longe significa que eles concordem no diagnóstico da economia, mas fato que lhe blindou de críticas na Faria Lima. Essa proteção vai terminar quando eles votarem diferente — e ninguém duvida de que lado ficará a Faria Lima.

É surpreendente como nas últimas semanas se tornou comum ouvir no mercado elogios a Paulo Picchetti, o cauteloso professor de macroeconomia da USP, indicado por Lula para a diretoria internacional do BC.

Pisando em gelo fino, Galípolo só fala publicamente o que já é consensual no BC. Na quarta-feira passada, num evento em São Paulo, repetiu obviedades como a de que “a comunicação do BC ajudou a reduzir a volatilidade do mercado em um momento de incertezas econômicas e geopolíticas”. É difícil imaginar que esse ramerrame consiga aguentar os próximos meses e será interessante ver como Galípolo vai modular seu discurso e voto.

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Parte minoritária do mercado espera um ato falho para reagir na linha “sabia que ele não era dos nossos”. Há casas prontas a apostar num BC mais leniente em 2025, balançar as taxas de juro futuro e tentar pressionar o governo a achar que existe um custo em indicar Galípolo à presidência do BC. Como não conhecem Lula direito, não sabem que um movimento do gênero só faria o presidente ter mais certeza na sua decisão de nomear Galípolo.

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