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Por Renata Firpo
Grandes negócios e tendências do mercado imobiliário. Renata Firpo é publicitária, consultora imobiliária e advogada pós-graduada em Direito imobiliário
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O misterioso destino da icônica mansão de um ex-banqueiro falido

Endereço que virou símbolo de uma era de excessos foi leiloado em 2020 por 20 milhões de reais

Por Renata Firpo
Atualizado em 27 jul 2023, 10h50 - Publicado em 27 jul 2023, 09h30

Quem vê aquele senhor de 80 anos estacionando sua HB20 em um prédio na capital paulista, onde mora de aluguel em um apartamento de menos 300 metros quadrados, não imagina que ele já foi uma das maiores fortunas do Brasil. Edmar Cid Ferreira, que era dono do extinto Banco Santos, ostentava uma vida de riqueza inimaginável. Mas seu reinado derreteu de fora espetacular. Aos poucos, seu nome migrou das colunas sociais para as páginas policiais dos jornais. Em 2005 o Banco Central decidiu liquidar extrajudicialmente o patrimônio do empresário para pagar os passivos do Banco Santos que chegavam a mais de 2,5 bilhões de reais na época.

Depois de um ano de tentativas para manter seu patrimônio pessoal distante da pessoa jurídica, o processo de falência da companhia começou e junto com ele, a derrocada financeira e social de um dos homens mais ricos do Brasil. Vários imóveis comerciais, carros de luxo, obras de arte, mais de mil garrafas de bebida, terrenos e a icônica mansão no Morumbi foram tomados pelo Estado.

Derrotado nos tribunais, o ex-banqueiro Edemar foi obrigado a desocupar o imóvel em 2011. O endereço famoso ainda atrai a curiosidade das pessoas. Quatro tentativas de leilões foram frustradas e apenas no final de 2020 ela foi arrematada por pouco mais de 20 milhões de reais, praticamente um quarto do valor pelo qual ela havia sido avaliada. Muito se especula sobre o que o atual proprietário da mansão, Janguiê Diniz, fundador e presidente do grupo Ser Educacional, uma das maiores empresas voltadas para o ensino superior do Brasil, planeja fazer no local. Já chegou a sair na mídia que ali seria palco de um empreendimento residencial de algumas torres. Pouco provável, pois o imóvel fica em uma área estritamente residencial, na qual as construções podem ter, no máximo, 10 metros de altura. Também já especularam que seria transformada em uma escola, talvez pela natureza da empresa do atual proprietário. Falou-se ainda na possibilidade de um condomínio de casas de luxo.

O fato é que, qualquer que seja o destino da casa que ocupa um terreno de ais de 12 mil metros quadrados de área, existem alguns obstáculos pela frente. O primeiro é a questão ambiental. A mansão possui uma espécie de mini-floresta com cerca de 280 árvores, o que trava qualquer tentativa de demolição. Conforme a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL) da cidade de São Paulo, a mansão é considerada patrimônio ambiental e, por isso, é necessária uma autorização da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente para seguir adiante com qualquer alteração na edificação. O outro entrave é a demora da obra. Calcula-se que, para colocar abaixo os 8 000 metros quadrados de construção seriam necessários cerca de seis meses.

Caso a Prefeitura permita a demolição da famosa mansão, irá embora com ela a memória de um dos imóveis que mais simbolizam o luxo tipo ostentação da alta sociedade que o Brasil já teve.  Com projeto arquitetônico de Ruy Ohtake, paisagismo de Roberto Burle Marx e esculturas de Oscar Niemeyer, a casa demorou alguns anos para ser construída, com cinco andares, piscinas coberta e descoberta, academia, 2 bibliotecas, quadras de tênis e squash, adega para 5 mil garrafas, 34 banheiros, janelões blindados, pé direito de 9 metros de altura, 3 elevadores, heliponto e uma mesa de jantar de 24 lugares importada da Inglaterra, que custava na ocasião, 100 000 reais.

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O acervo de obras de arte era outra atração do endereço. Nas paredes, viam-se obras de Pablo Picasso, Andy Warhol, Henry Moore, Jean-Michel Basquiat, Anish Kapoor e Tarsila do Amaral. As telas foram leiloadas e hoje o único quadro pendurado no apartamento é uma pintura do neto do ex-banqueiro.

Naturalmente, diante da suntuosidade do palácio, era necessário um grande esforço para manter tudo em ordem. Na época que a família foi expulsa da residência e seu dono saiu levando apenas um pijama, como contaram os vizinhos que presenciaram a cena na ocasião, mais de cinquenta empregados trabalhavam no endereço. As obras de arte mereciam um cuidado especial e para isso, o sistema de refrigeração da casa era igual ao de um museu, o que levava a conta de energia custar cem mil reais por mês.

Hoje, Edemar afirma não ter mais nenhum bem físico em seu nome e viver às custas da ajuda dos três filhos e amigos. Passa os dias a estudar os antigos processos judiciais, repensando a estratégia de defesa com amigos advogados que não cobram pelos serviços. A tentativa é reaver parte dos ativos bloqueados pela Justiça para pagar credores do Banco Santos. Mas já se conformou que nunca mais irá pisar na mansão que construiu para ostentar a todos o tamanho de seu sucesso.

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