A novela das Americanas ganhou um novo capítulo esta semana: os pequenos credores agora enfrentam os gigantes na luta pelo pagamento de suas dívidas. Na semana passada, a Americanas pediu e a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro autorizou o uso de R$ 192,4 milhões para quitar imediatamente todas as dívidas de 678 trabalhadores e 650 pequenos fornecedores da empresa – grupo considerado mais crítico e emergencial, uma vez que, se não receberem esses recursos neste primeiro momento, terão que fechar as portas.
“A ideia de quitação desses créditos evidencia relevante preocupação com os impactos socioeconômicos da Recuperação Judicial sobre esses credores, de regra os mais fragilizados e que, por isso mesmo, merecem especial resguardo em busca do equilíbrio negocial que deve imperar nos processos dessa natureza”, escreveu o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro.
Porém, o que esses pequenos empreendedores não esperavam era ter que lidar com grandes bancos, que também brigam para receber seus créditos. É o caso Bradesco, por exemplo, atualmente o maior credor da Americanas. Com R$ 4,8 bilhões a receber, o gigante banco não concorda com a decisão de pagar os pequenos antes e entrou com um pedido na Justiça para bloquear o pagamento. Para o Bradesco, “nada justifica que, antes de deliberado o plano de recuperação judicial, qualquer credor sujeito ao procedimento receba antes dos demais”.
Em uma recuperação judicial, os credores são divididos em classes que vão definir a ordem de pagamento. Os trabalhadores são os primeiros da fila, seguidos dos credores que têm dívidas com garantia junto à companhia, como os bancos, por exemplo. Depois vêm os créditos fiscais e, no final da fila, os pequenos e microempresários.
Outros bancos figuram ao lado do Bradesco entre os grandes credores: Santander (R$ 3,7 billhões), Itaú (R$ R$ 3,4 bilhões), Safra (R$ 2 bilhões) e BTG (R$ 2 bilhões). Ninguém duvida do poder de fogo e da disposição dos grandes credores em recuperar seus recursos.
Até agora, apenas o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, colocou os pequenos na conversa e declarou que avalia conceder crédito aos microempresários afetados. Mercadante mostra saber o peso de cada empresa que fecha as portas e demite em um país de desempregados.
Essa é uma briga que está apenas começando. E se os bancos têm dinheiro para lutar pelo que consideram justo, deveriam ter também um pouco de bom senso e empatia para não errar contra os menos favorecidos.