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Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
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A falácia da ameaça comunista

Uma mudança de regime exigiria alteração na Constituição

Por Maílson da Nóbrega 27 ago 2022, 08h00

O retorno de Lula à corrida presidencial, por ora com chances de vitória, reacendeu velhos mitos sobre ameaças às liberdades individuais e à estatização total do país. Passaríamos a viver os tempos da revolução bolchevista, de 1917, da qual nasceram a União Soviética e o regime comunista na Rússia. É assim que pensa o presidente Jair Bolsonaro. “Peço a Deus que os brasileiros não experimentem as dores do comunismo”, é o lema que costuma propagar. Só os incautos caem nessa lorota.

O comunismo prometia a abundância, mas eliminou o mercado livre e aboliu a propriedade privada, tornando aquele objetivo uma mera utopia. Os preços eram fixados pelo governo, e não pela lei da oferta e da procura. Perdia-se a referência do sistema de preços como gerador de decisões. Inexistiam incentivos à inovação, que é a fonte básica de ganhos de produtividade e, assim, de expansão da economia, do emprego, da renda e do bem-estar nas sociedades capitalistas.

“A sociedade brasileira jamais abdicaria da liberdade de falar, ir e vir, e de decidir seu próprio futuro”

O colapso da União Soviética (1991) derivou, em grande parte, da incapacidade de ofertar adequadamente alimentos e outros bens de consumo. As imensas filas refletiam a escassez e o racionamento. O mercado negro equivalia a 10% do PIB. Até os anos 1960, a economia crescia pelo impulso da indústria de base, particularmente da manufatura de aço, da fabricação de armas e da corrida espacial. A produção siderúrgica avançava rapidamente e tendia a superar a americana. Na época, acreditava-se que fabricar aço em larga escala era sinal de pujança da economia. Mais tarde, viu-se que o vigor da siderurgia comunista retratava ineficiências. O trator soviético pesava oito vezes mais do que o americano. O comunismo era um sistema inferior.

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No livro Camaradas — Uma História do Comunismo Mundial, o historiador britânico Robert Service mostrou que os soviéticos “jamais conseguiram superar ressentimentos sociais ou o apático desinteresse popular por seus objetivos”. Mais: “perseguiram as religiões sem conseguir eliminá-las. A ordem abaixo da liderança política tinha de se adaptar a certo grau de desobediência e obscurantismo sem igual nas democracias liberais”. Para se sustentar, o regime se tornou opressivo. São muitas as razões, portanto, que explicam o fracasso do comunismo, que hoje sobrevive como tal em apenas dois países pobres, Cuba e Coreia do Norte.

Pessoas bem-educadas se influenciam pela lenda. Ignoram que nossa sociedade é majoritariamente conservadora e jamais abdicaria da liberdade de falar, de ir e vir, e de decidir seu próprio futuro. Uma imprensa vigilante seria um contraponto à ameaça. O comunismo requereria alterar a Constituição — o que depende do apoio de 60% dos votos de cada uma das Casas do Congresso — com o objetivo de eliminar a liberdade de expressão e outros direitos e garantias iluministas. A esquerda nunca passou de 30% da Câmara e do Senado. Somente os mal informados podem temer essa mudança, mas os mal-intencionados teimam em divulgá-la.

Publicado em VEJA de 31 de agosto de 2022, edição nº 2804

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