O pouco provável “pacote de bondades” de Temer
A capacidade de resistência da equipe econômica aumenta proporcionalmente à redução do capital político do presidente da República
Alguém falou que Michel Temer lançaria um “pacote de bondades” para ganhar popularidade e se manter no cargo. Muitos, influenciados pelo achado, passaram a repetir a hipótese. A conclusão é óbvia: o “pacote” afetará negativamente as expectativas, provocará uma depreciação cambial, pressionará a inflação e abortará o ciclo de baixa da taxa Selic pelo Banco Central. Haverá fuga de capitais. O Brasil entrará novamente em recessão.
Esse cenário padece de um defeito fundamental: desconhecer as condições particulares nas quais atua a equipe econômica em situações como a atual. Temer e seu círculo íntimo podem até imaginar medidas populistas, mas dificilmente dobrarão a equipe econômica, cuja resistência a tais medidas tende a ser crescente e eficaz.
A experiência do último ano do governo Sarney é um bom precedente para analisar o risco do “pacote”. Na época, à medida que o capital político do presidente diminuía, a equipe econômica era vista como âncora. Boatos de demissão do ministro da Fazenda alteravam o humor dos mercados. Empresários, a grande maioria da imprensa e líderes de outros segmentos declaravam seu apoio à equipe e à sua permanência.
Em determinados momentos, a equipe pode ceder no que não seja fundamental para preservar sua capacidade de agir sobre as expectativas e manter a situação sob controle. No final do governo Sarney, essa capacidade incluía o manejo da taxa Selic pelo Banco Central, o controle dos gastos e a prestação de informações à imprensa, o que permitiu preservar o ambiente para a realização das eleições presidenciais de 1989.
Em tais circunstâncias, a área política do governo tende a curvar-se às opiniões contrárias a “pacotes de bondade”. Percebe que a vitória de propostas populistas redundaria na saída da equipe econômica. A atual, a exemplo da que funcionou naqueles tempos igualmente difíceis, tem reputação a preservar. Pressionada pelo presidente a ceder desastrosamente, abandonaria o governo.
Dá para imaginar, nos dias de hoje, o impacto da saída do ministro da Fazenda, da diretoria do Banco Central, do presidente da Petrobras e de outros integrantes da equipe. A decorrente crise de confiança agravaria o quadro de incertezas. O presidente poderia perder sustentação política e o apoio popular mínimo de que ainda desfruta.
Provocar a queda da equipe econômica seria, pois, um ato de suicídio político. A menos que a substituísse por um grupo ainda mais duro e detentor de credibilidade pelo menos igual. É pouco provável, pois, que venhamos assistir à aprovação e implementação do imaginado “pacote de bondades”.