Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Maílson da Nóbrega Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
Blog do economista Maílson da Nóbrega: política, economia e história
Continua após publicidade

Desmatamento: passado não justifica erros do presente

Desculpa baseada no colonialismo não isenta a responsabilidade; As pressões dos países ricos em favor de políticas ambientais responsáveis são bem-vindas

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 22 abr 2021, 11h20 - Publicado em 22 abr 2021, 11h17

Em artigo na Folha de S. Paulo nesta quarta-feira, o ex-presidente Lula e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, criticam, corretamente, a maneira como o presidente Bolsonaro tem-se conduzido em políticas públicas ligadas ao meio-ambiente. Equivocam-se, todavia, ao condenar demandas de nações ricas sobre políticas ambientais de nações em desenvolvimento.

Para Lula e Gleisi, “não se pode cobrar de países historicamente excluídos da acumulação de riqueza, à custa da degradação ambiental, o mesmo preço devido pelos que dela se aproveitaram. Não há que sujeitá-las a pressões econômicas nem abandonar os mais frágeis frente às mudanças”.

Há dois erros no raciocínio. O primeiro atribui o atraso de países em desenvolvimento a um processo deliberado de exclusão. O colonialismo que antecedeu os movimentos de independência entre os séculos XVIII e XX inibiu, é verdade, o aproveitamento das potencialidades de países menos desenvolvidos. Isso não pode ser invocado, entretanto, como causa básica do atraso que os privou da satisfatória ascensão à riqueza. 

Como se sabe o desenvolvimento econômico e social depende de várias condições, entre as quais estabilidade política e macroeconômica, segurança jurídica, direitos de propriedade bem definidos, cumprimento de contratos, qualidade da educação, ambiente de negócios favorável ao investimento, infraestrutura adequada nos campos do transporte, das comunicações e da energia, e assim por diante. A conquista desses fundamentos depende essencialmente de cada país. Exemplos de sucesso como os da Coreia do Sul, de Taiwan, de Singapura e, mais recentemente, da China e da Índia são testemunha dessa realidade. Não dá para buscar no passado a explicação para nossos fracassos. 

O segundo erro é utilizar o descaso com o desmatamento, praticado por países hoje ricos, como razão para cometer os mesmos equívocos no presente. Nos séculos mencionados, os países desenvolvidos da Europa e da América do Norte exploraram suas florestas de maneira pouco responsável. Elas foram devastadas em vários deles. No Reino Unido, o vasto desmatamento para uso em aquecimento residencial, na fabricação de móveis, na construção civil e na indústria em geral o tornou dependente de importações de madeira da Escandinávia. Nos EUA, a expansão das ferrovias viabilizou a intensa exploração de florestas de estados como os de Washington e Wisconsin. Muitos desses países desenvolveram, depois, boas estratégias de reflorestamento.

Ocorre que, naquela época, a ciência ainda não havia provado o efeito deletério do desmatamento e de outras condutas contrárias ao equilíbrio do meio-ambiente. A percepção dos riscos do aquecimento global surgiu no século XX. Hoje, não existem dúvidas de que o desmatamento descontrolado conspira contra o futuro da humanidade. 

Não há espaço, pois, para defesa de políticas que reproduzam os erros do passado, cometidos por países ricos. Como diz o adágio popular, um erro não justifica outro. São bem-vindas, pois, as pressões dos países ricos em favor de políticas ambientais responsáveis. Só temos a ganhar com isso, inclusive o apoio financeiro deles para cumprir tal objetivo. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.