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Maílson da Nóbrega

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Bolsonaro defende, na prática, a quebra do tripé macroeconômico

O estabelecimento de uma meta para a taxa de câmbio, ao lado da meta para a inflação, seria um enorme retrocesso

Por Maílson da Nóbrega 27 out 2018, 18h38

Em entrevista concedida na última sexta-feira (26) ao site Poder 360, o presidenciável Jair Bolsonaro disse que no seu governo o Banco Central terá que buscar, além da meta para a inflação, uma outra para a taxa de câmbio. “Eu falei para o Paulo Guedes: temos de estabelecer metas para dólar, inflação. Aí, a taxa de juros. O presidente do Banco Central terá liberdade para decidir dentro de parâmetros. O controle da inflação não pode ser apenas taxa de juros. O Banco Central deverá ter inteligência”.

Se for assim, o próximo governo vai provocar um sério retrocesso na gestão macroeconômica. É voltar à época do câmbio fixo, abandonado há mais de vinte anos. Será revogado, assim, o regime de câmbio flutuante que adotamos em fevereiro de 1999 e que vigora praticamente no mundo inteiro, em particular nos países desenvolvidos e nos da América Latina. O Brasil viraria o patinho feio da região.

Cabe lembrar, a propósito, o conceito da “trindade impossível” desenvolvido pela teoria econômica, segundo o qual é impossível a um país ter ao mesmo tempo três das seguintes situações: (1) taxa de câmbio fixa; (2) livre movimentação de capitais; e (3) independência do Banco Central em conduzir a política monetária. O normal é ter duas delas, como é o caso do Brasil, onde há liberdade de capitais e autonomia operacional do Banco Central, ainda que na prática.

Indagado como seria a independência do BC em seu governo, Bolsonaro não teve dúvida. “É independência política, para que nenhum político queira influir”. Político não poderia, mas o presidente sim, é o que se presume. O BC teria que seguir uma meta para a taxa de câmbio fixada de cima para baixo.

Bolsonaro parece influenciado pelos que defendem “um câmbio competitivo”. Há economistas e empresários que propõem a intervenção para transformar a taxa de câmbio em instrumento para elevar a competividade dos produtos brasileiros. Ninguém pode desprezar o papel da taxa de câmbio nesse campo, mas a competividade deriva essencialmente da eficiência e, assim, da produtividade.

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O Brasil viveu, recentemente, uma desastrosa experiência nesse campo. A Nova Matriz Macroeconômica do governo Dilma Rousseff buscava justamente influenciar a taxa de câmbio e a taxa de juros. Deu muito errado, como se sabe. A inflação fugiu do controle, e a “Matriz” tornou-se uma das principais causas da pior recessão da nossa história.

Se Bolsonaro confirmar a ideia, dificilmente haverá espaço para Paulo Guedes na Fazenda, a não ser que ele se desmoralize pelo abandono de suas visões liberais, as quais jamais admitiriam um regime de câmbio fixo, que teve seus tempos no século passado. Seria, além disso, um choque nas expectativas do mercado financeiro, o qual comprou a ideia de que o próximo governo se caracterizará por forte ortodoxia na formulação e na execução da política econômica.

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