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O quadrilhão

A cada depoimento, a cada revelação que surge na Lava-Jato, fica evidente que o PMDB não atuava apenas como um partido político 

Por Daniel Pereira Atualizado em 22 jul 2017, 06h00 - Publicado em 22 jul 2017, 06h00

Em junho de 2015, o ex-presidente Lula desembarcou em Brasília para uma reunião de emergência com caciques do PMDB — entre eles estava o senador Renan Calheiros, anfitrião do encontro e então presidente do Congresso Nacional. Na época, petistas e peemedebistas ainda eram parceiros no governo de Dilma Rousseff e nutriam o sonho comum de “estancar a sangria” da Lava-Jato, conforme expressão cunhada tempos depois pelo senador Romero Jucá, outro participante daquela conversa. Ao redor de uma mesa de café da manhã, Lula, Renan e demais comensais decidiram pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a enquadrar o juiz Sergio Moro. Era chegada a hora de os ministros do STF mostrarem gratidão aos responsáveis por sua nomeação. O plano, naturalmente, fracassou. Lula já está devidamente condenado pelo juiz Sergio Moro, e os peemedebistas, protegidos pelo foro privilegiado, ainda podem se gabar de que são apenas acusados. Mas, a cada depoimento colhido pela Lava-Jato, reforça-se a percepção de que o PMDB não atuava somente como um partido político.

Na semana passada, o lobista Jorge Luz disse em depoimento a Moro que os senadores Renan Calheiros e Jader Barbalho, o deputado Aníbal Gomes e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, todos do PMDB, receberam 11,5 milhões de reais em propina depositada em conta na Suíça. Rondeau é afilhado político do ex-presidente José Sarney, que também participou do convescote barra-Lava-Ja­to com Lula em 2015.

METÁSTASE – O ministro Aroldo Cedraz: rastros do petrolão dentro do TCU (André Dusek/Estadão Conteúdo)

Operador confesso do PMDB no setor elétrico, Jorge Luz afirmou que a propina foi repassada aos peemedebistas em troca do apoio dos parlamentares à permanência de Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa na diretoria da Petrobras. O acerto remonta à CPI dos Correios, em 2005. Naquela ocasião, o padrinho político de Cerveró, Delcídio do Amaral, que também é delator da Lava-Jato, caíra em desgraça por permitir, como presidente da CPI, a investigação de petistas graúdos. Já o padrinho político de Paulo Roberto, o então deputado José Janene, morto em 2010, era investigado como mensaleiro e estava nas cordas. Havia o risco de que Cerveró e Paulo Roberto, sem a proteção dos padrinhos, pudessem perder o cargo, o que atrapalharia a roubalheira.

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O convite aos peemedebistas para que dessem apoio à dupla de diretores resolveu o problema. Na época, Lula incorporou generais do PMDB à sua luta para sobreviver ao mensalão, e os senadores do PMDB apropriaram-se de um dos mais cobiçados postos estatais. O lobista Jorge Luz afirma que os 11,5 milhões de reais passaram pela Suíça, em conta em nome de terceiros, mas chegaram até o bolso dos políticos. Ele próprio diz que presenciou a “reunião de agradecimento” dos beneficiados pelo pagamento da propina. Todos os citados negam o recebimento de qualquer vantagem indevida.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540

 

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