Enquanto algumas pessoas utilizam o metilfenidato para conseguir a concentração necessária para atividades cotidianas, outros usam o medicamento com o objetivo de elevar suas funções cognitivas � mesmo sem necessidade clínica comprovada. A meta é conseguir se focar e melhorar o desempenho em provas da escola, da faculdade ou até para passar em um concurso público.
Esse foi o caso da estudante Sheyla Goulart Citrangulo, de 19 anos, aluna do curso de biomedicina da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Ela usou o remédio quando tinha 15 anos. “Eu precisava aumentar minhas notas em física e decidi que tomaria um comprimido a cada dia que tivesse aula da disciplina”, relembra. “No primeiro dia, fiquei até assustada, porque borbulhavam ideias na minha cabeça. Na aula, ao contrário dos outros dias, eu não desviava a atenção em nenhum minuto.” Resultado: as notas melhoraram, sem efeitos colaterais aparentes.
A estudante fez ainda outra investida com o metilfenidato. Dessa vez, porém, o resultado foi considerado “desastroso”. “Eu tive uma crise de nervos, chorava o tempo todo e não lembrava nada das matérias que antes eu dominava. Então, cessei o uso”, diz.
Os efeitos colaterais mais comuns para quem utiliza o metilfenidato são dores de cabeça, diminuição do apetite, irritabilidade e alteração do sono. “Isso pode ocorrer em 15% ou 20% dos pacientes que recebem a prescrição médica”, explica Luís Rohde, psiquiatra da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Em casos em que a receita médica é obtida de forma clandestima, os riscos aumentam. “Como não existe avaliação médica prévia, há risco de agravamento de problemas pré-existentes neuropsiquiátricos � como transtorno do pânico, transtorno bipolar, epilepsia – e também clínicos – hipertensão arterial, arritmias cardíacas”, diz Paulo Mattos, psiquiatra da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autor do livro No Mundo da Lua.
Em 2008, a revista científica Nature realizou uma pesquisa informal sobre o assunto junto a 1.400 leitores. Resultado: 20% deles assumiram já haviam ingerido metilfenidato e modafinil com o objetivo de melhorar a concentração e a memória. “O metilfenidato realmente melhora o desempenho cognitivo. É um fato que vem sendo discutido pelos cientistas e já deixou de ser puramente médico, tornando-se uma questão ética”, afirma Marcos Arruda, neurologista pediátrico do Instituto Glia e membro da Associação de Neurologia e Psiquiatria Infantil.
O recente salto no consumo da droga no país – quase 80% entre 2004 e 2008 – teria aí mais uma razão. “Um aumento de vendas do metilfenidato pode estar relacionado ao uso não-médico do medicamento – especialmente num país onde dezenas de milhares de pessoas vivem estudando para concursos públicos”, comenta Mattos.
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