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Negociações entre palestinos e israelenses podem ser muito ambiciosas

Especialistas defendem um acordo provisório antes de um tratado final de paz

Por The New York Times
4 set 2010, 10h13

“Deveríamos ter um plano B”, Oded Eran, diretor do Instituto de Estudos de Segurança Nacional na Universidade de Tel Aviv

Enquanto os dirigentes israelenses e palestinos prometiam, na reunião de cúpula pela paz em Washington realizada essa semana, que tentariam resolver os problemas fundamentais que dividiram por muito tempo seus povos, um número crescente de pessoas em Israel temia que os dois lados estivessem mirando muito alto.

Alguns dos veteranos do processo de paz nos Estados Unidos e diversos especialistas e analistas dizem que a fim de manter o fracasso das negociações afastado, Israel, os palestinos e seus patrocinadores americanos primeiro deveriam apontar uma solução parcial ou provisória, já que as diferenças entre as posições israelense e palestina são muito grandes.

“Deveríamos ter um plano B”, disse Oded Eran, diretor do Instituto de Estudos de Segurança Nacional na Universidade de Tel Aviv, que liderou a equipe de negociadores israelenses com os palestinos de 1999 a 2000.

“Se não se aceita o status quo e não se pode obter um acordo sobre todos os problemas fundamentais, então a alternativa é ir em busca de uma solução parcial ao mesmo tempo em que se tem em mente os objetivos máximos de ambas as partes.”

O apoio a esse enfoque provisório chega de lugares surpreendentes. Yossi Beilin, ex-integrante do Parlamento e o ministro do governo que foi o arquiteto de um esboço extra-oficial em 2003 para um acordo de paz, declarou a jornalistas em Jerusalém, poucos dias antes da cúpula, que aconselharia o presidente Barack Obama que “mudasse o jogo”.

Preocupado que o fracasso total das conversações pudesse deteriorar-se até se converter em violência, Beilin disse que era preferível mirar um acordo provisório, pois do contrário as negociações poderiam ser piores do que negociação alguma.

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Os palestinos rechaçam a ideia de acordos parciais ou provisórios, temendo que Israel não siga adiante. Uma das transferências de controle do território da Cisjordânia negociada como parte do processo de Oslo, na década de 1990, nunca foi implementada.

Hoje em dia, Israel mantém pleno controle sobre 60% da Cisjordânia. Em 2005, se retirou da Faixa de Gaza unilateralmente, e o enclave agora está sob o controle do Hamas, grupo de militantes islâmicos.

Mahmoud Abbas, o presidente palestino, quer um amplo acordo final que estabeleça um estado palestino na Cisjordânia e Gaza, com sua capital em Jerusalém Oriental. De forma similar, quer uma solução para os refugiados da guerra de 1948 e seus descendentes – uma que respeite sua exigência do direito a regressar ao que eram suas casas no que hoje é Israel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que quer um acordo que signifique “o fim do conflito e de reclamações contra Israel” e que assegure a segurança e o reconhecimento palestino de Israel como estado nacional do povo judeu. Em Washington, disse que estava em busca de um “compromisso histórico”.

No entanto, quem exorta a um enfoque mais modesto argumenta que é improvável que Netahyahu, o primeiro-ministro israelense mais conservador que encetou conversações o estado final, ofereça mais que seu predecessor mais centrista, Ehud Olmert. No final de 2008, Olmert propôs uma retirada israelense de 93% da Cisjordânia e troca de terras em compensação. É improvável que Abbas, que não aceitou essa proposta, se conforme com menos.

A fim de tornar mais atrativa a ideia de um trato provisório para os palestinos, seus proponentes enfatizam que se deve incluir nas negociações atuais um acordo sobre o status final. Ehud Yaari, comentarista do Canal 2 de notícias em Israel, argumenta que o país deveria permitir aos palestinos criar um estado tão depressa quanto possível, sem esperar um acordo de paz pleno.

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Yaari propõe um estado palestino dentro das fronteiras provisórias em aproximadamente 80% a 90% da Cisjordânia, o que exigiria a remoção de pelo menos 50 mil colonos israelenses. De forma similar, sugere acordos provisórios para alguns dos outros temas, como uma participação administrativa dos palestinos em Jerusalém Oriental sem resolver necessariamente o tema da soberania, assim como uma compensação antecipada e um pacote de realocação para refugiados que já viviam nos territórios conquistados por Israel na guerra de 1967.

Qualquer trato provisório deveria ser acompanhado por um novo documento de princípios que trace, grosso modo, os contornos de um acordo final, disse Yaari, “ou um enfoque provisório que produza uma drástica mudança no traçado da terra”.

Eran, ex-negociador de Israel, sugere a transferência de toda terra possível da Cisjordânia para a Autoridade Palestina, ao mesmo tempo que adia o tema da criação do estado para um acordo final. No ano passado, Shaul Mofaz, um dos ex-secretários de Defesa e agora integrantes do parlamento pelo centrista partido Kadima, apresentou um plano para um estado palestino com fronteiras temporárias sobre 50% a 60% da Cisjordânia, principalmente em áreas sob controle palestino. Isso foi descartado por analistas que não consideraram o projeto suficientemente generoso.

Em público, dirigentes palestinos recusam qualquer tipo de enfoque incremental. Saeb Erekat, o negociador-chefe palestino, disse repetidas vezes que depois de tantas rodadas de negociação, é hora das decisões sobre a etapa final. Assim que foi perguntado esta semana sobre a possibilidade de um acordo provisório, o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, SAlam Fayyad, disse: “Não, não. O plano é um estado palestino sobre toda a terra ocupada em 1967”.

Jalil Shikaki, um conhecido analista palestino, disse que um acordo provisório não poderia ser o resultado ou um dos objetivos das negociações. No entanto, à medida que Fayyad segue com seu plano de erguer as instituições e a infraestrutura de um futuro estado palestino, sugeriu Shikaki, Israel poderia transferir mais território ao controle palestino. “Então, de maneira gradual, o que se terá é um estado sem fronteiras provisórias”.

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