Argentinos fazem votação histórica para eleger novo presidente
A partir das 19h30 serão divulgados os primeiros resultados. O segundo turno, disputado entre Macri e Scioli, dará fim a 12 anos de presidência do casal Kirchner
Os argentinos acordaram neste domingo para um pleito histórico: pela primeira vez, vão escolher o presidente no segundo turno das eleições. Ao todo, 32 milhões de pessoas foram convocadas às urnas para escolher o novo ocupante da Casa Rosada a partir do dia 10 de dezembro.
Os institutos de pesquisa de opinião da Argentina dão vantagem ao candidato de centro-direita Mauricio Macri, sobre o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória (FPV). Os primeiros resultados da apuração sairão a partir de 19h30 e, às 22h30, é aguardada a definição da disputa.
No pleito realizado em 25 de outubro, Scioli obteve 36,8% dos votos, contra 34,3% de Macri. O resultado levou a disputa para o segundo turno, contrariando as pesquisas que apontavam uma definição logo no primeiro turno. E a surpresa veio também com a virada na campanha. A última estimativa para domingo da consultoria Management & Fit dava a Macri 46% dos votos, contra 40% de Scioli no segundo turno. A incerteza fica por conta do grande número de indecisos: cerca de 10% dos 32 milhões de eleitores argentinos.
“Dia histórico” – Ao votar em um colégio de Buenos Aires, Macri afirmou que este domingo é “um dia histórico”, que representa “o começo de uma nova etapa na Argentina”. Acompanhado por sua esposa, a empresária Juliana Awada, o candidato conservador disse estar “feliz, mas tranquilo”. “Amanhã, aconteça o que acontecer, vamos estar todos juntos”, disse Macri, enquanto uma multidão de simpatizantes gritava: “Se sente, se sente, Mauricio presidente”.
“Tenho fé” – Pouco ante das 9h30 (hora local), um sorridente Daniel Scioli depositou seu voto com dificuldade, ante o assédio de numerosos jornalistas. “Espero com as melhores expectativas a decisão do povo argentino”, declarou. O candidato da Frente para a Vitória foi às urnas acompanhado de sua esposa, Karina Rabolini, e de sua filha. “Hoje o povo vai ganhar, ganham as pessoas. Tenho muita fé e confiança”, disse.
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Doze anos do casal K – A presidente Cristina Kirchner também já votou. E instou os eleitores a votar “com memória”. “O futuro será o que os argentinos quiserem. Que os argentinos definam com memória e a certeza de que nada é para sempre. É preciso refletir sem ódio, sem rancor, com amor e alegria, mas que a alegria não nos faça esquecer o que se passou”, disse a governante na cidade de Río Gallegos, na província de Santa Cruz. Cristina defendeu “o salto qualitativo” dado pelo país durante os 12 anos de gestão kirchnerista e pediu à cidadania “que lembre onde estavam e como estavam em 2003”, quando seu marido e antecessor no cargo, Néstor Kirchner, assumiu a presidência.
Desde que Néstor Kirchner assumiu a Casa Rosada, a Argentina adotou uma série de medidas protecionistas, aproximou-se dos países bolivarianos e se voltou contra veículos de imprensa independentes. Nenhum dos candidatos hoje na disputa dá sinais de que manterá esse estilo de governo, apesar dos 40% de aprovação de Cristina Kirchner entre a população. Com uma inflação extraoficial de 20% a 30%, o país parou de crescer a taxas de 8% como no melhor período dos governos do casal. O consumo permanece alto, mas o nível real da pobreza no país é motivo de polêmica.
Economia – Contudo, o que tem se observado durante as campanhas dos dois candidatos é uma disputa entre dois modelos econômicos distintos. Macri propõe abertura de mercado e a fixação do valor do peso “pelo mercado”, enquanto Daniel Scioli o acusa de incentivar uma “mega-desvalorização” da moeda local e insiste na liberação progressiva da banda cambial. “A Argentina está sob pressão para desvalorizar o peso, o que deve ser feito independente do vitorioso. O país terá de negociar um retorno ao mercado de capitais internacional”, diz o professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFRGS, Rodrigo Stumpf González.
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Apoiado por Cristina, o peronista moderado Scioli se apresenta como a continuidade da gestão que já dura mais de uma década, mas que, diferentemente dela, tem boas relações com os mercados e o empresariado. O candidato e atual governador da província de Buenos Aires afirma que corrigirá o rumo do governo, mas sem cair nas políticas liberais, que, segundo ele, representam uma “volta ao passado”.
Macri se apresenta como a “verdadeira mudança”. Já afirmou que quer melhorar as relações com os países vizinhos e impulsionar o Mercosul, acelerando acordos com outros blocos, como a União Europeia. “A eleição do Macri representa uma mudança no pêndulo ideológico da América Latina”, diz Marcus Vinicius de Freitas, professor de Relações Internacionais da FAAP.
O presidente eleito neste domingo tomará posse no próximo dia 10 de dezembro.
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(Da redação)