Vaticano nega interceptações telefônicas generalizadas
Porta-voz Federico Lombardi disse que 'não há fundamento' em reportagem publicada por jornal italiano afirmando que interceptação durou mais de um ano
O Vaticano negou nesta quinta-feira a existência de interceptações telefônicas “na dimensão descrita nos últimos dias”. O porta-voz padre Federico Lombardi também afirmou que “não há nenhum fundamento na realidade” as notícias indicando que as interceptações criaram uma atmosfera de desconfiança que poderia afetar o conclave para a eleição do sucessor de Bento XVI.
O jornal italiano Panorama publicou reportagem nesta quinta-feira afirmando que, durante mais de um ano, correspondências, telefonemas, reuniões foram meticulosamente colocados sob observação, por ordem do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. A interceptação teve início, segundo o jornal, depois do vazamento de documentos secretos do Vaticano, escândalo que ficou conhecido como Vatileaks. E continuaria até hoje, já que, formalmente, a investigação sobre o Vatileaks ainda não foi concluída.
“Não houve nenhuma atividade de interceptação e vigilância na dimensão e como descrita nos últimos dias”, disse o porta-voz. Segundo ele, no entanto, podem ter ocorrido dois ou três casos de escuta, com autorização da Magistratura do Estado do Vaticano, ressaltando que a vigilância foi “de pequena dimensão” e não em larga escala.
Mais explicações – Esta não foi a primeira vez que o porta-voz do Vaticano precisou dar explicações sobre informações divulgadas pela imprensa italiana relacionadas ao Vatileaks. Na última semana, ele negou qualquer relação entre a transferência do subsecretário de estado Ettore Balestrero para a Colômbia e o vazamento de documentos secretos.
A transferência foi tratada oficialmente como uma promoção pouco depois da divulgação de trechos de um relatório encomendado por Bento XVI a três cardeais de sua confiança, sobre o Vatileaks. O documento, determinante para a renúncia do papa, traz informações sobre transações ilícitas no Banco do Vaticano, realizadas com o conhecimento do cardeal Bertone, integrante do conselho de administração do banco.
Balestrero, apontado como figura próxima a Bertone, foi chefe da delegação da Santa Sé para o Moneyval, órgão do Conselho Europeu que supervisiona a aplicação de padrões internacionais de transparência financeira.
O relatório também conclui que altos integrantes da Cúria eram chantageados por homossexuais beneficiados com dinheiro da Igreja.
Renúncia – Os últimos dias do pontificado de Bento XVI também tiveram outras turbulências, como a renúncia do cardeal Keith O’Brien, arcebispo de St. Andrews e Edimburgo, após ter sido acusado de “comportamento inadequado” por outros religiosos na década de 80. Ele seria o único representante britânico no conclave para escolher o novo papa.
Também houve uma movimentação para que o cardeal e ex-arcebispo de Los Angeles Roger Mahony, acusado de ter acobertado o escândalo envolvendo padres acusados de pedofilia na década de 1980, não participasse do conclave.