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Opositores apostam em união contra carisma e autoritarismo de Chávez

Eleitores vãos às urnas, neste domingo, escolher 165 representantes para a Assembleia Nacional

Por Mariana Pereira de Almeida, de Caracas
26 set 2010, 10h30

Depois de boicotar as eleições legislativas de 2005 e ficar cinco anos à mercê das vontades de Hugo Chávez que passou a controlar a Assembleia Nacional, a oposição venezuelana decidiu mudar de estratégia. Apesar de o motivo para o boicote ser legítimo – denúncias de fraudes e de violação das urnas eletrônicas – as consequências foram terríveis para o país. Com a crise econômica mundial e a diminuição do fluxo de petrodólares, que sustentavam sua política clientelista, Chávez se tornou ainda mais autoritário. Razão suficiente para, desta vez, a oposição reagir, apesar das novas tentativas chavistas de sufocá-la, mudando a representatividade dos estados e fazendo campanha desleal. Para as eleições legislativas deste domingo, 18 partidos e representantes da sociedade civil se uniram e formaram a coalizão “Mesa de Unidade Democrática” (MUD).

Desde que resolveu se juntar, a oposição vem ganhando espaço no cenário eleitoral. “A grande realização foi chegar a uma unidade que vai além dos partidos. Há nove meses não se acreditava nisso porque o grupo é muito heterogêneo”, diz a candidata independente, com grandes chances de se eleger, Maria Corina Machado. O termômetro para a sua popularidade está nas ruas. Na última quinta-feira, ela foi interpelada por populares ao chegar na cidade onde participaria do encerramento da campanha. O evento, realizado no estado de Miranda, ao lado do distrito federal, contou com milhares de partidários, ávidos por mudanças.

Para o cientista político da Universidade Central de Caracas, Ricardo Sucre Heredia, a oposição está mais organizada e estruturada. “Essa aliança tem funcionado de maneira mais sistemática desde março de 2009. O objetivo dela é oferecer uma proposta eleitoral para ganhar maioria na Assembleia Nacional e ter uma representação importante na Casa”, afirma o especialista em Psicologia Social, que participa da coordenação executiva da MUD. “Eu creio que a oposição entendeu que foi um erro se retirar das eleições de 2005 e, a partir de 2006, os políticos retomaram o caminho”, opina Heredia.

Antonio Ledezma, oposicionista de Chavez na Venezuela
Antonio Ledezma, oposicionista de Chavez na Venezuela (VEJA)

Autoritarismo – Apesar das consequências desastrosas para o país e das dificuldades que tem enfrentado em seu trabalho, o governador oposicionista do distrito capital de Caracas, Antonio Ledezma, entende o boicote realizado por seus colegas. “A oposição exigia mais transparência no processo eleitoral. Contudo, este é um capítulo que está fechado, agora vamos olhar para o futuro”, diz.

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Nos últimos dois anos, o político tem sofrido na pele o autoritarismo de Chávez. “A experiência de ser um governador de oposição é traumática”, conta. “Chávez muda as regras do jogo. Ele tirou poderes, como o de gerir hospitais e a polícia, do governo do distrito e os passou ao governo federal. Nós regredimos a um processo de autoritarismo e centralização”.

Como em todo regime autoritário, além de “tentar demolir a oposição” – como ele mesmo disse, esta semana – Chávez intimida a população.”Está ocorrendo uma coisa terrível. Funcionários públicos, pensionistas, membros das forças armadas temem ser castigados, se não votarem com o governo”, relata Maria Corina. ” Estamos falando de mais de cem milhões de pessoas que dependem do estado, de um total de 17 milhões de eleitores”.

Carisma – O ditador, no entanto, tem o carisma de outros líderes do mal que marcaram a história. “Como um líder carismático, Chávez domina muito bem a simbologia e boa parte do país aceitou a ideia de um mundo mais restritivo e de mais escassez”, diz Heredia. “Trata-se de um modelo controlado, uma sociedade parecida com a de Cuba”, completa.

Mas, para o cientista político, a capacidade do caudilho de aglutinar fieis seguidores à sua volta (os seus partidários o chamam de “meu comandante” e se referem aos opositores como “esquálidos”) vai além das suas características pessoais. Heredia acusa Chávez de clientelismo e populismo, ao iludir os venezuelanos com financiamentos de carros e eletrodomésticos, disfarçados de “presentes”.

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“Pessoas temem ser castigados, se não votarem com o governo” relata Maria Corina Machado, candidata independente venezuelana (VEJA)

O especialista diz, contudo, “que os líderes carismáticos do nosso século não são ilimitados”, segundo a Psicologia Social. “Eles assinaram um tipo de contrato de serviço: eficácia em troca de apoio. E o grande calcanhar de Aquiles de Chávez hoje é que ele não faz um governo eficiente e não dá resultados satisfatórios para todos. Então, esta é a maneira de combatê-lo, oferecendo novas alternativas”, explica.

Decadência – Para Ledezma, as atuais eleições legislativas podem reduzir o poder do chavismo. “Isso pode significar a decadência de um projeto autoritário”, diz. “Para mim, a transição na Venezuela já começou e não pode ser parada”, acrescenta Maria Corina. “O processo deste domingo é um passo fundamental, mas só um passo. Você já sente a transição nas ruas”.

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