“A pesquisa reflete um valor nacional, algo que está escrito na Constituição”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli
Ao longo desta semana, VEJA.com realizou uma enquete para saber se o próximo governo brasileiro deve manter a atual postura de leniência da administração Lula em relação a atos antidemocráticos de nações como Venezuela e Cuba – que há anos avançam contra as liberdades individuais de seus cidadãos. Segundo a pesquisa, metade dos leitores acha que o próximo governo deve expressar publicamente seu repúdio a práticas como a prisão de opositores políticos, como em Cuba, e a censura a jornais, na Venezuela.
“É claro que nós não devemos ser a consciência do mundo. Mas em algumas situações, principalmente envolvendo os nossos vizinhos, o Brasil deve condenar tais ações”, diz Luiz Felipe Lampreia, ministro de Relações Exteriores do governo de Fernando Henrique Cardoso. “Às vezes, ficar em silêncio é compactuar”.
No caso de Cuba, o presidente Lula ignorou neste ano o apelo de 50 presos políticos que pediam que o brasileiro advogasse em favor do grupo, detido por um ato considerado crime na ilha: discordar da ditadura castrista. Pediam ainda um ato de piedade em relação a Orlando Zapata. O dissidente, que estava em greve de fome havia 80 dias, morreu em seguida. Ao falar, Lula comparou os perseguidos pelo regime a prisioneiros comuns detidos em cadeias de São Paulo. Nesse caso, teria sido melhor calar.
Sob a batuta de Lula, o Itamaraty também silenciou quando o assunto são os atropelos de Hugo Chávez – pródigo em abusos. Nem a censura à imprensa nem o uso desenfreado da máquina estatal visando a perseguição de adversários políticos sensibilizou o senso democrático da diplomacia brasileira. É assunto doméstico venezuelano, falaram as autoridades brasileiras, nas poucas vezes em que resolveram comentar o assunto.
Em segundo lugar na enquete, 34% dos leitores de VEJA.com acham que o próximo presidente do Brasil deve influenciar outros países rumo à democracia. Seria uma guinada em relação à atual política externa. E poucos participantes da sondagem acreditam numa reação extremada, como romper relações com essas nações (11%) ou ignorá-las (5%).
Reunindo-se todas as posições, poderia-se chegar a uma conclusão: os leitores estão preocupados com o exercício da democracia e repudiam os afagos a ditadores. “Um dos artigos da Constituição diz que as relações externas do Brasil devem ser regidas pela promoção dos direitos humanos”, lembra Demétrio Magnoli, sociólogo e membro do Grupo de Análises da Conjuntura Internacional, da Universidade de São Paulo (USP). “Logo, o resultado da pesquisa reflete um valor nacional”.