Filhos de Sakineh fazem um apelo em favor da mãe
Eles contam que sua vida se transformou em uma tragédia e temem pelo futuro
Em uma carta publicada nesta sexta-feira pelo jornal francês Le Fígaro, os filhos da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani, Sajjad e Saeideh Ghaderzadeh, fazem um apelo em favor de sua mãe, após a exibição de uma entrevista pela TV estatal do Irã na quarta-feira. Sakineh, de 43 anos, foi detida e condenada à morte por adultério e participação na morte do marido – o que gerou revolta e manifestações por todo o mundo.
Sajjad e Saeideh questionam o objetivo das entrevistas – que dizem ser encenadas – e falam que as autoridades de Teerã jogam com a vida de Sakineh e com a reputação de sua família: “Nós não sabemos o que se passa por trás das cortinas. Por que tantas entrevistas e por qual razão? Por que precisamos nos esconder? Onde está a justiça? Quantas entrevistas falsas acontecerão?”, perguntam.
Ao longo da carta, os filhos repetem várias vezes que estão cansados de passar tanto tempo lutando sozinhos, a chorar. Em alguns trechos, se dirigem à própria mãe, lembrando que há anos não podem contar com seus braços para acolhê-los. Eles chegam a questionar por que continuam a viver e se comparam com outras crianças, felizes porque vivem ao lado de seus pais.
“Nossa vida se transformou em uma tragédia. Talvez um funcionário do governo tivesse razão ao dizer que, mesmo se nós encontrarmos nossa mãe, ‘eles’ nunca vão nos deixar em paz. O mundo se ocupa apenas da libertação de nossa mãe, não com nossa vida em si”, lamentaram. Sajjad e Saeideh terminam o texto implorando para que continuem a pensar neles e em todos os prisioneiros no Irã, principalmente aqueles que não conseguem se defender e são inocentes.
Vídeo – Na quarta-feira, uma emissora iraniana exibiu a entrevista de uma mulher apresentada como Sakineh Mohammadi-Ashtiani, que negou ter sido agredida ou torturada na prisão. A mulher, que tinha a cabeça coberta por um xador, negou ter sido agredida depois da publicação, em 28 de agosto, de uma foto pelo jornal britânico The Times de uma mulher sem véu que seria Sakineh. A foto era falsa e o jornal pediu desculpas.
Sakineh Mohammadi-Ashtiani, 43 anos, foi condenada em 2006 a 10 anos de prisão pelo suposto envolvimento no assassinato do marido, ao lado de um amante, e ao apedrejamento até a morte por acusações de adultério. A “suspensão” da pena de morte foi anunciada oficialmente em 9 de julho pela justiça iraniana e, desde então, reafirmada com frequência por várias autoridades do país, em resposta a várias iniciativas diplomáticas realizadas para obter clemência.