Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Davos em 2020

Por The International Herald Tribune
29 jan 2011, 14h08

Imagine que estamos em janeiro de 2020.

Boa parte de encontros de negócios internacionais foram substituídos pelos encontros virtuais da segura plataforma de mídia interativa iPowow. Mas um encontro anual continua firme e forte.

A visita surpresa do presidente americano ao Fórum Econômico Mundial já começou mal.

Não foi só a Dagong Global Credit Rating, empresa da China, que reiterou seu rating B para o Tesouro Americano esta semana. A Litchi, empresa que antes era conhecida como Apple, ofereceu dim sum no lugar de hambúrgueres em sua bem frequentada recepção em Davos.

Fontes disseram que o presidente Bill Gates saiu com raiva de uma tensa reunião com investidores em Davos, furioso pois até mesmo os banqueiros de países da Convenção da União de Paris que não utilizam mais o euro exigiram um ágio de 10% sobre a dívida americana.

Continua após a publicidade

Gates, antigo empreendedor, filantropo e sempre presente em Davos, deu um tempo da feroz campanha eleitoral rugindo em casa numa aposta de despertar interesse nos investidores estrangeiros e virar a página após uma década prejudicada por tumultos e quase inadimplência. “Os Estados Unidos estão de volta aos negócios.”

Seis meses depois de a China ter se tornado oficialmente a maior economia do mundo, representantes americanos insistiram em dizer que as coisas estavam indo bem para a nação superpoderosa que um dia já foi imbatível.

“Ser o segundo lugar é muito mais fácil”, disse um dos assessores presidenciais. “Temos alguma tropa sobrando para ajudar na segurança da fronteira da China com a Índia? Não.”

A dívida americana caiu para 110% do produto interno bruto, descendo do topo de 150% entre 2014-15, quando os Estados Unidos por pouco evitaram a reestruturação e fizeram uma retirada apressada do Afeganistão. Os protestos de jovens em 2016, que ajudaram Gates, com 64 anos de idade, a tomar posse como candidato independente mobilizando votos de idosos e intensificando a animosidade entre democratas e republicanos, estão começando a desaparecer das manchetes enquanto o desemprego entre jovens adultos parece ter finalmente diminuído.

Continua após a publicidade

Levou algum tempo, mas depois que as zonas do euro foram reduzidas há cinco anos a um núcleo germânico com seis membros e meio (incluindo o norte da Itália) – levando o euro a recordes de alta – as exportações americanas tiveram um retorno memorável. A equivalência com o yuan também ajudou.

A China vem monitorando de perto a queda do dólar, cobrando de Washington que mantenha sua moeda dentro das fronteiras acordadas pelos países do G-40, presa ao Direito de Saques Especiais do Fundo Monetário Internacional. O FMI, realocado para Pequim de acordo com seu estatuto de fundação quando a China tornou-se o maior acionista em 2018, não teve de impor nenhuma sanção aos membros desde então. Mas o diretor executivo do fundo, Zhu Min, disse em Davos esta semana que não hesitaria em fazê-lo.

Outros disseram que a fraca moeda americana estava atravessando uma longa caminhada para dar fim à dolorosa deflação que havia transformado o consumidor americano que um dia já foi mão aberta em um sovina ao estilo de Benjamin Franklin.

“Você só precisa estudar a história antiga da Alemanha e a história recente da China para entender que não há nada mais importante que a estabilização dos preços”, disse Axel Weber, presidente do recém-independente Banco Popular da China, durante o discurso de abertura da noite. “Só existe uma coisa pior que inflação, e é a deflação.”

Continua após a publicidade

Após uma leve mudança no rumo do Banco Central Europeu, onde ele presidiu o desmanche da zona do euro, Weber foi ultrapassado por uma liderança chinesa que lutava para domar a inflação no mesmo ano em que a China Investment Corp. comprou a Renault-Nissan e se tornou líder mundial em carros elétricos.

Por causa de toda a controvérsia financeira, o clima em Davos esta semana entre executivos chineses, indianos e brasileiros que agora pagam a maior parte das contas foi notavelmente aquecido. Quase tão quente quanto a previsão do tempo.

No janeiro mais quente já registrado, manda-chuvas da política e da indústria circularam pela Davos Promenade sem neve alguma usando roupas de verão, enquanto uma delegação de Novos Ludistas armavam suas barracas nos jardins do recém-remodelado Congress Center, que parece receber uma repaginada na fachada a cada dez anos.

Uma única pista de ski estava funcionando, com neve artificial, um oferecimento da Tata-G.M.

Continua após a publicidade

Entre os 2.500 líderes que estavam lado a lado com Gates esta semana figuravam o presidente Vladimir Putin, que no meio do seu quarto mandato está fazendo lobby para a entrada russa na OTAN em meio ao temor de que a China anexe o território despovoado do leste. A antiga estrela do rock Bono, que agora é consultor dos países da poderosa FACE (Exportadora de Alimentos e Comodities) também esteve presente, bem como a dona do estúdio bollywoodiano Angelina Jolie, e seus 16 filhos.

Daniel Cohn-Bendit, eleito presidente da França por uma plataforma que funde França e Alemanha e ganhou a volta à zona do euro, um esforço até então rejeitado por Berlim, teve de cancelar sua presença de última hora para tratar das greves por todo o país contra um projeto de lei que pretende aumentar para 75 anos a idade para aposentadoria.

Em seu discurso de boas-vindas, Klaus Schwab, de 81 anos, fundador do Fórum Econômico Mundial e o primeiro receptor de um transplante cerebral, ressaltou que continua engajado em melhorar a situação mundial mais do que nunca e pediu a todos os presentes que refletissem sobre o convincente tema em Davos este ano: “Mudança e continuidade”.

As opiniões em Davos divergiram se a economia mundial estava a caminho de uma década menos desordenada.

Continua após a publicidade

Joseph E. Stiglitz, que acaba de publicar seu último livro, Saindo do buraco, demonstrou esperança de que os Estados Unidos possam ao menos reverter sua queda parcialmente no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, para vigésimo quinto lugar.

Timothy Garton Ash, estudioso de Oxford, afirmou que a pior parte da década de austeridade europeia já havia passado, porém havia reduzido radicalmente o bem-estar social.

Daiel Yergin, chefe da Associação de Pesquisa em Energia de Cambridge – que agora tem seu escritório geral em São Paulo – saudou o fato de que a tecnologia havia ultrapassado a falta de energia e levou o preço do petróleo ao valor mais baixo da década. Mas, não surpreendentemente, Nouriel Roubini, o economista cujo apartamento de Nova York agora custa apenas metade dos 5.5 milhões pagos por ele em 2010, não compartilhou de tanto otimismo: “Tudo vai indo terrivelmente errado”, resmungou ele.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.